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LUCCA

Chego no Brasil amanhecendo o dia, foi complicado mas consegui um voo de última hora. Estou me sentindo enjoado e bastante cansado, meu corpo implora por uma cama mas saio do aeroporto e só vou de taxi até em casa pra deixar as malas e pegar o carro, em seguida vou ao hospital. Senhor Alfredo apesar de também ser idoso dormiu no quarto com meu avô, eu me senti culpado ao ver seu corpo encolhido numa poltrona e meu avô dormindo serenamente na maca ao lado. Fico aliviado ao o ver e me aproximo e dou um leve beijo em sua testa, ele acorda com o meu gesto.

_ Lucca..

_ Vô, desculpa não queria te acordar.

_ O que está fazendo aqui? Não precisava ter vindo.

_ É claro que precisava. Quer arte estava fazendo pra se estabacar no meio da lama?

Falo meio ofegante, ainda não estou me sentindo bem.

_ Você está bem meu neto? Está pálido, mais branco que essas paredes.

_ Eu estou bem... só cansado mesmo, foram mais de treze horas de viagem, e eu estava bastante preocupado.

Ouço um pigarrear atrás de mim e vejo que o senhor Alfredo acordou.

_ Bom dia Alfredo. Obrigado por ter ficado com meu avô. Deve estar com o corpo todo dolorido né?

_ Bom dia, eu estou bem. Nada que eu comprimido pras junta não resolva.

_ Quem não está bem é esse garoto, olha pra ele, parece que vai desabar a qualquer momento diante de nossos olhos.

_ Que exagero vô! Eu ja disse que estou bem, o doente aqui é o senhor e eu quero saber direitinho o que aconteceu.

_ Esse teimoso estava caminhando no terreno no meio da lama sem a bengala, caiu por cima dos ovos que tinha ido apanhar no galinheiro.

_ Velho fofoqueiro.

_ E o senhor é um velho teimoso, use a bengala quando for sair pra fora, ainda mais depois de uma chuva.

_ E você coma alguma coisa senão usarei a bengala pra te dar uma lição, já basta eu numa cama de hospital.

_ Eu vou até a cantina e trago um café pra ele.

_ Trás café, pão e o que tiver lá, use o meu cartão.

_ Sim. Eu não demoro.

_ Vô, deixa que eu pago.

_ Você já me paga o plano de saúde não me custa de pagar o café da manhã, e vai comer em minha frente até voltar a ficar com cor de gente normal.

Dou mais um beijo nele e me sento onde Alfredo estava dormindo.

_ O que o médico disse?

_ Disse que foi só uma fratura na perna, a bacia só irá doer por alguns dias mas não é nada preocupante. Acho que ainda hoje estarei de alta.

_ E vai pra minha casa..

_ Não precisa..

_ Se o senhor não for eu irei pra sua, não vai se livrar de mim tão cedo, também não irei desgrudar do senhor até te ver bem.

Ele bufa contrariado mas não ligo. Ainda bem que o quarto de hóspedes lá de casa está sempre arrumado e de lençóis limpos. Alfredo volta e tomo meu café, meu avô fica satisfeito ao ver que como tudo e não deixo sobrar uma migalha na bandeja.

O médico da alta pra ele no final da tarde e vamos pra minha casa, o senhor Alfredo já havia voltado pro sítio no final da manhã e retornado com uma malinha pro meu avô. Instalo meu avô no quarto de hóspedes e o auxílio no banho, como eu e ele estamos cansados peço comida pra jantarmos e depois cada um se recolhe em seu quarto, eu deito na cama e já apago, mas acordo de madrugada suando e absurdamente salivando com vontade de comer um X tudo com bastante mostarda, daquelas bem azedinha. Eu jantei cedo e logo dormi, faz tempo que não como um bom fast-food. Me levanto e vou dar uma olhada em meu avô, ele dorme pesado então pego celular, carteira e chave do carro e vou atrás de uma barraca de lanche, entrega a essa hora não tem mesmo.

Encontro uma barraca numa esquina perto de uma boate e paro o carro, peço pro moço caprichar na mostarda pra mim e fico salivando só com o cheiro do lanche, ele termina o lanche eu pego uma latinha de coca cola pago e como no carro mesmo, a vontade era tanta que eu não iria aguentar chegar em casa. Chego em casa dou mais uma olhada no meu avô que ainda dorme na mesma posição que estava e só então vou pro quarto escovo os dentes e caio na cama pra apagar em segundos. Acordo com o dia já claro e me assusto com o enjoo forte que me pega, só dá tempo de levantar e correr pro banheiro, abro o vaso e vomito tanto que chega a arder o estômago. Que porra é essa? Aquele lanche estava estragado?

Puxo a descarga e vou escovar os dentes, me deparo com o meu avô entrando assustado com a sua bengala em meu banheiro.

_ Lucca? O que aconteceu? Está passando mal? Meu Deus, você está muito branco, chega a estar  transparente..

_ Eu tô bem vô, só acho que comi um lanche estragado de madrugada.

_ Que lanche?

_ Acordei de madrugada com fome e sai pra comer um lanche, mas eu voltei logo.

_ Desde quando você sai de madrugada pra comer porcarias?

_ Foi só ontem vô, eu estava viajando então não tem nada pra comer em casa, aliás preciso ir ao mercado.

_ Tem certeza que foi isso meu neto?

Meu avô me pergunta cauteloso e eu olho pra ele esperando ele concluir o que quer dizer.

_ A quanto tempo anda passando mal?

_ Só hoje vô, foi o lanche.

_ Tem feito aqueles testes de gravidez?

Ele me pergunta na lata e meu coração ja acelera, eu não estou grávido. Tentei por ininterruptos oito meses e nada, agora que desisti engravido? E não, eu não posso nem pensar em fazer teste de gravidez pois se eu ver mais um resultado negativo eu surto e nem uma cartela inteira de tarja preta irá me ajudar pois sinto que nunca mais irei me recuperar.

_ Eu não tenho nem transado vô.

_ Você disse que teve uma recaída com o Luis.

_ Mas eu não estou grávido...

Eu falo já chorando sentindo uma crise se aproximar. Droga!

_ Calma meu neto, não precisa ficar assim, só achei estranho você passar mal.

_ .. eu estou em processo de divórcio com o Luis, e eu não estou grávido.

_ Claro. Desculpa o vô. Tome um banho, vou te esperar na sala.

Eu balanço a cabeça confirmando e meu avô sai do banheiro, com as mãos tremendo eu as coloco em minha barriga. Só agora me toco que ela está mais inchada mas ao mesmo tempo sinto que estou enlouquecendo. Eu não quero me iludir novamente e irei pensar o óbvio, eu apenas estou engordando por estar comendo feito um mamute, estou sem o meu remédio e descontando minhas frustrações na comida, é só isso e mais nada. Peço um café da manhã pelo celular e tomo meu banho tentando tirar o que o meu avô falou de minha cabeça.

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