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LUCCA

É claro que Helena decidiu vir ao mundo um mês antes da data marcada para o seu nascimento, ela não seria minha filha se não o fizesse. Luis disse que com dois ansiosos dentro de casa ele ficará de cabelos brancos cedo.

Era um domingo e faltava alguns dias pra eu completar trinta e seis semanas. Luís se levantou e disse que iria a padaria, eu estava com um pouquinho de dor no pé da barriga mas não comentei nada com ele, continuei deitado.

Ele chegou da padaria e foi até o quarto, estranhou eu estar deitado ainda e se sentou na cama comigo.

_ Tudo bem amor?

_ Estou me sentindo cansado, pesado, uma dorzinha chata da barriga também.

_ Quer ir ao hospital?

_ Eu acho que só preciso de um banho quentinho e um pouco de repouso.

_ Você já deveria ter entrado em licença paternidade isso sim, horas sentado em frente ao computador deve ser bem cansativo pras costas e pra barriga também.

_ Isso é mesmo. Mas é a minha última semana, meu chefe até me liberou de ir a redação as sextas a um mês atrás, não quero abusar da vontade dele também.

_ É. Isso foi bem legal da parte dele. Vamos tomar café? Comprei brioche e pão de milho.

_ Você quer me engordar mais ainda isso sim.

_ Você está muito mais gostoso isso sim.

Eu dou risada, Luis é bem safado.

_ Vou tomar um banho primeiro.

Eu vou ao banheiro e ele vai pra cozinha. Debaixo do chuveiro sinto umas pontadas na barriga e minha barriga está bastante dura, mas falta um mês pro meu parto.

Fica na sua Helena, eu não tenho nem roupa pra te parir hoje.

Quero muito ter a minha filha em meus braços, ver o rostinho dela mas ao mesmo tempo estou com muito medo. Será que conseguirei cuidar dela? É um serzinho miudinho que irá depender de mim e Luis pra tudo e não sabe dizer o que precisa.

Termino meu banho e visto uma calça de moletom de Luís e uma camisa dele também, até as camisas dele estão ficando apertadas em mim, estou me virando com o que tenho, até porque depois pretendo voltar a ter um corpo parecido com o que tinha, não adianta comprar um monte de roupas que serão descartadas depois.

Na cozinha pego só um iogurte e Luis estranha.

_ Está sem fome?

_ No momento sim, estou literalmente cheio.

_ Engraçadinho. Ainda está com dor?

_ Estou. E senti umas pontadas no chuveiro.

_ Termine seu café, irei te levar ao hospital.

Eu me assusto.

_ Mas eu... porque Luis?

_ E se a Helena já quiser nascer?

_ JÁ?

_ Sim ué, ela é sua filha.

_ Mas eu não estou... Ai Luis.. minha barriga..

Uma pontada muito mais forte que a primeira.

_ Amor o que você está sentindo?

Pronto a manteiga derreteu. Eu já estou chorando de emoção, medo, pânico, felicidade e sei lá mais o que. Helena está chegando.

_ Dor, pontadas..

Luis me pega no colo e leva direto pro carro dele.

_ Fica calmo tá. Vamos ver o que nossa princesa quer.

Ele está sorrindo e chorando também. Ele me deixa no carro e volta correndo pra pegar a bolsa que preparei e trancar a casa. Coloca o cinto em mim que eu havia esquecido de colocar e segue pro hospital com a mão em minha coxa. Sinto outra pontada e sorrio eufórico, as lágrimas descem mas eu estou com tantos sentimentos dentro de mim, a única coisa que sei é que uma imensa felicidade está sobressaindo. Como Luis está dirigindo eu ligo pro meu médico e coloco no viva voz.

_ Doutor Albuquerque.

Falo assim que ele atende.

_ Oi Lucca. Como está?

_ Com pontadas na barriga, bem abaixo dela.

_ Quando começou?

_ Estava fraquinho de madrugada mas agora está cada vez mais forte, estou com um pouco de dor também.

_ Venha ao hospital, estou de plantão e estarei te esperando.

_ Já estou o levando Doutor. Luís aqui, o marido de Lucca.

_ Bom que está com ele Luis, venham com calma e tranquilidade, estou os esperando.

O agradeço e desligo.

_ Tranquilidade como? Meu coração está saindo pela boca, Helena iria nascer daqui a um mês. E se ela nascer hoje? Agora?

_ Será muito bem vinda amor, e só teremos a certeza que é ansiosa, apressada como você que faz as coisas aos atropelos.

Ele diz rindo. E eu o respondo rangendo os dentes pois nesse momento sinto outra pontada.

_ Eu não sou assim e nem a Helena.

_ Claro amor, desculpa.

Luis fala rindo,

_ Eu quero que entre comigo, eu tenho medo, e se eu apagar e sumirem com a Helena?

_ Tá amarrado Lucca, eu estarei lá.

Chegamos no hospital e doutor Albuquerque já nos espera na porta com um enfermeiro e uma cadeira de rodas.

_ Prontos papais?

Ele pergunta sorridente.

_ Será que ela já está pronta doutor?

_ Vamos ver agora.

_ Eu quero que o Luís entre comigo doutor.

_ E ele vai, mas antes preciso averiguar se não é alarme falso, esses bebês adoram nos pregar peças.

Eles me levam pra dentro e eu me sinto tão vulnerável, sinto novamente as pontadas na barriga e me sento com dificuldade na maca, o doutor mede minha pressão e aperta com os dedos toda a minha barriga. Sorri e olha para o enfermeiro.

_ Fale para o marido dele se preparar, essa mocinha está pronta pra nascer...

Eu sorrio e choro emocionado. Finalmente irei conhecer a minha filha.

_ ... peça pra preparar a sala de cirurgia também.

Esse é o momento que mais esperei em toda minha vida.

_  Sua pressão está estável, mesmo assim terá um cardiologista a disposição na sala de cirurgia conosco. O anestesia irá te aplicar a anestesia e logo você conhecerá o rostinho da sua filha. Pronto?

_ Mais do que pronto doutor, eu esperei minha vida toda por esse momento.

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