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LUCCA

Quando o médico sai da sala e eu e Luis ficamos sozinhos eu não tenho cara pra olhar ele, fico esperando a bronca, o surto, os gritos de ódio mas nada vem. Olho pra ele e ele está me olhando.

_ Desculpa..

Peço já querendo chorar novamente.

_ ... eu fui imprudente e quase... quase sou responsável por uma tragédia em nossas vidas..

Ele abaixa a cabeça.

_ Não vou negar que fiquei muito puto com o que aconteceu Lucca, até por esse motivo procurei ficar calado pra não falar algo que eu me arrependesse e só fiz o que tinha que ser feito quando te achei no chão daquela cozinha. Você foi sim imprudente mss eu não irei brigar com você, acho que esse susto já foi mais do que suficiente pra te dar um pouco de juízo e longe de mim te causar mais aborrecimentos. Só te imploro pra de agora em diante ter o máximo de cuidado possível, por favor.

_ Eu terei. E obrigado por não me julgar. Você meio que sabia que eu estava lá ou foi direto do serviço?

_ Eu estava com uma sensação ruim o dia todo, como você disse eu meio que sabia que você iria se arriscar e adiantar o serviço, quando cheguei em casa e não te vi me desesperei, foi aí que te liguei e você não atendeu, sai correndo na direção certa, ainda bem.

Ele me dá um beijo na testa e pega em minha mão.

_ Você lavou aquela casa toda sozinho. Eu ficaria puto mesmo se tudo tivesse acabado bem, eu sei que você estava se sentindo bem e achou que podia mas você tem muitas limitações e precisa as respeitar mocinho.

_ Farei isso a partir de hoje, eu prometo. Na verdade eu consegui lavar tudo, só fiquei cansado. Tudo correu bem até eu tirar a bota e depois ir atender meu celular que estava na cozinha descalço, eu escorreguei e teria caído com a bunda diretamente no chão se não tivesse dado um jeito de sentar emcima da minha perna. Agora estou aqui, manco, de molho e muito arrependido.

_ Eu te carrego pra todo canto que precisar. Só cuide da nossa neném por favor.

_ Eu vou cuidar, de agora em diante ficarei mais chato que você nos cuidados.

_ Tomara.

_ Você ligou pra alguém?

_ Ninguém. Ligarei pela manhã, queria ligar depois de saber como vocês estavam e agora ja é de madrugada, não quero assustar ninguém com uma ligação a essa hora.

_ Está certo.

_ Dorme um pouco. Descanse.

_ Você também, daqui a pouco você trabalha.

_ Não tem a menor chance de eu ir trabalhar. Não deixarei vocês sozinhos.

_ Luis..

_ Dorme Lucca, você precisa de repouso.

Eu confirmo e tento dormir mas é praticamente impossível, Helena está agitada e não consigo achar uma posição confortável. Luís fica passando a mão em minha barriga num carinho pra ver se ela se acalma mas não dá muito certo, só sei que lá uma hora sou vencido pelo cansaço e durmo que nem vejo. Acordo com o dia claro e Luis tomando uma xícara de café no sofá do quarto.

_ Você não dormiu?

Pergunto pra ele e me sento na cama, ele deixa a xícara de lado e vem me ajudar rapidamente.

_ Dormi. Acordei e fui pegar um café.

_ Estou com fome também..

_ Disseram que já trariam um café da manhã pra você.

_ ... eu quero ir ao banheiro.

_ Vamos.

Ele vai me aparando até a cadeira de rodas pois não consigo nem encostar o pé no chão ainda. Faço xixi, lavo as mãos e retorno pra cama.

_ Você não vai trabalhar mesmo Luis?

_ Irei pedir pra Márci ligar para os meus clientes, não sei quando vou poder ir trabalhar novamente.

_ Como não sabe? Luís pode ir trabalhar hoje mesmo, eu me viro..

_ Da última vez que você disse que se virava viemos parar aqui.

Ok, eu mereci essa lapada.

_ Eu não vou fazer nenhuma loucura e eu estou num hospital. Tem esse treco ao lado da cama, se precisar de alguém eu chamo.

_ Não te deixarei sozinho, nem adianta insistir.

_ Não quer me deixar sozinho aqui ra ok, eu até entendo mas se eu tiver alta você me deixa em casa e vai trabalhar.

_ Você é teimoso mesmo..

_ Não podemos nos dar ao luxo de ficar sem trabalhar e você não pode perder clientes Luis. Temos a casa pra pagar e logo a Helena nasce. Você tem o aluguel do seu pedaço no salão, a sua parte no salário da Márci..

_ Ok eu concordo que preciso trabalhar mesmo. Mas ficarei atento ao celular, me ligue mesmo que ache que seja uma besteira, o salão fica a cinco minutos de casa, eu chego rápido.

_ Eu ligo e tomarei todo cuidado, eu juro. Só me deixa no sofá da sala que fica mais perto do banheiro do corredor e deixe também guloseimas ao meu alcance, eu juro que me comporto.

_ Assim eu espero. Vamos ver se o médico te dá alta ainda agora de manhã. Se formos pra casa te ajudo a tomar um banho antes de ir trabalhar.

_ Tá bom.

E o médico passou logo depois do café da manhã e me deu alta mesmo. Luís me levou pra casa e me ajudou a tomar banho. Me colocou no sofá da sala que é enorme e foi se arrumar pro trabalho. Antes de sair ele ainda cogitou em ficar mas eu o expulsei pro trabalho. Ele deixou frutas, suco, água e alguns doces que gosto ao meu alcance na mesa de centro. Antes de sair ele ainda me dá um selinho e faz cara de cachorro que caiu da mudança, queria aprofundar o beijo certeza, e confesso que eu também queria mas não o encorajei. No banheiro percebi o olhar dele de desejo em meu corpo, e posso dizer que se não fosse a minha insegurança eu teria avançado o sinal e teria deixado ele me tomar ali mesmo, sei la a última vez que Luis e eu transamos eu estava com a barriga chapada, agora estou redondo e com medo que ele me ache feio. Depois de casado nunca fiquei tanto tempo sem sexo, tá difícil aguentar.

Estou com o controle de televisão na mão, meu celular, meu notebook, uma mantinha quentinha, coisas gostosas tudo pra mim, minha filha protegida em minha barriga, enfim... tudo ao meu alcance numa manhã de frio num sábado. O que mais eu posso querer?

Me aconchego mais em minha manta e coloco a mão em minha barriga fazendo um carinho na pessoa mais especial em minha vida. Acabo dormindo e só me levanto do sofá pra ir ao banheiro uma única vez na manhã, ainda bem porque meu pé ainda dói bastante, mas fui e voltei de boa e me aconcheguei novamente no sofá.

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