(3) Pequenas descobertas

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Permaneci com Clarissa por cerca de uma hora. Nossos assuntos variavam entre escola, família e "namorados". Não que eu tivesse um, claro, mas Clarissa era como uma tia para mim, e é incrível como todas as vezes em que as vemos, as tias perguntam: "E os namorados?".

Mas, não me importei, todo e qualquer tema para nossa conversa valia, desde que não tocássemos mais no nome "Jack".

Despedi-me dela com um abraço longo, realmente estava com muita saudade da minha tia postiça. Eram quase 17h quando saí de sua casa. Pensei que era muita sorte ter ido visitá-la num dia em que Jack não estava por perto... Pensar nisso me fez lembrar das palavras de Clarissa...

"Parece ser outra pessoa controlando suas ações".

Jack, dominado? Isso era ridículo. Ele era quem dominava as pessoas!

Mas, numa coisa a mãe dele tinha razão: o garoto mudara da noite para o dia. Algo muito grave devia ter acontecido. Mas o quê?

De repente, tive uma ideia. Okay. Não era muito boa, nem me garantiria com certeza as respostas que almejava, mas era a melhor, aliás, a única opção.

Decide falar com Jack. Peguei meu celular na bolsa e liguei para ele.

— Alô?

— Jack, on...

— Su? — Ele me interrompeu.

Su? Tentei me lembrar há quanto tempo ele não me chamava pelo meu apelido. O que será que ele queria?

— Jack, preciso falar com você...

Houve um minuto de silêncio na linha. E então, um suspiro.

— Eu também. — Respondeu-me por fim.

— Onde você está?

— No Grimes.

— Grimes? Achei que tivesse ouvido você dizer que era um lugar de...

— Susana, por favor... — Interrompeu-me novamente.

Nenhuma exigência, nem grosseria? Estranho.

— Okay... — respirei fundo. — Chego aí em dez minutos.

— Okay.

Foi ele quem desligou. Tudo bem, Jack dizer meu apelido era realmente surpreendente, já que fazia um bom tempo que só me chamava de Susana, ou "querida" daquele jeito imbecil. No entanto, o mais curioso foi que ele não fez nenhuma de suas incontáveis grosserias, nem mesmo elevou o tom da voz ao falar comigo. Claro, ele devia estar maquinando algo, que obviamente eu não faria, mesmo que ele me obrigasse, então apelou para a gentileza.

Lúcia teria que aguentar as pontas mais um pouco. Andei por uns quinze minutos até chegar ao Grimes. O estabelecimento nem se comparava à L.M. -lanchonete de Jack-, o toldo verde musgo estava desfigurado, a tinta bege das paredes do lado de fora estava descascando, assim como a das portas de ferro do comércio, que eram pintadas com um verde pouco mais escuro que o toldo.

Já dentro da lanchonete a realidade era outra, a pintura das paredes parecia ser recente, e a escolha da cor ajudava e muito, um azul celeste, que trazia vida ao lugar, e ao mesmo tempo, paz. Havia cinco ou seis mesas de madeira, com um vasinho de flor com algumas margaridas pequenas e um porta guardanapo em cada uma delas. Não continha nada de muito sofisticado, mas o lugar era bem aconchegante, justamente por sua simplicidade.

Avistei o garoto de cabelo escuro e olhos da cor do mel perto do balcão, parecia estar conversando com o atendente. Sentei-me no banco ao seu lado. O atendente se afastou um pouco, percebendo que Jack estava me esperando.

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora