(17) Fim do acordo

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— Su! Você me assustou! — Disse Ana, sorrindo.

Ela abraçou o desenho que estava fazendo para escondê-lo.

— Achei que os anjos pudessem, sei lá, tipo... sentir quando alguém está por perto.

— Sim, menos quando estamos muito concentrados em outra coisa...

— E essa outra coisa, neste momento, é um desenho de Jack.

— Jack? — Ela franziu a testa. — Ah, sim, Jack. Claro que não. Não é ele que estou desenhando... É... um amigo.

Eu sorri e arqueei as sobrancelhas.

— Claro, um amigo de olhos grandes e brilhantes, pele clara, cabelo escuro e volumoso? Ah, sim, sem contar a barba escassa no queixo! Qual o nome dele? — Cocei o queixo levemente. — Jackson? Hum... Jaxx?

O pequeno anjo revirou os olhos.

— Tudo bem, tudo bem! É ele... Mas e daí? Eu adoro desenhar e...

— E está caidinha por ele. -provoquei-a.

— Não, Srta. Bontempo. — Retrucou, sorrindo.

Tudo bem, eu estava fazendo piada da situação, mas era somente para ser simpática com Ana, para ganhar sua confiança, porque eu precisava dela. Mas a verdade era que eu estava irritada por dentro, simplesmente pelo fato dela estar interessada em Jack. Eu não tinha nada com ele, nunca tivera, mas me aborrecia o fato de saber que tantas garotas ficavam "louquinhas" só de saber que ele estava por perto. Sem contar que Ana era um demônio, e Jack era alguém tão doce, não tinha o menor cabimento.

Do que você está falando, Susana, sua ridícula? Você acabou de beijar Luca! Em sonho, mas beijou.

— Deixe-me ver o desenho de novo. — Sorri para ela o sorriso mais bem feito que consegui criar.

A mão pequena da moça ergueu à minha frente uma folha amarelada, e eu vi. A mesma boca rosada e de contorno perfeito, que era realçada por um largo sorriso bondoso e juvenil. O mesmo cabelo escuro e cheio, cuja cor destacava seus olhos dourados, que sempre me pareceram completamente intensos. Não havia dúvidas. Era ele.

Era Jack.

E estava ali, representado, de forma perfeita- diga-se de passagem- num papel! Ele não estava por perto para me salvar outra vez. Nós não tínhamos mais dez e catorze anos. Éramos adultos, e os riscos daquela situação eram muito maiores. Desejei incontrolavelmente estar com os braços fortes dele me envolvendo. Mas, eu não sabia se isso viria a acontecer novamente. Se eu havia confiado na palavra de Luca? Sim, mas, tinha que admitir, ele nem sabia onde eu estava! As probabilidades de eu conseguir sair daquele lugar eram mínimas.

— Su? — Chamou-me Ana num sussurro.

E me salvou dos meus pensamentos.

— Está perfeito. — Elogiei, e desviei o olhar.

— Acha mesmo?

— Sim. — Respondi, e sentei-me numa das cadeiras altas e envernizadas da cozinha.

— Você só dormiu por umas duas horas. — Ana comentou. — O que aconteceu? Sonhos ruins?

Seria uma estratégia para saber se eu tinha me encontrado com Luca em sonhos? Se sim, ela realmente me subestimava.

— Não... Dificilmente tenho sonhos, bons ou ruins. — Menti, pegando um lápis de cor preto que estava sobre a mesa.

Sem motivo algum, comecei a descascar a tinta que o cobria.

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora