(4) Alucinação?

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Abri os olhos -realmente. Que tipo de sonho fora aquele? Pareceu-me tão real. O pássaro... Naquele instante, percebi, o animal, ou homem animal, não era exatamente uma ave. Tinha asas e penas negras por todo o corpo, exceto pela cabeça, a qual era de um formato peculiar... Mesmo não tendo conseguido enxergar muito bem quanto tinha tentado, essa parte de seu corpo não me havia passado despercebida. Lembrou-me muito a cabeça de um dragão. Sim, possuía grandes presas, que não eram de duvidar serem extremamente afiadas... Além disso, não podia dizer com certeza, mas a textura de sua fronte parecia ser consistente o bastante para ser usada como uma armadura.

Sem pânico. Você já teve sonhos piores quando criança e se saiu bem, não ficou tão amedrontada...

Disse a mim mesma como se ouvir aquilo pudesse me acalmar de alguma forma. O problema era que eu nunca havia tido um sonho tão real quanto aquele. Tateei o criado-mudo ao lado da minha cama, procurando meu celular, e acabei derrubando uma jarra de água que deixava ao meu lado todas as noites. Acendi o abajur para ver o estrago no chão. O objeto se transformara em vários cacos de vidro que ficaram espalhados ao lado da cama.

Tudo bem, limpo isso amanhã.

Sentei-me ereta na cama. Peguei meu telefone. Já eram 4h25 da manhã. Eu tinha aula em algumas horas e já perdera o sono quase completamente. Passei a mão entre os cabelos. Droga. Decidi ir à cozinha beber algo, suco de maracujá, ou um copo de água que fosse, porém, ao levantar o edredom azul de algodão, algo me fez paralisar, realmente entrar em choque: havia uma pena negra no colchão, estava pousada graciosamente ao meu lado. O artefato devia ter, no mínimo, vinte centímetros de comprimento. Soltei um grito agudo e levantei-me depressa, queria fugir dali, refugiar-me no colo do meu irmão, e acabei me esquecendo dos pedaços de vidro no chão.

Scarlett saiu de debaixo da cama, rosnando.

A dor dos meus pés cortados era insuportável, mas não era pior do que meu medo. Passei pela porta, mas acabei tropeçando em meus próprios pés, e se Enrique não tivesse me segurado, era provável que eu teria me machucado ainda mais com a queda.

— Su, o que aconteceu? — Seus belos olhos verdes estavam arregalados.

— Ele está lá... — Apontei para meu quarto. — Temos que sair daqui, Enrique. Agora! — As lágrimas não paravam e, sinceramente, não me importei com elas.

Tudo o que eu queria era fugir daquela coisa.

— Quem está lá, Susana?

Então, notei que havia respingos de sangue no chão.

— Do... do meu... — Eu gaguejava. — O sangue é dos, dos meus pés... Enrique, vamos sair daqui, por favor! — Eu chorava como uma criança e batia em seu peito.

— Fique aqui... — Sussurrou.

Enrique não parecia me ouvir. Deixou-me no chão de forma delicada e se levantou. Começou a caminhar em direção ao meu quarto.

— Não entre aí. Por favor...

Scarlett lambia minha mão, como se quisesse me acalmar.

Ele acendeu a luz e olhou dentro do quarto. Entrou. Eu pude ouvir as portas do meu guarda-roupa se fecharem. Vi que ele olhou debaixo da cama. Aparentemente, não havia nada. Voltou. Ele me pegou no colo, o que, visivelmente, não fora nenhum esforço.

— Não há nada lá, Su. — Sussurrou. — Foi só um pesadelo.

Não sabia o que dizer. Ele entrou comigo no quarto. Olhei ao redor. Realmente, não tinha nada de intimidador. Nem sequer aquela funesta pluma em meu lençol. Havia sido só minha imaginação? Meu medo plantara aquela pena ali? Afinal, como alguém havia entrado em meu quarto com a janela trancada e conseguira enclausurá-la de volta pelo lado de fora? Eu não sabia a resposta para nenhuma dessas perguntas, mas algo me dizia que muita coisa ainda estava para acontecer...

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora