Prólogo

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Narrado por Luca



Aquilo não era um jogo. Era meu trabalho. Eu teria de fazer, mesmo que a presa fosse uma criatura indefesa. Sim, presa. Eu era um caçador agora. E minha caça estava em algum lugar daquela viela deserta.

Achei. Está no escuro.

Pobrezinha. Não sabia o quão capaz era um anjo. Eu a encontraria mesmo sem uma fresta de luz, ainda sentiria a presença dela em qualquer ponto daquele bairro. Naquele instante, senti pena da garota. Tão bonita, tão doce... Mas nada inteligente. Afinal, como pudera refugiar-se num lugar deserto daqueles?

— Ei... Sei que você está aqui. — Sussurrei. — Não tenha medo. Não vou machucá-la.

Ouvi que a respiração da nefilim ficava menos acelerada. Virei-me e vi uma menina, aquela que eu havia seduzido há pelo menos um mês. Tinha sido tão fácil...

— Não tenho medo de você, Luca.

Sorri maliciosamente para ela.

— Então... por que fugiu? Por qual razão se escondeu?

O lábio inferior da moça estremeceu.

— É que...

Com um movimento rápido, eu estava na frente dela. Realmente perto. Segurei seu rosto com umas das mãos em concha. Ela não se esquivou, não esboçou nenhuma reação, na verdade.

— Shhh... Não precisa contar. — Falei num tom baixo. — Não estou mais tão curioso, querida... Agora, estou mais interessado em você.

Os olhos dela, duas órbitas de um azul brilhante, arregalaram-se, no início de medo, depois, de uma ansiedade indomável.

— Luca... — Sorriu.

Ela é tão bonita!

Inclinei-me para beijá-la, ainda segurando seu rosto, afagando sua bochecha rosada com o polegar. Tudo bem, talvez eu pudesse dar a ela um último beijo. Foi apenas um roçar de lábios, e então, enfiei minha espada de lâmina fina em seu abdômen. Dos belos olhos caíam lágrimas, e bem no fundo, notei que a compreensão era quase palpável.

O corpo de Lis, antes delicado -mas não vulnerável-, começou a se tornar um pó azulado. Primeiro os pés e pernas, depois o abdômen ferido, e, por fim, aqueles olhos.

O pó foi espalhado pelo vento em direção ao nada.

Fitei a espada amaldiçoada, agora com sangue inocente.

Não permitiria me culpar. Era aquilo o que eu faria daquele momento em diante.








Feche os olhos, Anjo (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora