(30) Dias de paz

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O restante do dia passou normalmente, acabei demorando para ir à Floricultura, mas fui, pois gostaria de ver como estava. Na verdade, Jack nem sabia que eu havia voltado para São Ângelo, mas isso não era um problema, pois eu tinha a chave da Flores de Monteiro. Dificilmente a loja ficava por mais de quinze minutos sem clientes. Era incrível como as pessoas da cidade eram românticas, muitas compravam rosas vermelhas e cartões de amor. Imaginei se um dia ganharia um buquê ou um cartão de Luca.

A resposta veio em minha mente quase que imediatamente. Não.

Poucos minutos antes de fechar o estabelecimento, um rapaz de olhos claros e cabelos escuros adentrou na loja. Ele estava com a barba por fazer, usava um jeans velho e escuro, e uma camiseta verde-musgo, seu cabelo estava um pouco jogado para o lado.

— Podia ter me avisado que viria ontem.

— Na verdade... viemos domingo.

— Domingo? Seu irmão disse que chegou em casa ontem, pela manhã... Espera, você dormiu na casa dele?

Eu sabia exatamente de quem ele falava.

— Sim, e daí?

— Dormiu com ele?

Fiquei um pouco constrangida.

— Jack, isso não é da sua conta.

— Tem razão, eu devo ser muito idiota por me importar... — Ele revirou os olhos com impaciência.

— Não aconteceu nada.

— E, se tivesse acontecido... bem, não seria da minha conta.

— Não fale assim comigo, sei que está chateado por eu não ter contado que Luca era seu irmão, mas...

— Ele não é meu irmão! — Gritou.

Eu dei um passo para trás.

— Jack... — Sussurrei. — Quero muito que vocês se entendam, mas não fique bravo comigo.

Fui até ele e ergui a cabeça para conseguir olhá-lo nos olhos.

— Não estou com raiva apenas por isso. — Afirmou, encarando-me.

Seus olhos, antes belos e infantis, agora nada passavam de duas órbitas sem brilho.

— O que te deixou assim, então?

Ele riu um pouco, mas não havia humor algum em seu riso.

— Eu te amo, droga!

Paralisei-me nesse momento, ele me encarava, esperando alguma reação, mas eu mal me mexi. A confissão foi direta e conseguiu tocar fundo em meu coração. Eu não sabia o que fazer ou o que dizer.

— Eu... — murmurei.

— Não diga nada. Já me negou uma vez, quando escolheu o Igor. Bom, negou sem perceber, o que acho muito estranho, claro. Como nunca notou o quanto eu sou louco por você, Su?

— Pensei que gostasse de Lisa... Você ficou arrasado quando ela morreu.

Jack foi quem paralisou agora.

— Lisa? Claro que não... — Respondeu num tom baixo. — É você. Sempre foi você. Mas, quer saber? Não importa, não vou ser mais o idiota que fica esperando você me notar de algum jeito. Fique com o Luca, só espero que não se arrependa depois.

— Jack, eu amo você, mas não assim, como você quer.

Eu sabia que isso só o machucaria mais, mas não podia dar nem sequer uma gota de esperança a ele.

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora