(10) Sem saída

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Sede. Fome.

Até quando Devon me manteria presa?

— Por que não me mata logo? — Gritei.

— Não tente demonstrar uma coragem que não tem, Srta. Bontempo.

— Você não sabe nada sobre mim! — Respirei fundo. — Não disse para eu me afastar de Jack? Eu faria isso! Por que me trouxe para cá?

Houve um momento de silêncio, e então a voz de Devon esbravejou pelo pequeno quarto.

— Jack?! Como sabe que Jack é...? Aquele fedelho! — Gritou, depois limpou a garganta, como se estivesse se recompondo. — Acho que terá que ficar presa por um tempo maior do que o esperado, Srta. Bontempo. — Revelou-me com uma suavidade estranha na voz.

Então, seria mesmo Jack o filho do qual ele havia falado? Jack era um... assassino? Devon se enfurecera pelo fato de Jack ter me contado sobre ele, então, como ele esperava que eu me afastasse de seu filho sem saber de quem ele havia falado?

— Não falou sobre... Jack?

— Não, mas agora... tenho que conversar com ele.

Percebi que Devon se enfurecia novamente.

— Não precisa ir atrás dele, eu fico com você... O tempo que quiser. Só... não o machuque.

Havia um nó em minha garganta, causado pela culpa que estava sentindo por ter desconfiado de Jack e pelo medo de perdê-lo. Devon riu histericamente, mas sem humor algum.

— Não preciso ir atrás dele, Srta. Bontempo.

— Como assim? — Murmurei, apreensiva.

— O ponto fraco do menino dos olhos de ouro está em minhas mãos.


                                                                                             ***


Narrado por Jack




Devon deve ter descoberto que contei a Susana! O único lugar que ela pode estar é naquela casa velha... Só espero que não a tenha machucado...

Eu corria em direção à casa de Devon, que era afastada do cento da cidade, mas a corrida de meia hora até a casa velha de meu pai biológico não me cansou, pois, além de eu ser um nefilim, eu precisava salvá-la, poderia correr por horas e ainda assim não descansaria. Parei em frente à pequena moradia de madeira e esperei alguma tempo, a fim de checar se havia alguém por perto ou dentro do local, pois a porta estava escancarada. Olhei ao redor e notei que não havia nenhuma outra residência por perto, então, tirei o que sobrara de uma cerca de arame que provavelmente havia sido útil anos atrás, e entrei no terreno. A grama não era aparada há bastante tempo com toda certeza, perguntei-me mentalmente como alguém era capaz de viver num lugar daqueles.

É deprimente...

Logo que entrei no domicílio, senti o odor de mofo que havia sentido nos outros dias em que havia estado ali. Dei alguns passos pela cozinha velha e ouvi o chão ranger levemente atrás de mim.

Eu não estava sozinho.

Não olhei para trás, pois talvez não conseguiria ver quem era pelo fato da janela estar fechada, deixando o cômodo um pouco escuro. Dois segundos se passaram e fui derrubado no chão, a ponta afiada de uma faca estava posicionada em meu olho esquerdo. O lado direito do meu rosto estava colado ao chão e meus braços, presos contra minhas costas. Olhei de esguelha para meu agressor.

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora