Narrado por Luca
Susana me encarava intensamente, havia algo flamejando em seus olhos cor de avelã... A aréola verde que rodeava sua íris estava incrivelmente brilhante, e seus cabelos pareciam lampejos de fogo de tão intensa que estava a cor.
— O que foi? — Perguntei a ela, notando certa apreensão em seu olhar.
Ela começou a chorar e encarou-me com ternura.
— Não é todo dia que encontramos alguém... — percebi um pequeno sorriso em seus lábios — por quem valha fazer sacrifícios.
Encarei-a nesse momento, sem acreditar no que ela estava prestes a fazer.
— Não... Susana, não!
— Eu amo você... — Sussurrou.
Então, o que eu temia aconteceu. Susana estava em chamas. Eram tantos lampejos dourados e alaranjados que, só por um momento, fiquei paralisado, fascinado com aquela cena... Mas o desespero tomou posse da minha alma, e toquei seu rosto, puxando-a para mim.
— Não! — Exclamei.
Suas chamas me queimavam como se quisessem que eu me afastasse dela. Mas eu não me afastaria! Lá estava meu anjo, desfalecendo-se para não ter de me matar. Suas pernas começaram a se tornar um pó dourado, e depois, seu abdômen, e então, seu rosto se dissolveu completamente em minhas mãos.
Agachei-me, tentando -inutilmente- juntar suas cinzas douradas, mas estas já se espalhavam com o vento por todo o pátio. Fitei o céu, mesmo que eu estivesse no Inferno, sabia que Caleb me ouviria.
— Por quê? — Gritei, ouvindo o som do choro de Ana atrás de mim.
Não me importando com quem estivesse me vendo, comecei a chorar silenciosamente, ainda fitando o céu escarlate.
Subitamente, tive o prazer de ouvir o grito sufocado de Devon, um grito que muito provavelmente rasgou sua garganta, quando este veio a despencar do céu, seu corpo tornava-se uma nuvem negra, que desapareceu, deixando apenas marcas de sua crueldade para trás.
Levantei-me e observei todos ali. Os soldados de Devon continuavam mantendo uma certa distância de nós. Jack abraçava Ana, que chorava como uma criança... Bem, na verdade, ele também chorava, apesar de tentar não demonstrar isso. O demônio Hector, que me deixara confuso por ter nos ajudado, estava encostado numa pilastra, observando-me de longe, parecia tão amargamente triste quanto nós. Não encontrei a irmã de Susana.
Ela deve ter fugido... Covarde.
Luma tocou meu ombro com suavidade. Nessa hora, um homem de cabelos louros e olhos verdes tão intensos quanto os de Lisa, apareceu em nossa frente, ele parecia ter vindo da entrada principal, então, encarou-me com pesar.
— Sabe quem eu sou?
Balancei a cabeça negativamente.
— Lúcifer... O pai de Susana.
— Você a matou quando criou essa maldição! — Esbravejei.
— Não... — Ele sussurrou. — Você a matou quando se apaixonou por ela.
De certa forma... Ele tem razão. Se eu não tivesse aparecido na vida dela, se eu não tivesse me apaixonado por ela... Susana ainda poderia estar viva... Eu deveria ter morrido! Eu sou um monstro, não merecia isso.
— Susana ainda pode voltar? — Perguntou Luma a Lúcifer.
O demônio a olhou como se só a tivesse notado naquele momento.
— Não sei dizer.
— O que faremos... agora? — Ouvi Ana perguntar a Jack.
O nefilim apenas a encarou com olhos tristes. Então, lembrei-me do que Susana havia dito naquela noite.
— Jack? — Chamei-o.
Ele caminhou até mim. Encarei seus olhos e vi nele o mesmo nefilim que eu havia conhecido, o mesmo moleque arrogante... mas ali, naquele momento, percebi que Jack não era só isso, ele era muito mais... Aceitei, enfim.
Jack era mesmo meu irmão.
Notei em seus olhos que ele também aceitara a irmandade. Eu não poderia deixar que a morte de Susana fosse em vão, eu deveria mudar. Ela havia nos unido, afinal. Sem hesitar, abraçamo-nos como se tivéssemos nos reencontrado. Eu sabia o quanto ele também estava sofrendo.
Foi uma sensação esplêndida, é verdade.
— Nunca pensei que um dia abraçaria você, seu moleque. — Disse a ele.
Jack sorriu um pouco, apesar da situação. Eu dei algumas batidas de leve em seu ombro, e tornei a olhar para os outros anjos, eles nos encaravam com uma alegria genuína apesar do momento ser de tristeza.
— Pelo menos algo bom saiu disso. — Comentou Ana.
Respirei fundo.
— Acho que devemos esperar... Quem sabe um dia... — Jack não foi capaz de terminar.
Era doloroso demais para todos pensar que "talvez um dia" Susana pudesse voltar, e não naquele exato momento como queríamos.
Agachei-me para tocar o local onde ela havia se desfalecido.
— Quero que saibam que minha casa estará sempre aberta para todos vocês. — Lúcifer nos informou.
— Não, obrigado. — Respondeu Jack, rapidamente.
Eu estendi o antebraço e virei a palma da mão para cima, e com toda a força que ainda havia em mim, fiz um lírio branco nascer desta, começou com um pó dourado, e então, lá estava uma bela flor pousada sobre minha mão. Observei o lírio por um momento e fechei os olhos. Algumas lembranças de Susana passaram em minha mente como um filme... A primeira vez que eu a vi na lanchonete de Jack, ela estava com o cabelo todo bagunçado. Lembrei-me do nosso primeiro encontro, e da discussão desnecessária que houve depois... Relembrei o sonho em que ela nadou no lago... E quando viu minhas asas e as tocou, sem medo, e não me olhou como se eu fosse o monstro que acreditava ser... ou quando me abraçou tão intensamente, enquanto Jack arrancava minhas asas. Nossa primeira e última noite juntos, que eu jamais me esqueceria... E por último, lembrei-me do olhar de aceitação quando...
Quando você se foi... Você foi minha salvação, Susana.
— Luca... — Chamou-me Jack
— Sim?
O nefilim caminhou até mim e parou ao meu lado.
— Ela não está realmente morta, acredite nisso.
Deixei o lírio cair e o olhei uma última vez, depois, virei-me e comecei a caminhar para fora dos contornos do castelo de Devon... quer dizer, de Lúcifer.
— Tem razão, Jack...
Você viverá para sempre em mim, Susana.
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Uma parte da música "The Power Of Love", essa que escutaram enquanto leram:
"Sonhos são como anjos
Eles mantêm o mau na baía
O amor é a luz
Assustando a escuridão para longe
Eu estou tão apaixonada por você..."
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Feche os olhos, Anjo (livro 1)
FantasyVingança. Essa é a única coisa que possui um lugar especial no coração de Luca, um anjo caído disposto a tudo para se vingar de seus inimigos. Mas, o que ele não esperava ao ir para São Ângelo com o propósito de caçar um de seus adversários, era que...