(12) Ana

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Narrado por Luca




— Como você é burra, Susana! — Esbravejei, cravando os dedos entre os cabelos.

Levantei-me da cama e comecei a inútil tarefa de andar de um lado a outro do quarto, pois, pela primeira vez em séculos, não sabia o que fazer, afinal, não tinha nada em mãos para começar minha busca.

Devon vai matá-la! O que eu vou fazer? Não faço a mínima ideia de onde ela está...

Fui até o baú de madeira que havia embaixo da minha janela e o abri. Busquei em seu interior minha espada e a observei. Seria uma ironia ter de usá-la contra quem a havia fabricado. Permaneci imóvel por alguns segundos, apenas fitando atentamente o artefato, cujo punho era trabalhado em pequenos cristais dourados e, no cabo, continha ainda algo inscrito em azul, porém, completamente ilegível, e eu nunca me dera ao trabalho de perguntar a Devon sobre aquilo. Coloquei a espada em sua bainha, e, desviando minha atenção desta, apanhei uma camiseta qualquer em minha cama, vesti-a apressadamente e, olhando uma última vez para o quarto, saí sem mais demora. Na cozinha, escolhi a maior maçã da fruteira e, saindo casa alugada, comecei a comê-la enquanto caminhava pela larga rua da minha mais nova moradia. A casa que eu havia escolhido era pequena e simples, também longe do centro da cidade, muito eficiente, já que eu não queria me socializar, o que obviamente já não importava mais.

Talvez aquele moleque saiba de outro lugar onde Susana possa estar... Aliás, como ele sabia sobre a casa de Devon? Odeio admitir isso, mas creio que o tenha subestimado... Ele é forte, mais do que um nefilim comum seria.

Passei o polegar em meu lábio inferior, exatamente onde Jack havia cortado, claro que já não havia nem sinal do corte ali, mas eu ainda o faria pagar. Eu caminhava sem rumo algum, tentando me decidir se engoliria minhas palavras procurando por Jack para pedir sua ajuda ou não, quando, de repente, senti a presença de alguém, que estava perto. Perto demais. E não era humano. Dei continuidade à minha caminhada, como se o fato de haver alguém atrás de mim não me afetasse de modo algum, então, logo ouvi sua voz:

— Posso dar uma mordida? — Era uma voz feminina.

Virei-me calmamente para trás e encarei-a. O anjo caído devia ter pouco mais de um metro e meio de altura e era magra. Seu cabelo, ondulado e negro, caía pouco abaixo dos ombros, seus olhos eram grandes e escuros. A pele era extremamente clara, o que deixava muitas de suas veias aparentes. No entanto, apesar da aparência frágil e, ao mesmo tempo, medonha, o que mais me chamou a atenção nela foi o curioso fato de estar com os pés descalços.

— Quem é você?

— Meu nome é Ana. — Ela respondeu sem rodeios e ainda sorriu, revelando dentes pequenos e perfeitamente alinhados. — Onde está indo?

— Por que eu contaria a você? — Debochei, dando as costas a ela.

— Não sabe onde ela está, não é?

Virei-me e fui rapidamente até ela. Estávamos agora ainda mais perto.

— Onde ela está?

— Você precisa achá-la. E rápido.

— Sim, quando você me disser onde devo ir.

Ela começou a andar ao meu redor lentamente e suspirou.

— Temos um problema aqui. Não posso lhe informar nada. Não sou paga para isso... — Parou à minha frente outra vez e sorriu — Sou paga para destruir.

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora