(8) O invasor

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Ficamos algum tempo em completo silêncio. O que aquele quase beijo havia significado para ele?

— Desculpe. — Pedi, finalmente.

— Não peça desculpas por isso... É ridículo.

Encarei-o, mas não disse nada, estava envergonhada o suficiente para me manter emudecida o resto da noite, porém, não fiquei.

— Por que... Por que ia me beijar?

Levantei e fiquei de frente para ele.

— Nunca me perguntaram isso antes. — Ele sorriu ironicamente.

— Você é meu professor, Luca!

— E?

— Você não pode simplesmente me beijar, como se isso não fosse nada de mais... Se alguém visse, seria péssimo para...

— Você queria. — Interrompeu. — Eu sei.

Não prestei muita atenção no que ele disse, mas em seu rosto, com a aba do boné virada para trás, ele parecia um garoto de dezesseis anos.

— Sabe, acho que eu não devia ter vindo. — Respondi por fim.

— Estou começando a pensar a mesma coisa... — Ele se levantou e arrumou o boné, tornando a deixar a aba para frente.

Ficando com a mesma cara fechada de sempre. Não que isso me afetasse de algum modo. Bem, talvez um pouco...

— Bem, então, vou indo...

— Não quer que eu a leve embora?

Virei-me, pois já começara a ir para casa.

— Não.

Luca ergueu as mãos, como se dissesse "Você quem sabe."

Quando ele começou a andar em direção ao lado que tínhamos vindo, decidi ir pelo outro lado, o que era bom, na verdade, pois era um caminho mais curto para minha casa, o único problema era que aqueles arredores da cidade eram um pouco mais isolados -bem mais isolados- daqueles que havíamos percorrido para chegar à praça, mas não iria pela mesma rua que Luca, afinal, nós dois, um de cada lado da rua? Estaríamos atingindo um alto grau de infantilidade.

Só havia alguns postes de iluminação numa rua imensa. Algumas casas estavam com as luzes acesas, mas não era o suficiente, ainda havia uma intensa negritude ao meu redor. Ter ido pelo mesmo caminho que Luca não me pareceu tão infantil assim naquele momento.

Ainda posso voltar...

Nesse instante, ouvi um rosnado atrás de mim, na verdade, não logo atrás, era um som distante, como se o animal -supus que era um cão- estivesse há uns seis metros de mim.

Luca poderia ser como aqueles garotos dos livros que sempre aparecem quando a mocinha está em perigo...

E se ele se arrependesse e, quem sabe, voltasse para me encontrar? Agarrei-me a isso e continuei andando calmamente, pois, se eu não corresse, o cão provavelmente perderia o interesse em mim.

Não olhe para trás. Não olhe para trás. Não olhe...

Repeti essas palavras em minha mente como um mantra. Não adiantou, eu ouvia o rosnado do cão cada vez mais perto.

Maldito Luca!

Eu estava sendo completamente injusta, afinal, Luca havia se oferecido para me levar até minha casa, e eu recusara. Ele não tinha obrigação nenhuma de me seguir para "cuidar" de mim

Feche os olhos, Anjo (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora