BALA.

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Wemilly Grayson
Presente...

— Hey, merda! — esbravejei enquanto cutucava o braço bom de Damon. — Precisa se manter acordado.

Damon estava lutando contra a dor. Apesar de insistir que ele mesmo tiraria a bala, era óbvio que não tinha forças para isso. Meu irmão, Will, nem sequer tentou, e estávamos longe demais do hospital ou da casa de Kai. A situação parecia cada vez mais impossível, mas eu me recusava a deixá-lo desistir. Damon Torrance não podia ceder. Não agora.

Olhei para o lado e vi Kai Mori, com a cara enterrada no tablet. Ele parecia alheio ao caos ao nosso redor, completamente focado em sua missão.

— O que tanto faz aí? — perguntei, irritada, enquanto Damon gemia de dor.

— Estou subornando um dos médicos do hospital daqui — respondeu sem desviar os olhos da tela. — Se levarmos Damon para lá sem isso, vamos todos pra cadeia.

— Acha que dinheiro resolve isso? — Will indagou, dirigindo rápido demais para o estado das estradas. O volante parecia quase escapar de suas mãos enquanto ele fazia curvas bruscas.

— Retirar uma bala por um milhão de reais? Claro que resolve — Kai respondeu, como se fosse óbvio.

— Pro inferno com isso... — Damon murmurou, com a voz baixa e rouca. — Eu mesmo retiro essa merda. E, Will, fique sabendo que você é um cagão.

O sarcasmo, mesmo em um momento desses, era tão característico dele que eu senti um aperto no peito. Damon Torrance não se dava ao luxo de parecer fraco, mas a dor estava transbordando pelos olhos dele, mesmo que ele tentasse disfarçar.

Passei a mão pelos cabelos, respirando fundo para manter a calma. Luke, que estava aninhado no meu colo, notou minha tensão e levantou a cabeça, abanando o rabo como se quisesse me confortar. Eu o coloquei no banco ao meu lado e fiz um coque apressado nos cabelos.

— Não transfira essa droga de dinheiro — eu disse, virando-me para Kai.

— O que vai fazer, então? — Kai levantou os olhos do tablet pela primeira vez, suas sobrancelhas arqueadas em dúvida.

— Vou tirar essa bala.

As palavras saíram da minha boca antes que eu pudesse pensar muito. Mas, naquele momento, era a única coisa que fazia sentido. Damon não podia esperar mais.

Um silêncio pesado tomou conta do carro. Os únicos sons eram o ronco do motor e a respiração cada vez mais irregular de Damon.

— Você vai mesmo fazer isso? — Will perguntou, sua voz carregada de incredulidade.

— Ele não vai chegar ao hospital consciente, e ele não pode apagar. Não temos escolha.

Kai apenas balançou a cabeça, voltando sua atenção para o tablet. Talvez ele estivesse tentando encontrar uma solução melhor, mas eu sabia que não havia tempo para isso.

Estiquei uma perna e me apoiei nos bancos com as mãos, passei uma perna para o lado do corpo de Damon e depois me posicionei sobre ele.

— Baby, não é hora pra isso... — Damon murmurou, com um sorriso torto que parecia arrancar toda a energia que ele ainda tinha. — E do lado do seu irmão ainda? Que ousadia.

Will, que estava tentando manter o foco na estrada, estalou a língua em irritação e acertou um tapa na mão de Damon, que, mesmo debilitado, ainda tinha a ousadia de subir as mãos pelas minhas coxas.

— Dá pra parar? — Will esbravejou.

Damon riu fraco, mas logo sua expressão se contorceu em dor.

— Will, me diga que tem um canivete por aqui — pedi, tentando ignorar a tensão no ar.

— Deve ter algo afiado aí — ele respondeu, apontando para o porta-luvas. — Você vai mesmo fazer isso?

— Eu vou fazer o que precisa ser feito.

Apertei os dentes enquanto tateava dentro do porta-luvas. Quando finalmente senti o metal frio do canivete, puxei-o e virei para Damon. Seus olhos estavam semiabertos, e sua respiração parecia mais lenta a cada segundo.

— Não durma — ordenei, minha voz mais dura do que pretendia. Ele precisava me ouvir.

Rasguei um pedaço da minha camisa.

— Não preciso disso... — ele murmurou, mas mesmo assim aceitou o pedaço rasgado da minha camisa, que eu estendi para que mordesse.

Aproximei-me, encarando-o nos olhos. Para minha surpresa, eles estavam marejados. Ele estava chorando? Meu coração apertou ao vê-lo assim. Damon Torrance nunca chorava. Ele era uma fortaleza, um homem que suportava o peso do mundo nos ombros sem jamais reclamar.

— Damon? — sussurrei, hesitante.

Ele balançou a cabeça, desviando o olhar.

— Não consigo te deixar longe disso — ele disse, sua voz rouca e cheia de dor. — Estou deixando essa merda chegar até nós. Estou falhando de novo. Eu não posso proteger você.

— Damon, você tá me assustando — sussurrei, sentindo as lágrimas se acumularem em meus olhos.

— Meu maior pesadelo se tornou realidade — ele continuou, a voz trêmula. — Mas ter você de volta é a única coisa que me recompõe.

Senti o peso das palavras dele como um soco no peito. Engoli em seco e segurei firme o canivete. Não havia tempo para hesitar. Respirei fundo, apontando a lâmina para o ferimento em seu braço.

— Se doer, eu vou parar — prometi, minha voz quase quebrando.

— Faça o que tem que ser feito — ele respondeu, fechando os olhos. — Mesmo que eu grite. Mesmo que eu morra. Faça. Só não pare.

Segurei o canivete com as mãos trêmulas e pressionei a lâmina contra sua pele. Damon grunhiu alto, o som abafado pelo tecido em sua boca. Seus músculos tensionaram, e eu quase pude sentir a dor que ele estava sentindo.

— Me desculpe — sussurrei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Me desculpe pela dor que estou te causando.

Ele não respondeu. Apenas apertou os olhos com força, os punhos cerrados enquanto eu rasgava sua pele para alcançar a bala.

Will desviou o olhar por um segundo, seu rosto pálido.

— Acho que vou vomitar — murmurou.

— Fique quieto e dirija — Kai retrucou, mas sua voz também parecia menos estável do que o normal.

Continuei, minhas mãos agora cobertas de sangue. A visão da bala apareceu, uma ponta dourada brilhando entre os tecidos ensanguentados. Usei os dedos para puxá-la, respirando aliviada ao finalmente removê-la.

— Consegui — sussurrei, quase sem acreditar.

Amarrei o pedaço de pano ao redor do braço de Damon, tentando estancar o sangramento. Ele abriu os olhos lentamente, um sorriso fraco se formando em seus lábios.

— Você é boa nisso — murmurou. — Me lembra de nunca te irritar enquanto segura uma faca.

— Cala a boca, Torrance — respondi, tentando segurar o choro.

Ele fechou os olhos novamente, sua cabeça tombando para trás enquanto seu corpo finalmente cedia ao cansaço. Inclinei-me para ele, encostando minha testa na dele.

— Ele vai ficar bem, Wemilly — Will disse, sua voz mais suave do que eu esperava.

Mas eu não consegui responder. Apenas segurei a mão de Damon, tentando ignorar o medo que ainda queimava dentro de mim. Mesmo com ele adormecido, o peso das suas palavras ecoava na minha mente.

Damon chorou.

MY LITTLE PEST || Damon Torrance.Onde histórias criam vida. Descubra agora