ESPIÃO.

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Wemilly Grayson
Presente...

Eu permanecia sentada no colo de Damon, tentando ignorar o peso do sangue seco que ainda manchava minhas mãos. Will dirigia rápido, mas nem a velocidade parecia ser suficiente para aliviar a tensão no carro. Damon estava inconsciente, sua cabeça pendendo para o lado.

A casa de Kai finalmente apareceu à nossa frente, a única que os filhos da puta de Michael ainda não haviam virado de cabeça para baixo. Assim que estacionamos, Kai desceu do carro sem dizer uma palavra, gesticulando para alguns de seus homens. Eles se apressaram em retirar Damon, carregando-o com cuidado.

Banks, surgiu na porta assim que percebeu a movimentação. Seus olhos arregalados saltavam de rosto em rosto, claramente em pânico.

— O que aconteceu? — ela perguntava repetidamente, sua voz cheia de preocupação.

Kai, gentilmente, preferiu não entrar em detalhes. Ele sabia que Banks estava grávida e qualquer informação a mais só a deixaria mais abalada. Ele passou um braço ao redor dela e cochichou algo em seu ouvido antes de mandar que seus homens levassem Damon para dentro.

Eu e Will seguimos Kai para dentro da casa, nossas roupas sujas e rostos exaustos chamando atenção dos poucos que circulavam pelo local. Assim que entramos, uma mulher baixinha, de cabelos grisalhos e olhos gentis, apareceu ao lado de Kai. Eles trocaram algumas palavras que eu não consegui ouvir, e então Kai se virou para nós.

— Vocês vão ter que dividir o quarto — ele disse, entregando-nos duas pilhas de roupas limpas. — Não se preocupem, Mary vai cuidar do Damon. Ela é a enfermeira do meu pai, especialista nesse tipo de coisa.

— Vocês têm uma enfermeira particular? — perguntei, surpresa.

— Meu pai não gosta muito de hospitais — Kai explicou com um encolher de ombros. — Então ele a contratou. E quando soube que Banks estava grávida, exigiu que ela morasse aqui.

— Você fede a rico, Kai — meu irmão zombou, com um sorriso cansado.

— Igual você — Kai retrucou, sem nem olhar para trás enquanto nos guiava pela casa.

Kai nos levou até o quarto onde passaríamos a noite. Era pequeno, mas confortável, com uma única cama no centro. Luke nos seguiu até a porta, balançando o rabo. Quando Kai percebeu, apenas assentiu, permitindo que o cachorro ficasse conosco. Ele se despediu e fechou a porta atrás de si, deixando-nos sozinhos.

— Não fique tão preocupada — Will disse, se jogando na cama com um suspiro. — Não é a primeira vez que Damon passa por poucas e boas.

Eu suspirei também, afundando no colchão ao lado dele. Luke pulou no meio da cama, apoiando a cabeça na minha perna.

— Não sei em que merda a gente se meteu, mas, porra... O papai que conheço nunca faria esse tipo de coisa.

Will ficou em silêncio por um momento antes de corrigir, sua voz mais baixa:

— O seu pai sempre foi um louco, Wem. Mas você era pequena demais pra saber disso.

Eu passei a mão pelo pelo macio de Luke, tentando processar suas palavras.

— Queria que nossas vidas fossem diferentes disso — murmurei.

— Acho que seria sem graça — Will retrucou, com um sorriso cansado. — A gente tem tudo, sabe? Precisamos de emoção pra sobreviver. É isso que nos mantém vivos.

— Você realmente acha que precisamos disso? — perguntei, encarando-o.

— Sim. — Ele deu de ombros. — Nem senti medo quando fiquei preso com Gabriel e os merdinhas que seguem ele.

Franzi o cenho.

— E por que não?

— Passei três anos na cadeia, Wem. Vocês chegando ou não, eu iria me virar. Gabriel ficaria de quatro pra mim.

Revirei os olhos, exasperada.

— Você sempre é tão convencido. Você estava feito um saco de bosta quando encontramos você.

— A pressa é inimiga da perfeição. Tudo no seu tempo — ele respondeu com um sorriso presunçoso.

Antes que eu pudesse responder, alguém bateu na porta.

— Entra! — Will gritou.

Banks apareceu, correndo até mim e me abraçando com força. Fui pega de surpresa, hesitando por um momento antes de retribuir o gesto.

— Obrigada — ela disse, com a voz embargada.

— Pelo o quê? — perguntei, confusa.

— Por ter salvo meu irmão. Te devo minha vida.

— Ele é a minha vida. Não posso viver sem Damon. Isso me arruinaria — confessei, baixinho.

— Por isso estou te agradecendo. Ele teria morrido sangrando naquele banco se não fosse você. Agora entendo por que ele te admira. Você é selvagem, garota. — Ela apertou minha bochecha com um sorriso e depois depositou um beijo na mesma. — Me desculpe por todos os transtornos desde que você entrou nas nossas vidas.

Banks estava ignorando completamente a presença de Will, focando apenas em mim. Sua sinceridade me deixou sem palavras.

— Damon me prometeu que não iria se envolver com você novamente. Até ameacei ele de morte — ela disse com um sorriso travesso. — Mas hoje entendo que você é a melhor parte dele. Você traz o pequeno Damon de volta. E, juro pra você, ele era a criança mais doce que já vi.

Engoli em seco, sem saber como responder.

— Eu não sei o que dizer.

Ela sorriu, apontando para o meu peito.

— Apenas sinta. As melhores coisas estão aqui — ela disse, tocando onde meu coração batia acelerado. — Só sinta, ok?

Ela se virou para sair, mas não sem antes me lançar outro sorriso agradecido.

— Obrigada novamente.

Banks abriu a porta e quase esbarrou em Kai, que acabava de entrar. Ele beijou a testa dela antes de deixá-la passar e voltou sua atenção para nós.

— Vocês precisam de algo? — perguntou.

— Tem cigarro e uísque por aí? — perguntei, exausta.

— Não tem merda nenhuma pra você, ouviu? — Will respondeu antes que Kai pudesse dizer algo, sua voz cheia de indignação.

Kai ignorou a provocação e se dirigiu a mim:

— Damon está bem melhor, se você quer saber. Limparam o ferimento e fizeram o curativo. Ele está longe de infecções ou coisa do tipo.

— Posso vê-lo? — perguntei imediatamente.

— Somente quando ele acordar, Wem.

Kai se agachou de repente, pegando o pingente na coleira de Luke. Ele estreitou os olhos, analisando-o com cuidado.

— O que foi? — Will perguntou, intrigado.

Kai ficou em silêncio por um momento antes de pegar Luke nos braços e colocá-lo em cima de Will, apontando para o pingente.

— Porra... — ele murmurou, sombrio.

Will estreitou os olhos enquanto analisava o pequeno objeto. Então, com uma expressão de puro desgosto, arrancou a coleira do cachorro e a jogou pela janela.

— Ei! Que porra tá acontecendo? — exigi, alarmada.

— Por isso Michael e William sabiam onde você estava o tempo todo — Will respondeu, ainda segurando Luke.

— Como? — minha voz quase falhou.

— Havia uma câmera dentro do pingente — Kai concluiu, cruzando os braços.

Minha boca se abriu em um perfeito "O". A ficha caiu lentamente, mas quando caiu, foi como se o chão tivesse sumido sob meus pés.

— Papai quem te presenteou Luke. Nosso cachorro é um pequeno "espiãozinho".

MY LITTLE PEST || Damon Torrance.Onde histórias criam vida. Descubra agora