capítulo 22: intriga

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Já tinham se passado semanas desde o ocorrido, mas eu sentia que aquela mulher me traria problemas de alguma forma. Eu estava junto com as meninas no corredor da faculdade quando chega o horário de eu voltar para minha sala.

- gente, tô indo. Não tô afim de levar falta por atraso - me despeço das três e vou seguindo até a porta da sala de aula, me sento em uma das cadeiras do fundo e espero iniciar a aula.

Eu não sou totalmente focada nas aulas, mas também não sou do tipo que não faz nada, eu só quero me formar logo e me livrar desse curso em que a grande maioria são homens (algumas mulheres foram desistindo por conta do machismo e assédio de alguns daqui), só fiquei porque queria muito me formar em gestão de negócios, talvez um dia meu pai veja que eu não sou tão burra assim.

- bom dia a todos, hoje vamos falar sobre a administração e estratégia empresarial. Jonny, apague a luz.

O garoto de mais ou menos a minha idade aperta o interruptor ao seu lado e automaticamente a luz se desliga. O professor com uma aparência bem mais velha começa a explicar todos os tópicos, conceitos e aplicações sobre o tema.

Já tinha se passado quase uma hora quando o professor pede pra ligar a luz enquanto desliga o projetor, depois vai para a sua mesa e pega um piloto e começa a escrever no quadro branco "projeto estágio obrigatório: entrar em alguma empresa e documentar cada experiência vivida. Prazo: 2 meses de conclusão".

- dispensados por hoje. Dois professores das quatro aulas seguintes estão doentes e os outros três restantes estão indispostos. - ele fala enquanto sai.

Alguns alunos saem também, mas eu acabo ficando para terminar uma lição que ele passou e acabo ouvindo alguns burburinhos de alguns alunos, teve um em específico que falou de uma forma alta o suficiente pra eu ouvir "a mimada vai conseguir porque é filhinha de papai" e isso me deu nos nervos.

- algum problema, Noah ? - olho para o garoto que estava uma fileira depois da minha.
- nenhum, Charlie. Só estava comentando que pra alguns de nós seria muito fácil conseguir. - ele usa uma cara de cínico irritante.
- bem, todos nós somos filhos de empresariais, certo ? Então todos temos bons exemplos, não acha ?
- acho, mas tem gente aque nem deveria estar aqui, sabe ?
- e suponho que essa pessoa seja eu, certo ?
- se a carapuça serve. Não me leve a mal, Charlie, mas você só vai conseguir o estágio que seu pai der. A maioria aqui quer entrar na concorrente...a dos italianos, conhece ?

Ah querido, conheço muito bem...principalmente a chefona daquele lugar, sei de cada centímetro que aqueles ternos escondem.

- conheço. Mas não sei se te aceitarão, sabe ? Os donos não curtem muito a fruta oposta e pelo que eu conheço de você, você não é um exemplo muito bom de diversidade e aceitação...
- um quer ser mulher e a outra só não achou um homem com uma pegada boa, tenho certeza que se eu tivesse cinco minutos com ela isso mudaria, né pessoal ?

Ele dá um sorriso malicioso enquanto olha pros seus amigos e todos caem na gargalhada, concordando e acrescentando coisas maliciosas enquanto meu sangue fervia, mas me controlo.

- além disso, meu pai é um dos diretores financeiros de lá, eu já estou dentro antes mesmo de entrar nessa faculdade.
- bem, se acha que é tudo isso mesmo, tente. - pego minhas coisas e coloco na bolsa, depois me levanto pra sair desse lugar que cheira a homofobia e machismo, ignorando qualquer olhar direcionado pra mim.

Vou indo na direção da saída da faculdade, já tinha chamado o meu motorista particular então a única coisa que eu fiz foi sentar em um dos bancos e esperar chegar. Peguei meu celular e entrei na minha conversa com Nique enquanto aguardava.

"- Sabe se algum Noah vai entrar aí?"

Era o seu horário de almoço, então não demorou muito pra ela responder.

"Esse nome é bem comum, amore mio. Seja um pouco mais específica"
" - filho de algum diretor financeiro?"
" Ah sim, o nome do pai é Willian Robert...me pediu pra incluir esse tal de Noah na equipe de finanças, por quê?"
"- ele faz parte da minha sala, se você soubesse como ele é eu acho que não aceitaria"
" Já procurei me informar... mas não posso remover ele agora, já o coloquei no sistema e tira-lo vai me dar dor de cabeça com o pai dele"
"- hum, se ele der em cima de você eu vou perder meu réu primário"
"Como assim "dar em cima de mim" ?"

O carro chega, me despeço de Nique por mensagem e entro dentro do carro. Comprimento o motorista e segui viagem escutando música no fone de onaouvido. Depois de uns momentos eu finalmente chego em casa e por azar ou sorte do destino meu pai estava em casa, especificamente na sala.

- boa tarde pai, queria pedir uma coisa...- me aproximo, sentando de seu lado.
- o que ? - ele deixa de prestar atenção na televisão e me olha.
- preciso de uma vaga de estágio na empresa, por favor - junto as mãos.
- por que exatamente ? Estágio obrigatório ?
- sim...tem como me deixar entrar?
- hum...eu assino, mas não quero você trabalhando lá, não sei se seria uma boa ideia.
- mas... - sou interrompida.
- sem acordos, Charlie. Agora me deixe terminar de assistir o jogo.

Não discuto, somente me levanto e subo para o meu quarto. Chegando lá eu simplesmente jogo a bolsa em algum canto e me jogo na cama. Droga, ele faz de tudo para eu não me envolver na empresa ! Pego meu celular e entro novamente nas minhas mensagens com Nique.

"- Me arruma uma vaga de estágio na sua empresa?"
" Se quisesse metade da minha empresa, ela seria sua, amore mio."
"- Mas e a vaga ? Consegue ?"
" E seu pai ? Deixa ?"

Bufo e reviro os olhos.

"- te odeio :)"
" Também te amo :)"

Entre Quatro ParedesOnde histórias criam vida. Descubra agora