Já tinham se passado semanas desde o ocorrido, mas eu sentia que aquela mulher me traria problemas de alguma forma. Eu estava junto com as meninas no corredor da faculdade quando chega o horário de eu voltar para minha sala.
- gente, tô indo. Não tô afim de levar falta por atraso - me despeço das três e vou seguindo até a porta da sala de aula, me sento em uma das cadeiras do fundo e espero iniciar a aula.
Eu não sou totalmente focada nas aulas, mas também não sou do tipo que não faz nada, eu só quero me formar logo e me livrar desse curso em que a grande maioria são homens (algumas mulheres foram desistindo por conta do machismo e assédio de alguns daqui), só fiquei porque queria muito me formar em gestão de negócios, talvez um dia meu pai veja que eu não sou tão burra assim.
- bom dia a todos, hoje vamos falar sobre a administração e estratégia empresarial. Jonny, apague a luz.
O garoto de mais ou menos a minha idade aperta o interruptor ao seu lado e automaticamente a luz se desliga. O professor com uma aparência bem mais velha começa a explicar todos os tópicos, conceitos e aplicações sobre o tema.
Já tinha se passado quase uma hora quando o professor pede pra ligar a luz enquanto desliga o projetor, depois vai para a sua mesa e pega um piloto e começa a escrever no quadro branco "projeto estágio obrigatório: entrar em alguma empresa e documentar cada experiência vivida. Prazo: 2 meses de conclusão".
- dispensados por hoje. Dois professores das quatro aulas seguintes estão doentes e os outros três restantes estão indispostos. - ele fala enquanto sai.
Alguns alunos saem também, mas eu acabo ficando para terminar uma lição que ele passou e acabo ouvindo alguns burburinhos de alguns alunos, teve um em específico que falou de uma forma alta o suficiente pra eu ouvir "a mimada vai conseguir porque é filhinha de papai" e isso me deu nos nervos.
- algum problema, Noah ? - olho para o garoto que estava uma fileira depois da minha.
- nenhum, Charlie. Só estava comentando que pra alguns de nós seria muito fácil conseguir. - ele usa uma cara de cínico irritante.
- bem, todos nós somos filhos de empresariais, certo ? Então todos temos bons exemplos, não acha ?
- acho, mas tem gente aque nem deveria estar aqui, sabe ?
- e suponho que essa pessoa seja eu, certo ?
- se a carapuça serve. Não me leve a mal, Charlie, mas você só vai conseguir o estágio que seu pai der. A maioria aqui quer entrar na concorrente...a dos italianos, conhece ?Ah querido, conheço muito bem...principalmente a chefona daquele lugar, sei de cada centímetro que aqueles ternos escondem.
- conheço. Mas não sei se te aceitarão, sabe ? Os donos não curtem muito a fruta oposta e pelo que eu conheço de você, você não é um exemplo muito bom de diversidade e aceitação...
- um quer ser mulher e a outra só não achou um homem com uma pegada boa, tenho certeza que se eu tivesse cinco minutos com ela isso mudaria, né pessoal ?Ele dá um sorriso malicioso enquanto olha pros seus amigos e todos caem na gargalhada, concordando e acrescentando coisas maliciosas enquanto meu sangue fervia, mas me controlo.
- além disso, meu pai é um dos diretores financeiros de lá, eu já estou dentro antes mesmo de entrar nessa faculdade.
- bem, se acha que é tudo isso mesmo, tente. - pego minhas coisas e coloco na bolsa, depois me levanto pra sair desse lugar que cheira a homofobia e machismo, ignorando qualquer olhar direcionado pra mim.Vou indo na direção da saída da faculdade, já tinha chamado o meu motorista particular então a única coisa que eu fiz foi sentar em um dos bancos e esperar chegar. Peguei meu celular e entrei na minha conversa com Nique enquanto aguardava.
"- Sabe se algum Noah vai entrar aí?"
Era o seu horário de almoço, então não demorou muito pra ela responder.
"Esse nome é bem comum, amore mio. Seja um pouco mais específica"
" - filho de algum diretor financeiro?"
" Ah sim, o nome do pai é Willian Robert...me pediu pra incluir esse tal de Noah na equipe de finanças, por quê?"
"- ele faz parte da minha sala, se você soubesse como ele é eu acho que não aceitaria"
" Já procurei me informar... mas não posso remover ele agora, já o coloquei no sistema e tira-lo vai me dar dor de cabeça com o pai dele"
"- hum, se ele der em cima de você eu vou perder meu réu primário"
"Como assim "dar em cima de mim" ?"O carro chega, me despeço de Nique por mensagem e entro dentro do carro. Comprimento o motorista e segui viagem escutando música no fone de onaouvido. Depois de uns momentos eu finalmente chego em casa e por azar ou sorte do destino meu pai estava em casa, especificamente na sala.
- boa tarde pai, queria pedir uma coisa...- me aproximo, sentando de seu lado.
- o que ? - ele deixa de prestar atenção na televisão e me olha.
- preciso de uma vaga de estágio na empresa, por favor - junto as mãos.
- por que exatamente ? Estágio obrigatório ?
- sim...tem como me deixar entrar?
- hum...eu assino, mas não quero você trabalhando lá, não sei se seria uma boa ideia.
- mas... - sou interrompida.
- sem acordos, Charlie. Agora me deixe terminar de assistir o jogo.Não discuto, somente me levanto e subo para o meu quarto. Chegando lá eu simplesmente jogo a bolsa em algum canto e me jogo na cama. Droga, ele faz de tudo para eu não me envolver na empresa ! Pego meu celular e entro novamente nas minhas mensagens com Nique.
"- Me arruma uma vaga de estágio na sua empresa?"
" Se quisesse metade da minha empresa, ela seria sua, amore mio."
"- Mas e a vaga ? Consegue ?"
" E seu pai ? Deixa ?"Bufo e reviro os olhos.
"- te odeio :)"
" Também te amo :)"
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Entre Quatro Paredes
FanfictionCharlie Jones é filha única de um empresário de sucesso que entrou em um noivado para esconder seu relacionamento de seu pai e madrasta preconceituosos. Dominique Moretti faz parte de uma família de empresários sucedidos. Vinda da Itália, não é só...