capítulo 26: aniversário de namoro

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Ela enrolava toda vez que eu perguntava sobre a mensagem, até que eu acabei esquecendo. Nique estava certa, com o passar do tempo eu fui me acostumando a rotina da empresa, cometi alguns(muitos) erros, mas fui me aperfeiçoando com o tempo.

Fui chamada para a sala de Marcela, no início eu estava morrendo de medo de ser alguma reclamação, mas ela pede para que eu me sente

- nossa Charlie, nunca vi alguém se aperfeiçoar tanto em apenas um mês ! Meus parabéns querida.

A gerente tinha me chamado na sua sala para me dar os parabéns, ela foi única pessoa que eu consegui conversar aqui na empresa. O nome dela é Marcela, tem trinta e quatro anos e é casada, tem os cabelos loiros e é bem alta, os seus olhos são azuis.

Ela e seu esposo ficaram famosos depois de lutarem em várias causas na justiça em apoio a pessoas trans, seu esposo é um advogado renomado e ela tem contatos. Colocaram um homem na cadeia por ter cometido transfobia com os dois.

- obrigada. Sinceramente ? Quase nada que aprendi na faculdade serviu aqui, mas em compensação eu não estou precisando estudar pra prova nenhuma porque tudo eu estou aprendendo na prática.
- sim ! Acho incrível que a grade curricular de um curso de gestão de empresas não tem quase nada de gestão de empresas, chega até ser engraçado - ela ri um pouco, depois volta a atenção ao computador.

Eu agradeço novamente o elogio e saio de sua sala para voltar ao trabalho. Eu até comecei a gostar da rotina, me fazia ficar muito tempo fora de casa. O chato era não ter tanto tempo, energia e disposição pra ficar com as meninas, e já faz muito tempo que eu e Nique não ficamos juntas também...mas hoje vai ser diferente, é nosso aniversário de namoro, completamos três anos completos, depois de mais de um mês que fiz vinte e um anos completos, duas coisas que eu jurava que nunca iam acontecer.

Continuo a fazer o meu serviço, ao mesmo tempo que fico pensando se as flores que encomendei pra ela já chegaram no seu escritório, rosas vermelhas, suas favoritas. Pego o celular e mando mensagem para o entregador perguntando se já tinham chegado e recebi um "sim, já chegaram faz vinte minutos" e eu não posso evitar um sorriso. Ela provavelmente já viu.

Continuo fazendo o meu trabalho e depois de uma hora eu finalmente termino de organizar a papelada. Paro por uns momentos e aproveito e pego meu celular, mais um sorriso no rosto quando vejo uma notificação sua.

"Você nunca esquece as flores"
"- claro que não, são suas favoritas, certo ?"
"Sim !Consegui reserva em um restaurante incrível, te pego às oito."

Primeiro eu fico confusa. Um restaurante?

"- um restaurante ? Com público ?"
"Sim, mas todos vão de máscaras. Quero comemorar nosso aniversário de uma forma diferente esse ano"
"- onde é ?"
"Você vai ver. Te pego às oito."
"- aahhh ! Eu sou ansiosa!"

Mas ela não responde mais nada. Volto a minha concentração pro trabalho e aguardo ansiosa pelo momento.

Já tinha se passado alguma horas, eu já estava em casa e tinha começado a me arrumar pro tal restaurante e graças aos céus o meu pai e Suzie tinham saído pra visitar alguns parentes dela e só voltariam semana que vem. Eu estava arrumando o meu cabelo e já tinha separado um vestido, quando terminei de arrumar ele eu pude finalmente colocar o vestido.

Era de ceda com alças e duas fendas nas coxas, uma de cada lado. Eu dei uma última olhada no espelho, eu estava uma tremenda de uma gostosa com essa roupa, coloquei um salto prata e o colar que Nique me deu, já tinha dispensado todos os funcionários da casa e a única coisa que eu precisava fazer era sair tranquila até o local onde ela me espera de carro, e foi isso que eu fiz.

Fui segurando o salto na mão para não cair, chegando no local ela estava lá, parada em seu carro com um terno lindo e toda de preto, pelo que eu percebi ela tinha cortado o cabelo e estava com O perfume, ela me olha e. Puta.que.pariu...que mulher...

- jurava que você ia se atrasar - ela fala, me fitando de cima a baixo - mas graças aos céus que não. Estou tendo uma visão muito boa...
- você também não está tão mal assim - brinco. Ela me puxa pela cintura e nossos corpos ficam colados.
- não estou ?...- ela fala sussurrando no meu ouvido
- a-ai meu Deus ! - gaguejo e fico vermelha, me afasto rapidamente. Droga de gay panic ! Ela ri, ficando mais perfeita do que já é.
- vamos ? - ela abre a porta do carro com naturalidade, como se não tivesse me causado um curto circuito do nada.

Entro dentro do carro fingindo naturalidade também. Ela vai até o banco do motorista e se senta, depois começa a dirigir até a rua e vai seguindo até o restaurante. Chegamos lá em mais ou menos vinte minutos, era um lugar com uma vibe old money, antes de sair nós duas colocamos máscaras, as mesmas do ultimo evento, e entramos depois de ela dizer seu nome ao recepcionista.

Eu entro observando o lugar, as mesas eram redondas e tinham apenas duas cadeiras em cada uma. A iluminação era baixa, tinha velas em cima das mesas e taças de vinho. Um garçom nos acompanha até a nossa e nos oferece o cardápio quando nos sentamos, ele vai embora enquanto não escolhemos.

- acho que você se superou esse ano - falo abrindo o cardápio.
- só se completa três anos de namoro uma vez, certo ? - ela sorria enquanto lia.

Nós duas fizemos o pedido, ela acrescentou uma garrafa de vinho e uma sobremesa. Enquanto a comida não chegava nós duas ficamos conversando sobre várias coisas, ela me fazia rir e eu continuava a puxar assunto. Depois de um tempo a comida chega e nós começamos a comer, mas o diálogo continuava.

- eu não acredito que você fez isso com o Santino! - falo rindo.
- eu não me orgulho, mas que foi incrível foi - ela também ria, enquanto bebe um gole de vinho.

Terminamos de comer e continuamos bebendo vinho enquanto esperávamos a sobremesa. Já estávamos em mais metade da garrafa quando o vinho estava fazendo efeito. O engraçado do vinho no meu corpo é que o fogo em aumenta num nível enorme, e isso já dava pra perceber.

- acho que bebi demais - falei, sorrindo muito.
- hum, passamos da metade da garrafa ainda... não me diga que já está bêbada, amore mio - ela ria, seu sorriso fica frouxo quando bebe.
- não...é outra coisa...

Ela percebe. Pego a minha taça e bebo mais um gole, mas antes que eu termine de beber a taça

- hum...acho melhor você parar agora, a sobremesa ainda nem chegou - ela coloca a minha taça próximo a ela.

Quem quer saber de sobremesa ? Agora o que eu quero é que ela me faça sua sobremesa... droga, eu tô bêbada pra caralho.

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