schizophrenia » larry

seven

- Pronto para voltar, Lou?

Abri os olhos e sorri para Harry, ao meu lado. Seus olhos estavam semicerrados e havia um sorriso preguiçoso em seus lábios.

Bom dia, Louis.

Franzi minhas sobrancelhas, não havia ironia nas vozes delas.

Como você está se sentindo?

Que porra é essa?

Balancei minha cabeça cuidadosamente e olhei para Harry. Ele também estava com as sobrancelhas franzidas e eu somente dei de ombros.

Ele segurou minha mão e sorriu.

- Você está bem?

- Melhor agora. - Falei baixinho.

Seus lindos olhos verdes brilharam e ele me deu um beijo na bochecha, pegando-me pela mão para me ajudar a levantar.

O caminho até a clínica foi curto e Harry cantarolava uma música ao meu lado, enquanto segurava minha mão, fazendo pequenos carinhos na mesma.

Quando chegamos no grande jardim ele parou de andar, deixando as pessoas que nos acompanhavam irem na frente.

- Vamos ficar aqui.

Você ama Harry.

- É perigoso. - Sussurrei.

- Eu cuido de você.

Ele tirou uma toalha da mochila que carregava e pôs no chão, abaixo de uma árvore. Haviam flores nesse lugar, o sol brilhava forte e a grama era verde.

Por um momento, depois de um longo tempo, eu me senti bem.

- Elas estão aqui? - Assenti. - Estão te fazendo mal?

Neguei com a cabeça e ele franziu suas sobrancelhas mais uma vez.

Você merece ser feliz.

Harry era tão bonito em seus pequenos detalhes. Era tão bonito quando dava um sorriso de orelha a orelha por não conseguir prendê-lo, tão bonito quando aparecia uma ruga de preocupação em sua testa.

Essa preocupação era comigo.

- Elas estão sendo boas.

Encostei minha cabeça no tronco e fechei os olhos, sentindo ele me acompanhar.

O menino de cachos pegou em minha mão novamente e entrelaçou nossos dedos. Abri os olhos e olhei para eles.

Sua mão encaixava completamente na minha. Como se fosse feita só para mim.

- Isso é bom? - Harry perguntou baixinho, sua respiração em meu pescoço.

- Estar com você sempre é bom.

Elas riram e dessa vez eu não precisei tapar meus ouvidos, a risada era bonita. Era como anjos cantando somente para mim.

- Canta para mim? - Me virei para o menino.

- N-não, Lou. E-eu não s-sei.

- Por favor.

Ele sorriu para minha cara de cachorro pidão e respirou fundo várias vezes.

- Só para você.

Harry começou a cantarolar uma batida rápida e eu encostei minha cabeça em seu peito. Ele olhou para mim e sorriu antes de começar a cantar.

I figured it out

I figured out from black and white

Seconds and hours

Maybe they had to take some time

I know how it goes

I know how it goes from wrong and right

Silence and sound

Did they ever hold each other tight like us?

O seu abraço se tornou ainda mais apertado. Soltei uma risadinha enquanto ele passava seus compridos dedos pelo meu rosto.

Did they ever fight, like us?

Pensei em nossa briga. Harry disse que eu havia lhe dado um sentido. Ninguém jamais brigou como nós.

You and I

We don't want to be like them

We can make it 'till the end

Nothing can come between

You and I

Not even the gods above

Can separate the two of us

No, nothing can come between

You and I

Por um momento, tive vontade de chorar pela falta de sua voz. Ela era angelical e calma, mesmo sendo rouca, o que o deixava ainda mais excitante.

Olhei em seus olhos e eles brilhavam.

- Eu amo sua voz. - Passei minhas mãos por seus cachos.

Ele colocou suas mãos ao lado de meu rosto e me puxou para perto.

- Eu posso ser demitido por isso. - Abaixei minha cabeça e ele levantou-a. - Mas eu não me importo.

Então ele selou nossos lábios.

Em um beijo calmo e tranquilo, minhas mãos passeavam pelos seus cabelos cacheados e a suas faziam carinhos em minha cintura.

Acabamos o beijo com alguns selinhos e eu sorri, apoiando minha cabeça em seu peito, sentindo seu braço me abraçar forte.

- Por você vale a pena perder o emprego, por você vale a pena perder até mesmo a vida.

E você perderá.

A ignorância estava de volta, mas por um momento decidi ignorar.

- Por você também.