Eu estou sozinho, completamente sozinho. Harry não está aqui, nem mesmo as vozes estão. Todos me abandonaram por ser essa pessoa horrível.
Já não como, não durmo, não vou para a rua. O grande quarto da clinica é meu lar, a grande parede branca onde eu faço desenhos com as unhas é meu lugar. Alias, não existe mais nenhuma unha, todas descoloram com a força em que eu arrastava-as na parede, só há meus dedos agora.
Faz uma semana que Harry não vem me ver e isso me deixa cada vez mais fraco, Harry me fazia forte. Agora, aos poucos, minha consciência está me matando pela culpa e pelo remorso de tê-lo machucado.
Eu realmente machuquei a pessoa que está ali por mim, a única pessoa que me entendia e cuidava de mim. Eu o magoei, por dentro e por fora.
Por que você não se mata?
Virei-me para o outro lado da cama e tapei meus ouvidos, mesmo sabendo que isso não adiantaria de nada. Elas estavam na minha cabeça, elas continuariam ali. Elas continuariam rindo de mim. E, acima de tudo, elas tinham motivos para rir já que eu havia feito o que sempre falavam que eu ia fazer.
Você vai morrer sozinho.
-Louis. - Ouvi uma voz ao longe e virei-me depressa, esperando ver Harry parado ali, com seu mais bonito sorriso de covinhas, com seus cachos.
Esperei ver Harry com seus braços abertos para que eu pudesse me atirar neles e o abraçar com força, esperei ouvir as batidas de seu coração em meu ouvido novamente.
Mas não era Harry. O menino que eu havia acertado estava parado na grande porta, olhando-me com pena.
Você machucou um inocente.
Apenas virei-me para a parede novamente, fazendo delicados círculos com meus dedos na parede. Ali havia cortes, nas paredes havia sangue. Eu estava acabado.
Eu só queria Harry ali comigo, mesmo quietinho e fazendo carícias em meu cabelo. Mas sabia que teria que deixar esse egoísmo de lado e focar em protegê-lo.
E para protegê-lo eu ficaria longe, eu ficaria longe da pessoa que eu mais amo.
- Você está bem? - Neguei com a cabeça, ainda de costas para o menino.
Nós sabíamos que você acabaria assim, Louis.
- Fale comigo.
A voz do menino era um pouco mais grossa que a minha e claramente mais fina que a de Harry. Harry tinha a mais bela voz que eu já havia escutado, era como um anjo cantando em meus ouvidos, sua voz rouca e grave me levava à loucura.
Virei-me para ele e vi seu cabelo loiro, um loiro claro. Seus olhos eram azuis um tanto mais claros que os meus, porém bonitos. Ali dentro era notável uma inocência, qualquer um poderia ver isso.
Você machucou uma pessoa que todos adoram.
- Tudo bem, você não precisa falar... - Ele sentou-se na ponta da cama. - Eu só quero lhe dizer que está tudo bem pelo o que fizemos um para o outro, nós dois temos problemas. Algumas vezes não conseguimos controlar.
- E-eu bati e-em você.
- Por que eu fui estúpido. Ah vamos lá, eu mereci! - Eu sorri e ele segurou minha mão. - Eu sou Niall Horan.
Ele quer sua vingança.
Senti minhas bochechas esquentarem e larguei sua mão, acenando com a cabeça e sentando-me.
- E-eu sou Louis. Por que você está aqui?
- Bipolaridade! Não é óbvio?! - Niall falou um tanto rude. - Desculpe, eu apenas não consigo controlar.
Vi o garoto ao meu lado respirar fundo e fechar os olhos, levando sua cabeça em direção à cabeceira da cama.
- Eu também não.
- Como vai Harry? Ele melhorou?
Senti meu coração se apertar, no momento quis sair correndo e chorar, mas suspirei e fechei meus olhos.
- Eu não o vi mais. Nem quero.
Mate esse menino.
- Por quê?
- Eu preciso deixar meu egoísmo de lado e zelar pela proteção da única pessoa que ainda tem importância para mim. Se a consequência disso for ficar sozinho, apenas com as vozes como minha companhia, eu farei.
- Você não ficará sozinho.
Nós estamos sempre aqui.
Elas estavam dando risada em minha cabeça e eu a balançava constantemente, tentando me livrar dessa enorme tortura.
Nós te deixaremos quando você matar Harry.
- Eu estarei aqui, você tem um amigo. - Niall falou ao meu lado, segurando em minha mão. - E eu te ajudarei a proteger o Harry, okay?
Assenti desesperadamente e avancei nos braços do menino loiro.
- Obrigada. - Sussurrei em seu ouvido. - Obrigada.
Você irá mata-lo.
- Eu também preciso de um amigo de qualquer forma. - Ele me abraçou fortemente e eu deixei algumas lágrimas escorrerem, molhando sua camiseta. - Hey, não chore.
- E-eu não quero machucar você, nem H-Harry. E-eu sou um m-monstro.
É bom que você saiba.
- Você não irá me machucar, eu te ajudo, Lou. Eu vou lhe ajudar a não machucar Harry.
Assenti e saí do seu abraço, encostando minha cabeça em seu ombro. A porta foi aberta calmamente e meus olhos se arregalaram ao ver Harry parado ali.
Seus olhos verdes não tinham o mesmo brilho de sempre, seus cachos estavam oleosos e embaraçados e havia olheiras profundas abaixo de seus olhos.
Veja como você o deixou.
Lentamente e claramente fraco, ele caminhou em minha direção. Dei um pulo de onde estava sentado e o peguei pelo braço, trazendo-o até a cama.
- Eu não quero ficar longe de você. - Sua voz saiu como um sussurro, um sussurro pesado, como se essa fosse sua mais alta voz.
- Oh, amor. - Passei meus braços pela nuca e deixei lágrimas correndo levemente, senti minha camiseta também molhada e pude notar que ele estava chorando.
Sua respiração estava descompassada em meu pescoço e baixinho ele implorava para eu não o deixar.
Se você não o matar, ele vai acabar morrendo.
Ficamos abraçados por um tempo e quando nos separamos, Niall havia saído. Então o puxei para a cabeceira da cama, deitando minha cabeça em meu peito e sentindo seu cheiro como se fosse a última vez.
Talvez fosse a última vez.
- Não me deixa.
- Eu tenho que deixar. - Meu olhar estava no chão.
Acabe logo com esse sofrimento, Louis.
- Por favor. - Suas lágrimas ainda caíam e eu tentava me manter forte, mostra-lo que eu estou forte.
- Eu tenho fazer isso, Harry. Eu não posso ficar com você e machuca-lo, não posso me tornar tão egoísta.
Virei meu olhar para seus olhos verdes, aqueles olhos que sempre me traziam um calafrio e o enorme frio na barriga. Então beijei sua bochecha, passando para seus lábios.
Nosso beijo se misturou com as lágrimas de ambos, lágrimas de despedidas. O último beijo.
Acabe com ele.
- Eu te amo, Harry. É por isso que estou te deixando ir.
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schizophrenia » larry
Hayran KurguEsquizofrenia: Doença que se caracteriza pela perda do contato com a realidade. Na tentativa de livrar-se das vozes em sua cabeça Louis faz o necessário, mortes estão incluídas no pacote. Ao tentar atacar sua última pessoa amada é internado em uma c...