nine

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N/A: Odeio notas, mas... As vozes estão em negritos.

Abri meus olhos e senti uma forte tontura, tudo estava preto, nada fazia sentido em minha frente. Tateei minhas mãos, em busca de Harry ao meu lado e quando o achei balancei seu corpo desesperadamente.

Morra.

O homem ao meu lado não acordava, eu tentava de todas as formas e seu corpo ainda estava adormecido, como se minhas tentativas fossem em vão, como se meu toque atravessasse seu corpo sem lhe trazer nenhuma sensação.

Você está morto, Louis.

Não! Não, não, não!

Eu estava incapacitado, minha visão não funcionava, meu tato muito menos. Não sentia meu coração bater, não ouvia minha respiração.

Você está sofrendo o que fez para os outros.

Minha visão se forçava a aparecer e senti alguns pontos brancos ali, a parede. A parede branca. Virei-me para o lado e ali estava Harry, eu o enxergava e também enxergava a grande quantidade de sangue em seu corpo.

Tentei soltar meu mais alto grito, mas ele não saía. Não havia voz.

Acabou de matar a única pessoa que se importava com você.

Minha voz estava somente presa em minha garganta, estava balançando Harry, mas ele não respondia. Coloquei minha cabeça em seu peito e não havia batimento, não havia respiração.

Passei minha mão por seus cachos e seu rosto, pegando o sangue que ali havia, o sangue do menino de covinhas estava em minhas mãos.

Eu havia o matado.

- LOUIS! Acorde! - Harry estava me balançando.

Que porra?

- Você está vivo?

- Óbvio? - Seus olhos verdes estavam arregalados, não havia sangue em seu rosto.

Ouvi as vozes rindo de mim, isso havia sido uma ilusão, uma ilusão perfeitamente bolada.

- Você estava me balançando e dizendo que não. Não o que, Lou?

Você é um bobo.

- Me deixe Harry, saia daqui. Eu vou te machucar.

Balançando minha cabeça freneticamente, fui arrastando meu corpo para trás, até cola-lo na parede. Não havia para onde fugir, eu apenas estava encolhido ali, pedindo para Harry fugir. Eu não podia machucar a única pessoa que me restava.

Você é burro. Inútil.

Pus minhas mãos sobre meus ouvidos e senti o menino de cachos segurar meu braço. Puxei-o com força, batendo na parede com o impulso.

- Por favor. - Sussurrei baixinho, sentindo lágrimas cortando meu rosto.

- Eu não te deixarei.

Você não merece viver. Sabe por quê?

Neguei. Era a única coisa que eu poderia fazer.

Você não merece viver, pois você tirou a vida de muitas pessoas, Louis. Se elas não tiveram sua chance, por que você merece ter?

Livrei-me dos braços de Harry e corri em direção à porta, abrindo-a rapidamente. Corri para a rua, esbarrando em várias pessoas pelo caminho.

- Hey. Veja por onde você anda! - Um homem loiro empurrou-me e fui lançado ao chão.

Ele é mais um que você irá matar, Louis?

Levantei do chão e o peguei pelo braço, a raiva me cegava, meus olhos antes azuis eram vermelhos. As juntas de meus dedos eram brancas pelo soco preso entre elas.

- O que você falou?

Esperamos que sim.

- Eu disse para você olhar por onde anda. Além de louco é surdo?

Minha paciência se esgotou e senti minha mão sendo lançada até seu rosto contra minha vontade. Um soco certeiro e logo seu nariz sangrava, pingos de sangue caíam até o chão, então o menino loiro correu em outra direção.

Por isso você não deve viver.

Não senti o peso de meu corpo, mas logo ouvi o barulho estridente e a dor estonteante que saltou quando meus joelhos foram de encontro ao chão. Um grito saiu de minha garganta e no mesmo segundo Harry estava atrás de mim, me abraçando. Minha visão estava cegada como em meu sonho, eu conseguia sentir meu grito saindo de minha boca, mas não o ouvia.

Olhei para Harry e nele havia sangue, sangue em seu nariz. Provavelmente pela queda ao chão com o impulso que fiz sobre ele.

Você é tão estúpido que está deixando seu sonho se tornar realidade.

As risadas foram ficando cada vez mais altas e a cada segundo havia mais pessoas rindo. Eu podia distinguir, eram as risadas das minhas vítimas. Mark, Félicité, Charlotte, Liam, o menino da rua, Harry. Harry estava rindo em minha cabeça.

Recuperei o pouco de força que ainda restava em meu corpo e levantei-me, empurrando Harry no chão e chutando suas costelas com força.

- Eu disse para ficar longe de mim.

Nós sabíamos que você o machucaria.

Forcei meus pés a correrem, mas eles já não me obedeciam, eu não tinha controle sobre meu corpo. Arrastei-me para longe, tentando fugir dos gemidos dolorosos saídos da boca do menino de olhos verdes. Mas eles continuavam em minha cabeça, mesmo depois de tê-lo chutado, ele pediu-me para não ir.

Eu não podia ficar perto de Harry. Não podia terminar com a vida da única pessoa que ainda se importava comigo. A única pessoa que ainda importava para mim.

Harry vai morrer. Você terá que viver com esse fardo.

Arrastei meu corpo por mais alguns metros e puxei a calça de uma pessoa parada à minha frente.

- Ajude, Harry. - Minha voz havia saído cansada e fraca, eu já não aguentava o peso de meu próprio peso, estava tudo desmoronando.

Eu estava desmoronando.

Você está partido.

- Menino! É você quem precisa de ajuda! - O homem que eu havia puxado era o mesmo do soco. Seu nariz estava enfaixado.

Mas ele estava sendo gentil?

- E-eu... B-bem... H-harry.

Apontei para o menino no chão, com suas mãos na lateral de seu perfeito corpo. O homem me largou rapidamente e correu em direção a um médico. Então minha cabeça foi solta e batida no chão, aos poucos minha visão escureceu-se e só havia alguns pontos brancos, eu via Harry em uma maca com sangue em seu rosto, meu grito não saía e meu tato não funcionava.

Seu sonho tornou-se realidade.

schizophrenia » larryOnde histórias criam vida. Descubra agora