thirteen

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Meu olhar estava focado no teto enquanto Niall tagarelava sobre como eu estava magro e precisava comer, constantemente ameaçando de chamar Harry. Mas eu não me importava.

Se ele chamasse Harry seria uma vitória. Se Harry voltasse para mim, isso não seria algo ruim, de qualquer forma.

O teto estava mofado pela umidade e a chuva que não parava de cair lá fora. Eu me sentia assim, nublado, um caos. Dentro de mim havia trovões e raios. Relâmpagos e tempestades constantes. Há um mês não havia sol dentro de mim.

Eu não via Harry a um mês.

Ele está feliz sem você.

Respirei fundo, assentindo com a cabeça. Eu sabia que Harry estava feliz, ele seguiu sua vida. Apenas fez tudo que eu pedi para ele fazer. Eu não o culpo. Eu devia estar feliz por ele.

- Louis! Você está me ouvindo? - Niall estralou seus dedos na frente de meu rosto, chamando minha atenção.

- Não.

Você vai afastar a única pessoa que ainda está com você.

- Você sente falta dele.

Maldito loiro oxigenado que me conhecia tão bem.

Eu sentia falta do Harry, era óbvio, estava estampado em meu rosto. Estava escrito na minha testa. Eu sentia falta do menino de cachos a cada vez que acordava chorando pelos pesadelos, a cada vez que me machucava sabendo que não haveria ninguém para me ajudar dessa vez.

Você não pode morrer. Você merece viver essa vida miserável para pagar por tudo que fez para todos que um dia se importaram com você.

As vozes estavam constantemente em minha cabeça, muitas vezes me pregando peças difíceis de distinguir com a realidade. Minha mente era uma bagunça, eu tentava fugir das vozes e tentava fugir de Harry. Não havia nada para pensar, não havia um refúgio, nem uma fuga.

Eu estava em um ciclo de tortura sem fim, estava um um ciclo de tentar fugir, somente tentar.

- Não. - Respondi a Niall, depois de um tempo em silêncio, preso em meus pensamentos.

- Isso não foi uma pergunta.

Pela primeira vez no dia virei meu olhar para o menino ao meu lado. Sua expressão era de cansaço e pena, como se ele estivesse aqui por obrigação.

Ele não gosta de você.

Respirei fundo, com força, puxando todo o ar para os meus pulmões. Logo soltando-o em um suspiro cansado. Voltando meus olhos para o horizonte.

- Está melhor assim.

As frases que saíam de minha boca eram sempre pequenas, quando eu ainda falava. Havia dias em que eu somente queria ficar olhando para o teto, sentindo a falta de Harry.

Niall tocou meu braço e eu estremeci com seu toque quente. Meu corpo era frio, eu era um morto-vivo. Vivendo apenas pela obrigação.

- Você emagreceu dez quilos, Louis. Você não sai da cama, não come, se machuca sempre que eu estou por longe e ameaça as enfermeiras. Tem certeza que está melhor assim?

Senti meu peito se comprimir, um choque de realidade me atingiu. Eu havia perdido dez quilos, pois não tinha Harry ao meu lado. Eu havia me tornado a mesma pessoa que era antes dele. Um monstro.

Você sempre foi um monstro.

- Ele está feliz.

O loiro de olhos azuis soltou uma risada cínica e eu acabei virando minha cabeça para o encarar.

- Harry te ama, Louis. Se você acha que ele está feliz, você é burro.

Ele está certo. Você é burro!

As palavras que Harry disse quando declarou o que sentia por mim ainda martelavam em minha cabeça.

"Eu tenho que ficar por que eu também te amo."

Essa frase me enlouquecia e me acalmava. Era a razão para querer tê-lo ao meu lado, mas também era pela qual eu sabia que devia afastá-lo.

- Harry sabe se virar sozinho. - Falei baixinho, torcendo para que talvez ele realmente não soubesse se virar sozinho. Torcendo para que ele abrisse a porta e voltasse para mim.

Ele havia prometido! O menino de olhos verdes e covinhas nas bochechas havia prometido que voltaria, mas já se passou um mês e eu ainda estou sozinho.

Sozinho de corpo e alma. Me sinto em uma completa escuridão, nada faz sentido. Nada me faz feliz sem meu menino.

Ele não voltará.

A porta foi cuidadosamente aberta e meus olhos se arregalaram.

Harry estava ali. Estava parado, ainda segurando a porta.

Olhei para Niall e ele estava com um sorrisinho convencido em seus lábios.

- Eu vou te matar. - Sussurrei baixinho somente para ele ouvir.

Mate.

Virei meus olhos para a pessoa na porta. Ele usava umas calças skinny pretas e uma camiseta laranja com botões. Seu cabelo estava arrumado com uma bandana.

Quando meu olhar foi para seu rosto, senti meu mundo desabar. Havia olheiras tão fundas quanto as minhas ali, o brilho e a expressão de cuidado que existia em seu rosto não estava mais ali.

Mate-o e acabe com todo esse sofrimento.

Sua expressão era ilegível, como se não houvesse nenhuma emoção e nenhum sentimento dentro de si. Era um rosto em branco, um rosto assustador.

Olhei para o teto, afim de ignorá-lo. Então Niall me cutucou e empurrou meu corpo para fora da cama, em direção ao chão.

- Ouch! - Resmunguei quando senti a queda e logo depois a dor em minha bunda.

As vozes soltaram uma risada aguda e eu respirei fundo para não desabar ali mesmo.

Levantei, passando minhas mãos por ali e quando enfim abri meus olhos, Harry estava na minha frente.

Seus olhos estavam colados nos meus, havia uma ruga de preocupação em sua testa, suas sobrancelhas franzidas. Eu havia me esquecido o quanto amava as pequenas coisas desse menino a minha frente.

Ele é mais uma pessoa que morrerá por suas mãos.

Pisquei algumas vezes, tentando colocar em minha cabeça que ele realmente estava ali. Minha mente já havia me pregado várias peças, fazendo-me achar que ele estava ao meu lado, quando na realidade não estava.

- Você está aqui? - Perguntei em direção à ele, vendo Niall levantar-se da cama e ir para a saída do quarto.

- Estou. - Sua voz estava mais rouca que o normal, estava triste e cansada.

- Por que? - Notei a pergunta sair de minha boca somente depois de tê-la feito.

- Eu estou aqui, pois eu não vivo sem você.

schizophrenia » larryOnde histórias criam vida. Descubra agora