six

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Acordei novamente em um hospital. Isso está se tornando repetitivo.

Olhei para o lado na esperança de ver Harry dormindo na cadeira ao meu lado, mas ele não estava ali.

Suspirei e tentei me sentar, deixando rolar pequenas lágrimas apenas com esse movimento. Então com alguma força que me restava apertei a campainha que havia ao lado da cama.

Uma enfermeira apareceu. Ela era jovem, seus cabelos eram morenos e seus olhos verdes. O contorno de seu rosto me parecia familiar.

- Oi querido. Como está se sentindo? - Ela disse simpaticamente.

Ela está fingindo se importar.

- D-dói. - Falei apontando para minhas costelas.

- Pode definir a dor de um a dez, amor? - Eu conhecia essa voz.

- Sete.

Ela colocou a mão em minha testa e eu estremeci com o toque.

- Você quase teve uma overdose de remédios, Louis. E está com duas costelas fraturadas.

Você é o culpado.

- Está tudo bem. A mulher não trabalha mais lá.

Assenti.

A porta se abriu lentamente e Harry entrou com um café e uma rosquinha em suas mãos.

- Bom dia, mãe. - Mãe?

Eles estão te usando.

- Louis! Você acordou. - O menino largou as coisas em uma bancada do pequeno quarto e se aproximou de mim.

- Mãe? - Foi tudo o que consegui dizer.

- Sim, Lou. Anne é minha mãe. A melhor enfermeira do mundo.

A mulher sorriu e eu pude ver as covinhas em seu rosto, covinhas como as de Harry.

Ele também estava com um sorriso em seus lábios e eu corei, me permitindo os acompanhar.

- Seu sorriso me faz sorrir. - Falei para Harry e ele se aproximou ainda mais de mim, deixando um beijo em minha bochecha.

Saia de perto.

Soltei um grunhido e respirei fundo.

- Elas estão aqui? - Harry perguntou e eu assenti lentamente com a cabeça.

- Bem, eu vou te dar um remédio para a dor, querido. E depois deixarei vocês a sós, tudo bem?

Assenti novamente e ela me deu dois comprimidos, falando para engolir ao mesmo tempo.

Os tomei e Anne saiu, me deixando com Harry.

- O que aconteceu noite passada?

- E-eu sonhei... - Comecei a falar, mas elas me interromperam.

Não diga!

Respirei fundo e tentei conter as lágrimas que se formavam.

- Amor, olha pra mim. - Neguei.

- Eu sou uma vergonha.

O menino de cachos segurou minhas mãos e se sentou na ponta da cama.

- Se concentre em mim, não nelas.

Ele está te usando, Louis.

- Eu não mereço ter você.

- Lou... - O interrompi.

- Não, Harry. Eu não mereço. Sou somente um louco que faz o que pessoas inexistentes mandam. Eu não tenho controle de mim mesmo, Harry! Eu não mereço ninguém.

O garoto fungou e eu o olhei, havia uma lágrima rolando por sua bochecha. Quis arrancar meus cabelos fora.

Você é um monstro.

Passei a mão por ali e limpei a água que caía de seus olhos.

- Se você soubesse como minha vida era antes de você chegar, jamais diria isso. Você me salvou, Louis Tomlinson. Não o contrário.

Mais algumas lágrimas estavam se formando e meu coração estava cada vez mais aperto.

Você faz Harry sofrer.

- Não chore, por favor. - Sussurrei baixinho e fiz carinhos em sua bochecha.

- Nunca mais fala isso.

Ele enfim olhou em meus olhos e eu via a tristeza estampada ali. Essa tristeza que o deixava ainda mais bonito, ainda mais completo.

Eu não queria fazer Harry sofrer. Não queria ver seus lindos olhos tão cheios de lágrimas.

- Me desculpe.

Ele assentiu com a cabeça e segurou minha mão, que ainda estava em sua bochecha.

- Elas ainda estão aqui? - Neguei com a cabeça. - Pode me contar o que aconteceu?

- E-eu sonhei com minha irmã. Eu a matei, Harry. Esses pesadelos continuam me perseguindo, como se não bastassem as vozes.

Harry se aproximou ainda mais de mim.

- Não coloque na sua cabeça que foi você quem a matou, bebê. Foram elas. - Assenti.

- Eu acordei e elas começaram a falar coisas feias, me chamando de querido. Eu não gosto. - Suspirei. - Então eu soquei a parede repetidas vezes.

O menino me olhava com uma expressão assustada e eu me esforcei para não chorar.

- Você tem medo de mim. - Sussurrei.

- Não, Lou. Eu tenho medo de você se machucar, tenho medo de ter que colocar na minha cabeça que perdi você. - Ele desviou o olhar.

Eu quis prometer para Harry que não me machucaria, prometer que ele não iria me perder. Mas era tão difícil.

- Eu machuquei meus dedos. E doeu para colocar-los no lugar. A m-mulher ouviu meu grito e me jogou na c-cama.

Os olhos do menino maior ficaram vermelhos de raiva e ele beijou minhas mãos enfaixadas.

- Ela não irá mais te incomodar.

- Não tinha fuga, não havia ajuda. Eu estava sozinho. - Eu já soluçava.

- Você não ficará mais sozinho, amor.

Harry beijou minha testa e fez carinhos em minha bochecha.

- Nunca mais.

Ele te deixará.

schizophrenia » larryOnde histórias criam vida. Descubra agora