twenty

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A contagem estava sendo extremamente demorada, como se sete dias demorassem milênios para irem embora. As horas se arrastavam, os minutos em que Harry saía para pegar minha comida pareciam uma eternidade de solidão e fraqueza.

Perdido em meus pensamentos eu o observava dormindo, seu peito descia e em seguida subia calmamente, sua boca entreaberta e alguns cachos rebeldes caindo pelo seu rosto. Passei minha mão por ali, levando-os até sua orelha e ouvindo um resmungo de incômodo. Então sorri, beijando sua testa e olhando para a janela.

Estava nevando, flocos de neve batiam com força no vidro, um vento barulhento assobiando em meus ouvidos.

Fechei os olhos e me abaixei, enrolando meu corpo ao de Harry e beijando sua testa.

Você não pode fugir de seus demônios, Louis.

Quando voltei a abrir minhas pálpebras a cena havia mudado, eu estava na rua e o relento machucava meus braços nus. Meu cabelo voava para todos os lados e havia uma chuva extremamente gélida deixando o frio ainda mais rigoroso.

Era como se eu estivesse sozinho na grande cidade de Londres, não havia nenhuma pessoa na rua, nenhum carro. Todos os estabelecimentos estavam fechados, as portas e janelas trancadas, o barulho do vento ecoava por todos os quatro lados da rua.

- Onde eu estou? - Perguntei baixo, uma pergunta sem sentido e feita somente para mim.

Esperei as vozes responderem, talvez eu estivesse morto e esse fosse o inferno, pois bem, a solidão sempre foi o pior dos meus medos.

Ouvi alguns passos e sussurros, algumas sombras às minhas costas e com rapidez virei minha cabeça para encontrar o nada.

Cruzei meus braços, tentando buscar um ponto de aquecimento, mas minhas mãos estavam praticamente congeladas. O roxo em minhas unhas era visível de longe, minha pele mais branca que o normal. Baixei meu olhar para meus pés nus e notei a mesma coloração lá. Eu estava somente com uma calça de moletom, exatamente igual a que eu usava enquanto observava Harry dormir.

Continuei dando passos e deixando meus olhos presos ao chão, ele brilhava e tinha ondas como em um forte dia de verão, mas o frio trazia um tom de morte a todo o lugar.

Em questões de segundos um estouro foi ouvido ao meu lado, o eco deixando ainda mais assustador. Árvores passaram a pegar fogo no pequeno parque a minha direita. Corri para longe, mas então outro barulho foi ouvido e havia chamas a minha frente.

Tentei fugir, correr para o lado e para trás, mas isso apenas piorou minha situação. Eu estava preso por chamas, estava enjaulado como um animal selvagem de um circo qualquer.

- Psiu. - Um sussurro assustador veio de minhas costas, fazendo meu corpo arrepiar-se e tremer.

Aos poucos me virei, encontrando-me extasiado pelo o que via a minha frente.

Eu estava ali.

Meus olhos estavam completamente pretos, o cabelo desgrenhado, as vestes eram as mesmas e em minha mão havia uma arma.

Ao lado do meu outro eu havia Harry, sua expressão assustada despertava um instinto protetor em meu peito. O braço dele parecia estar roxo com a força do aperto.

Tentei correr, mas meus pés pareciam estar colados, como se uma força invisível segurasse meu corpo para trás, impedindo minha fuga.

- Você escolhe, Louis. Eu o mato ou mato você. - O homem idêntico ao meu reflexo falou, mas sua boca não se moveu, apenas o eco durante toda a cidade.

Novamente me senti inútil, minhas cordas vocais haviam sido arrancadas da minha garganta, tentava gritar, mas não havia nada para tirar.

- Escolha.

- E-eu. M-mate-me.

O homem sorriu, mas seu sorriso era absolutamente assustador. Senti um arrepio percorrer o meu corpo, porém minha testa estava suando frio.

- Má escolha, se você morrer, eu morro. - O homem passou as mãos pelos cachos do garoto ao seu lado. - Harry é tão inútil...

A arma foi apontada na cabeça do menino de, agora arregalados, olhos verdes. Meu corpo tremeu, eu queria chorar, queria gritar e correr. Mas nada obedecia, era como se eu estivesse em um jogo e o jogador estivesse me controlando.

- Não!

- Suas preces não irão ajudar, mais cedo ou mais tarde isso aconteceria. Não negue a verdade, Louis.

Silêncio.

Gritos, barulhos estridentes.

E eu estava no quarto novamente.

Sem pensar duas vezes comecei a gritar, balançar Harry, pedindo que por favor ele estivesse vivo.

- Você levou um tiro! Você. Levou. Um. Tiro. Por. Mim! - Eu gritava, mesmo sabendo da condição de não surtar, algo havia tomado conta de mim.

Você sabia do perigo e o trouxe para sua vida. O culpado é você.

- Louis! Louis! Merda, eu não levei tiro nenhum! - Suas mãos me balançavam com força. - Merda.

Ele sente ódio de você.

A última palavra se tornou um sussurro, algo somente para ele.

- Shhhh, amor. Não grite, se acalme.

Fui envolvido pelos seus braços, puxado para o meio de suas pernas e apertado com força.

- Por favor, Lou. Faltam apenas dois dias, você é forte. - Meu corpo tremia constantemente, eu não olhava em seus olhos, apenas mantinha minhas pálpebras cerradas.

Você apodrecerá nesse lugar.

- Olhe para mim. - Neguei.

Então o menino segurou meu maxilar com as mãos, forçando meu rosto contra o dele e colando nossos lábios.

Contra o beijo ele sussurrava juras de amor perdidas entre nossos lábios, aos poucos o suor estava me deixando. Meu corpo parou de tremer e fui tomado pelo seu calor.

Separei nossos lábios, deitando minha cabeça em seu ombro e o sentindo colocar a coberta sobre nós, voltando a deitar na cama.

- Está tudo bem? - Sua voz era calma por medo de assustar-me, seus compridos dedo faziam carinhos em meus cabelos.

Assenti para ele, olhando em seus belos olhos verdes, eles me completavam e traziam um sentido para tudo isso.

Eu sabia que toda essa luta era necessário e que valia a pena por estar com Harry. Sabia que iria se passar os dias e ele estaria comigo, que continuar lutando por ele fazia sentido.

- Eu te amo. - Sussurrei em seu ouvido, fechando meus olhos e ouvindo uma bela melodia vinda de seus lábios.

- Eu também te amo. - Cantarolou, apertando minha cintura.

Seu sorriso foi a última coisa que vi antes de adormecer imitando a expressão em meus lábios.

Você não sairá daqui.

N/A: alguém ainda lê essa fanfic esquecida? Hahahaha. Comentem!

P.S: mil desculpas pela demora, mas faltou tempo mesmo, all the love.

schizophrenia » larryOnde histórias criam vida. Descubra agora