twelve

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A rotina estava cada vez mais repetitiva, minha cama já estava tomando a forma de meu corpo, era ali onde eu ficava. Ali havia o cheiro de Harry e até mesmo alguns fios de seus cabelos. Alguns fios que eu pegava em minhas mãos e cheirava, lembrando de seus cachos em meu pescoço.

Algumas vezes buscando forças para levantar meu corpo e ir até o banheiro vomitar. Vomitar o que não havia em meu estômago. Eu ouvia minha barriga fazendo barulhos constantemente, mas a comida que me traziam não era como a de Harry.

Eu estava sozinho, sem nenhum lugar para chamar de lar, sem nenhum lugar para ir. Estava preso nessa tortura sem um final visível.

Você merece morrer de uma vez.

Um garoto perdido, era isso que eu era. Um garoto sozinho e perdido. E meu Peter Pan havia ido embora, não havia mais a terra do nunca. Somente a torturante realidade.

Você não quer viver.

O bonito sweater do menino de olhos verdes não deixava meu corpo, era quente e reconfortante, mas seu cheiro não estava mais ali. Eu já havia me acostumado, parecia normal.

Mas não era normal, era seu cheiro. A única forma de saber que ele não foi somente mais uma ilusão de minha cabeça.

Talvez se aos poucos eu colocasse em minha cabeça que ele não era nada a mais que minha mente pregando peças, talvez nesse dia eu o superasse.

Harry te odeia.

Mas quem eu queria enganar, não é mesmo? Harry foi meu primeiro amor, ainda é meu primeiro amor, e eu sempre quis que fosse o último.

Eu nunca vou o superar. Nunca vou conseguir esquecer suas belas covinhas e seu belo sorriso, nunca vou superar sua voz rouca em meu ouvido enquanto me dizia bom dia. Nunca vou esquecer de suas musicas, que ele cantava para eu dormir.

- Bom dia, Lou. - Niall estava encostado na grande porta do meu quarto.

A clínica já havia se tornado minha casa, mas meu lar estava em Harry.

Não havia voz para dizer uma sequer palavra então somente acenei com a cabeça para ele.

- Você quer comer? - Neguei. - Você precisa comer, Lou.

Eu apenas negava com a cabeça, levemente, pois movimentos bruscos a faziam doer. Meu corpo inteiro doía, não havia força, não havia vontade. Nem ao menos um refúgio.

Meu único refúgio foi tirado de mim, tirado de mim pela minha própria vontade.

Você vai morrer de fome.

- Você emagreceu tanto. - Ele passava suas brancas mãos em meus braços. - Eu preciso chamar o Harry.

- N-não! Não f-faça isso! - Levantei-me bruscamente, sentando na cama, soltando um gemido alto e doloroso pelo movimento.

Você irá matar Harry.

- Então coma, Louis. Por favor.

Relutantemente assenti com a cabeça e Niall saiu em busca de comida, deixando um beijo em minha bochecha.

Abracei meus joelhos contra meu peito em busca de conforto e deixei as lágrimas frequentes caírem, essa era minha rotina.

Miserável. Você irá morrer.

Eu comia apenas quando Niall obrigava-me e logo a comida ingerida era posta para fora. Nada ficava em meu estômago, meus joelhos não tinham forças. Eu estava acabado.

Mas valia a pena, Harry estava seguro longe de mim.

Ele está morrendo aos poucos assim como você.

-x-

Harry POV

Já havia se passado uma semana desde a última vez que eu havia visto Louis. Desde então, minha vida se tornou um verdadeiro inferno.

Minha respiração já saía fraca, meu coração mal batia e as simples ações do dia-a-dia pareciam ser difíceis demais para o meu corpo.

Meus joelhos não saíam de minha cama e meu pensamento não saía de Louis.

Eu apenas pensava em seus lindos olhos azuis olhando em meus, a memória de suas ruguinhas martelava em minha cabeça. A memória de vê-lo brigando com sua franja por cair em seus olhos.

Flashback ON

- Esse maldito cabelo! - Louis fazia um biquinho enquanto afastava sua franja do vento que batia no jardim onde estávamos.

- Hey amor.

Peguei uma bandana de meu bolso e amarrei em seu cabelo, colocando-o para trás. Passando minhas mãos pelos fios que ficaram levantados.

- Melhor?

Vi o pequeno menino assentir e o puxei em meus braços, deixando um beijo em seus cabelos e expirando seu cheiro. Seu cheiro e meu cheiro. Amarrados e presos um ao outro, exatamente como seus donos.

Flashback OFF

Senti as lágrimas caindo em meu rosto e tentei de todas as formas fugir do instinto que me dizia para correr até Louis. Eu queria o abraçar e dizer que ele salvou minha vida, dizer que sem ele não vejo sentido em continuar vivendo. Queria beijar seus lindos e finos lábios até cansar.

Mas eu não podia, eu fazia mal para ele, ele estaria bem se eu estivesse longe. Quanto mais longe melhor.

-x-

Louis POV

Niall me deu comida e sentou-se ao meu lado, puxando meu corpo em direção ao seu ombro.

Você faz Harry sofrer.

- Quer desabafar?

Balancei minha cabeça com cuidado, em negação. Não havia o que desabafar, eu era apenas um monstro.

E mesmo com todas as tentativas de fazê-lo bem, você só consegue o fazer pior.

- Isso vai te fazer melhor.

Respirei fundo algumas vezes, tentando acalmar as lágrimas que saíam de meus olhos como cachoeiras.

As olheiras abaixo dos mesmos cresciam cada segundo mais, doía tanto. Tudo doía.

Ficar longe de Harry doía.

- Eu só estou cansado de ser um monstro, Ni. - Minha voz saía cansada, junto com minhas lágrimas. - Não quero ser o louco que precisa ficar isolado, pois todos sentem medo. Quero ser uma pessoa normal, poder estar com Harry, poder sentir o amor sem o medo de machucá-lo. Mas eu não posso.

Você faz todos à sua volta sofrerem.

- Isso não é sua culpa, você sabe que não é. São elas, as vozes. Não se culpe por algo que não é seu.

- Às vezes concordo com as vozes... - A testa do loiro estava franzida. - Eu mereço morrer. Mereço sofrer tudo que fiz as pessoas passarem, mereço ter essa vida infernal.

Você está aprendendo.

N/A: Doi em mim também!

All the fucking love, Shuli.

schizophrenia » larryOnde histórias criam vida. Descubra agora