twenty five

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Os dias se passavam e o livro chamava cada vez mais minha atenção. Harry havia voltado a trabalhar, mamãe também, sua confiança em mim havia aumentado; minha auto confiança e meu auto controle também.

Já estava nas últimas páginas da história, uma história de amor e cumplicidade, não somente entre dois namorados. Havia tanto apoio e suporte ao redor da menina que eu me perguntava se eu também tinha pessoas assim que me rodeavam e nunca havia percebido.

Eles nunca se preocuparam com você.

Um arrepio percorreu meu corpo e levantei-me para fechar a janela, vendo o anoitecer cada vez mais próximo. Ao voltar para cama o rumo do que estava em minhas mãos foi outro. Estava tudo bem. Um belo baile. E então o bullying.

Cenas começaram a rodear minha cabeça, cenas de todas as vezes em que fui chamado de louco e fui imitado, todas as vezes em que tive que estar sozinho, somente com as vozes, almoçando dentro de uma cabine de banheiro, abraçando meu corpo e tentando ser abraçado por elas.

Nós sempre estivemos aqui com você.

Minha espinha tremeu, minha mente fez voltas e a tontura se apossou de meu corpo. Continuei a leitura.

"Eles eram muitos, as vozes eram muitas; o mundo parecia estar desabando ao meu redor."

Fechei meus olhos enquanto imaginava as cenas passando por meus pensamentos. Quando voltei à abri-los tudo parecia girando, as cores pareciam mais brilhantes de forma diferente, me deixando praticamente cego.

Você não percebe?

Prestei atenção, curioso pela expectativa de saber o restante.

Isso sempre acaba assim, Louis. Este é o fim, você não se encaixa na sociedade e nesse mundo podre. Você não percebe que estamos tentando lhe proteger?

Assenti calmamente, sentindo todos os pêlos de meu corpo arrepiados, concordando contra a minha vontade, sabendo que meu interior visualizava o perigo. Era perigoso. Continuar era perigoso.

Estamos tentando acabar com seu sofrimento. Você não percebe que Harry lhe deu esse livro para vê-lo triste? Não percebe que está tudo contra você? Nós estamos ao seu favor.

Um forte vento bateu na casa, trazendo assobios aos meus ouvidos e abrindo fortemente a janela. Tremi, continuando com os olhos presos no livro enquanto caminhava em direção às pequenas portas de madeira.

Estava tudo confuso. Em mim, no livro, na vida. Eu sentia todo o mundo girando e após fechar a mesma, caí em direção ao chão. As lágrimas começaram a rolar por minha face enquanto ouvia sussurros em minha cabeça e uma grande matança no baile em minhas mãos.

Desista, Louis. Venha conosco. Nós sabemos que você merece algo melhor. Desista.

Suas vozes era tão suaves que me fizeram viajar para outro mundo, eu me sentia no corpo de Melanie - a protagonista do antes tão belo livro. Havia todo o tipo de sangue pelos lados, corpos jogados ao chão, cacos de vidro em jugulares, em peitos, pessoas agoniando e tremendo-se no duro piso.

Tremi, jogando o livro no chão e engatinhando até a porta, tentando fugir, tentando mudar.

Sua vida terminará assim, Louis. Desista.

Arrastei meu corpo até o banheiro, tendo duas visões da minha realidade, uma falsa, uma verdadeira. As cores eram tão brilhantes que meus olhos pareciam cegados, as vozes tão altas como se meu cérebro pudesse explodir a qualquer momento.

Tentei levantar-me e meu corpo caiu novamente, fraco demais para suportar o próprio peso. Chorei, abracei-me, bati minha cabeça na parede e por fim decidi ouvi-las.

— Eu confio em vocês. - Ouvi minha voz soar baixa e fraca, eu estava desistindo. Eu estava seguindo seus conselhos, eu estava fazendo o melhor.

A lâmina passou com força pelo meu pulso, derrubando gotas de sangue aos azulejos azuis do banheiro. A dor era intensa, absurda, passando por cada veia e nervo de meu corpo, cada músculo pedindo por ajuda. Mas eu não parava, elas não paravam, não conseguia, talvez não queria. Cada vez mais fundo, cada vez mais doloroso, cada vez mais libertador.

— Loui... - O nome foi cortado, os passos cessaram, não eram em minha imaginação, ou eram. Eu já não distinguia o certo do errado, o real do imaginário. — O que v-você...? Louis? Louis!

Ouvia a voz rouca de Harry, ouvia seu desespero, mas tudo estava tão escuro, tudo estava tão irreconhecível.

Senti sua respiração extremamente perto, em meu ouvido, em minha nuca, em meu ombro, em mim. Mas quando virei-me não foi Harry quem eu encontrei, era somente mais uma prega, apenas mais uma piada, as vozes estavam rindo, eu estava rindo de minha própria desgraça.

Quem estava à minha frente era apenas mais uma alucinação, apenas mais uma pessoa do livro, apenas mais um cometendo bullying com Melanie, cometendo bullying comigo.

As vozes estavam em confusão, gritando, rindo, sussurrando, chorando, choramingando. Todas as emoções dentro de mim, eu estava rindo, mas as lágrimas que desciam por minhas bochechas eram somente de tristeza. Meu corpo pedia por socorro, queria gritar, espernear, mas eu não o escutava.

A pessoa forjando-se como Harry continuava gritando em meus ouvidos, e então sussurrava, chorava alto, e então ria. O exterior refletia o interior.

Acabe com isso. Livre-se de tudo.

Após essas palavras, tudo ficou em silêncio, as cores voltaram a fazer sentido e minha visão tornou-se realidade. Não havia mais vozes gritando, nem pessoas no suposto mundo real. O silêncio era ensurdecedor.

Quando, por fim, abri os olhos, havia sangue por todos os lados, mas eu não estava na sala do grande baile, eu estava no banheiro de minha casa, exatamente ao lado da privada e olhando sem reações para um corpo agoniando no chão, como se estivesse na beira de um precipício e o vento o estivesse empurrando para baixo.

Minha respiração parou, minha pulsação também; quando ouvi a voz e vi os cachos, os olhos verdes semicerrados, os lábios vermelhos com sangue fresco.

— Eu... - Harry falou, quebrando meu corpo em milhares de microscópicos pedaços, quebrando meu coração, minha alma. — Eu amo você.

Seu peito parou de mexer-se, seus olhos estavam vidrados, havia acabado.

— Não! - Gritei, com todo o ar de meus pulmões. — Não! Harry, Hazzy, não! Eu amo você.

Continuei mexendo seus ombros, puxando seu corpo, juntando nossos sangues, tentando juntar nossas almas. Sua pele gelada me fazia chorar, gritar, fugir. Mas eu só queria estar com ele. Era assim que era para ser. Eu e Harry. Para sempre.

— Me leve junto com você!

E com esse pensamento passei a lâmina ainda mais forte em meu braço, ouvindo gritos e choros absurdos, até escapar para a escuridão, ansiando encontrar meu menino de cachos, minha salvação.

Você está livre.

n/a: quem tá vivo sempre aparece né; só tem mais o epílogo, mores

schizophrenia » larryOnde histórias criam vida. Descubra agora