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Alion sentiu-se sem chão, como se tudo ao redor fosse um véu de ilusão tecido por Seraphion. As sombras ao redor pareciam se aproximar, moldando-se aos desejos de seu captor, e ele sabia que a chance de fugir estava cada vez mais distante. Cada palavra que Seraphion havia dito parecia corroer suas defesas, desvanecendo sua resistência até ele não conseguir mais discernir onde terminava o homem que era e começava a criação que Seraphion queria que ele fosse.

Ele cerrou os punhos, tentando se agarrar a algum fragmento de si mesmo. Mas Seraphion, atento ao menor gesto, deu um passo à frente, um sorriso sombrio dançando em seus lábios. Ele levantou uma mão e a colocou suavemente no peito de Alion, o toque mais frio que ele já havia sentido. "Você está tão perto de se libertar de tudo isso, Alion. Basta um último passo, e toda dor, todo fardo... se dissipará. Confie em mim."

Alion mal podia pensar com clareza, sua mente era um redemoinho de sensações. Ele sabia que ceder seria fácil, mas lutar era o que sempre havia feito. No entanto, o desejo de esquecer todo sofrimento era tentador demais. Ele se sentiu desmoronar, e quando finalmente ergueu o olhar, seus olhos encontraram os de Seraphion, onde viu um reflexo distorcido de si mesmo – um ser quebrado e moldado por outro.

"Alion," a voz de Seraphion penetrou fundo, quase como uma carícia amarga, "deixe-me te mostrar o que você realmente é."

Aquele era o ponto de não retorno.

O coração de Alion batia forte, como se ele estivesse à beira de um precipício. Cada palavra de Seraphion parecia arrancar um pedaço da sua resistência, cada olhar penetrante trazia uma nova onda de incerteza. Ele queria gritar, mas sua voz parecia afogada em sombras. Seraphion se aproximou mais, seus olhos brilhando com uma determinação e um fascínio que Alion não conseguia decifrar.

"Você sente isso, não sente?" Seraphion sussurrou, o tom quase sedutor. "A liberdade de não precisar lutar. Deixar de lado as correntes que você mesmo se impôs. Você foi forte por tanto tempo, Alion. Mas até os mais fortes precisam de um momento para se entregar."

As palavras de Seraphion eram como um veneno doce, uma promessa de libertação da dor. Ele sentiu uma fraqueza desconhecida tomar conta de si, uma vontade de ceder que lutava contra cada parte sua que ainda resistia. Mas Alion não sabia mais o que era real e o que era manipulação. Ele era um guerreiro, um líder, alguém que carregava o peso das escolhas e das consequências. Porém, agora, era como se estivesse se dissolvendo nas mãos de Seraphion, cada pedaço dele sendo consumido.

Seraphion, observando a batalha interna de Alion, sorriu com uma satisfação inquietante. "O que você sente agora," ele murmurou, "é apenas o início. Quando você se entregar totalmente, verá o que eu vejo – o verdadeiro Alion, livre da ilusão de controle." Suas palavras eram um sussurro profundo, quase como uma hipnose. Ele colocou a mão no ombro de Alion, e um calor estranho percorreu seu corpo, confundindo ainda mais sua mente.

Alion sentiu que seus pensamentos se tornavam uma neblina, seus sentidos se embaralhavam, mas ele ainda não se entregaria tão facilmente. Em um último lampejo de força, ele ergueu a mão e a colocou sobre a de Seraphion, segurando-a com força, o olhar fixo no dele, como se tentasse se agarrar a algo, a qualquer coisa, que pudesse mantê-lo consciente.

Mas Seraphion apenas o olhou com um misto de ternura e triunfo. "Esse é o espírito, Alion. Lute. Quanto mais você luta, mais delicioso será o momento em que finalmente ceder."

As palavras de Seraphion perfuraram como lâminas afiadas. Ele se aproximou mais uma vez, sussurrando ao ouvido de Alion. "E quando você ceder... você será meu. Por completo."

A respiração de Alion vacilou. Ele percebeu que a batalha não era mais contra Seraphion – era contra ele mesmo. Em um último esforço, ele tentou recuar, mas sua mente, corpo e espírito estavam em colapso, cada vez mais mergulhando no abismo.

A Saga dos Dragões Perdidos - VOL 2Onde histórias criam vida. Descubra agora