A Saga dos Dragões Perdidos - VOL 2

"Reflexos da Alma"

A cópia parecia presa em um ciclo, repetindo as palavras com uma frequência crescente, como se tentasse entender o significado daquilo que ouvira. "Eu... eu... eu..." sua voz tremia, cada repetição mais vacilante que a anterior, como se cada "eu" fosse uma tentativa frustrada de encontrar uma identidade própria.

Lysander, silencioso até então, deu um passo à frente. Seus olhos, sempre firmes e carregados de uma determinação silenciosa, não estavam mais voltados para Alion ou para o futuro incerto que se desdobrava. Estavam fixos na cópia, naquele ser quebrado e perdido que, no fundo, não sabia ainda quem era. O ar ao redor parecia se aquecer com sua presença, a tensão crescente à medida que ele se aproximava.

Com um gesto firme, Lysander colocou a mão sobre o ombro da cópia, interrompendo sua repetição. "Você não precisa mais procurar", disse ele, sua voz baixa, mas infundida com uma autoridade implacável. "Eu já decidi. O seu lugar não é em busca de um 'eu'. O seu lugar é aqui, comigo, na escuridão."

A cópia olhou para Lysander, os olhos ainda confusos, ainda incertos, mas de algum modo mais focados, como se suas palavras finalmente tivessem penetrado. Lysander, com um sorriso quase imperceptível, olhou para Alion. Ele sabia o que estava fazendo, e sabia também o que isso significava. Eles não podiam mais esperar que a cópia encontrasse sua própria identidade. Às vezes, o caminho mais direto era aquele que levava para a escuridão, para um lugar onde a redenção não vinha da busca interminável por luz, mas da aceitação do próprio ser.

Alion observou a cena em silêncio, a expressão distante, seus pensamentos mesclados. Ele sabia que o que Lysander estava oferecendo à cópia não era uma solução fácil. Mas talvez, em algum lugar, na escuridão onde ele próprio ainda lutava para encontrar a paz, fosse exatamente ali que a cópia, e talvez até ele mesmo, precisassem estar para crescer.

"Então, que comece a verdadeira jornada", Lysander murmurou, puxando a cópia para mais perto de si. "Na escuridão, encontraremos nossa verdade."

Alion observou a cópia, um leve frêmito de perplexidade passando por seu olhar. Ele estava acostumado a ver os outros se prostrando, a se sentirem pequenos diante da grandeza que ele projetava, mas algo sobre a vulnerabilidade da cópia o tocou de maneira inesperada. Sua própria luta, seu próprio medo de não ser digno, parecia agora refletido naquele ser que mal começava a entender o seu lugar no mundo.

"Não." A palavra de Alion saiu firme, quase cortante, como se ele estivesse interrompendo a própria dúvida que ele mesmo carregava. Ele deu um passo adiante, erguendo o queixo da cópia com a mão, fazendo-a olhar nos seus olhos. "Não, você não está aqui para se sentir digno ou ind digno de mim. O que você é, o que você faz, não é sobre ser melhor ou pior do que alguém. É sobre encontrar a coragem de ser quem você é."

A cópia, com os olhos fixos em Alion, parecia absorver aquelas palavras como se fossem um elixir. Havia tanto temor em sua postura, como se ele tivesse passado a vida inteira acreditando que sua existência era definida pela aprovação de outros, pela imagem que construíra de si mesmo, e não pela verdade de seu ser.

Alion continuou, sua voz mais suave, mas ainda imponente. "Não se mede dignidade pelo que os outros pensam. Dignidade vem de dentro, de ser capaz de olhar para si mesmo e saber, sem medo, que você pode mudar. Que você pode crescer. Não precisa se desculpar por quem você foi ou por quem pensa que é. O que importa é quem você decide ser agora."

Lysander, observando o momento, manteve-se em silêncio, mas algo em seu olhar refletia uma compreensão profunda. Ele sabia o que Alion queria transmitir: a verdadeira força não vinha da perfeição, mas da aceitação e da luta para se tornar mais do que as sombras do passado.

"Eu... não sei se consigo...", murmurou a cópia, a voz ainda hesitante, mas com uma faísca de algo novo em seus olhos. Algo que não era dúvida, mas sim uma busca por algo mais, algo que ainda não compreendia, mas que agora começava a tocar a superfície.