A Saga dos Dragões Perdidos - VOL 2

"Sombras de Um Amor Perdido"

O ar na sala se tornara denso, quase palpável, e uma pressão inumana parecia apertar as paredes, como se o próprio espaço estivesse sendo consumido pela escuridão. Alion, agora uma criatura de pesadelo, seus olhos vazios refletindo a ausência de alma, erguia-se, imponente e irreconhecível. Sua silhueta, antes humana, agora parecia flutuar, distorcida, como se a própria essência de sua forma estivesse sendo arrancada e recriada sob a vontade de Azrael.

Lysander, imerso em sua dor, tentava mover-se, mas seu corpo parecia estranhamente fora de seu controle. Seus músculos estavam tensos e rígidos, como se a própria gravidade o tivesse abandonado. Ele queria gritar, correr, lutar, mas tudo o que conseguia era um suspiro abafado, preso dentro de sua garganta apertada pela angústia. O homem que ele amara agora estava perdido, sua alma submersa nas trevas, e diante dele estava apenas uma sombra, um vazio incontrolável.

Azrael, presente em cada brecha da escuridão, ria baixinho, como se os sofrimentos de Lysander fossem apenas uma melodia suave para seus ouvidos imortais. Ele sentia o controle absoluto, o poder que escorria das profundezas do inferno, envolvendo Alion como uma segunda pele. Não havia mais espaço para dúvidas, arrependimentos ou misericórdia; o que restava era apenas a implementação de um plano antigo, predestinado, que se espalharia como veneno pelo mundo.

Os olhos de Alion brilharam com uma luz fria e distante. Não era mais a dor que o guiava, mas uma fome insaciável por destruição. Seus passos eram lentos, meticulosamente calculados, como se ele estivesse se aproximando de uma presa indefesa. A transformação não estava apenas em seu corpo; ela corroía suas emoções, tornando-o algo menos que humano, mais que monstro.

Lysander, com sua visão turva pela dor, finalmente tentou falar, uma única palavra escapando entre os lábios trêmulos, mas ela morreu antes de ser dita. O som de sua voz, ou melhor, o vazio que ela trouxe, era tudo o que restava. A solidão de sua alma, agora rachada e irreparável, se refletia no olhar vazio de Alion.

Era tarde demais. Azrael havia vencido.

E a escuridão se estendeu, não apenas pela sala, mas pelo coração de Lysander, pelo mundo ao seu redor. O terror que se espalhava não era apenas físico; era psicológico, uma promessa de que nada mais seria o mesmo. O caos se erguia, implacável, e o futuro era agora uma sombra indistinta, onde a luz nunca mais poderia tocar.

A morte, que vinha para muitos, agora dançava entre os vivos, e o mundo, uma vez governado pela esperança e amor, seria consumido pela fria indiferença do domínio de Azrael.

À medida que a transformação de Alion se completava, uma sensação de horror tomou conta de todos na sala. Não era apenas sua aparência física que estava mudando — era algo mais profundo, algo que ultrapassava a mera carne e ossos. Seus traços se distorciam, seus olhos refletiam uma escuridão familiar, e todos, de alguma forma, reconheceram o que estava acontecendo.

Lysander, ainda paralisado e impotente, sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao olhar para Alion. Sua mente, embora sufocada pela dor, finalmente fez a conexão. O olhar vazio de Alion, os contornos do rosto, a postura imponente — tudo isso era uma réplica exata de alguém que ele conhecia muito bem. Não era apenas uma transformação física; era uma cópia de seu próprio pai, um reflexo de algo muito mais profundo e aterrador. Alion, em sua nova forma, era a imagem do homem que havia causado tantas cicatrizes em sua vida, o mesmo que havia manipulado, destruído e traído.

O peso da revelação atingiu Lysander com força. Ele havia perdido Alion para Azrael, mas agora percebia que havia perdido algo ainda mais fundamental: o próprio destino de seu filho havia sido alterado por uma força maligna que o transformava em uma sombra do passado. Ele não estava apenas vendo seu amado se tornar uma criatura de escuridão; ele estava vendo o retorno de tudo o que havia sido destruído, uma recriação do mal que ele tanto tentara evitar.