A Saga dos Dragões Perdidos - VOL 2

Entre Sombras e Destino

O ambiente ao redor de Alion tornou-se um redemoinho de sombras e luzes. Ele sentia cada fragmento de sua mente lutar contra as ondas de dúvida e medo que Seraphion invocava em seu interior. A figura feminina que surgira diante dele parecia etérea, entrelaçando-se ao próprio tecido do universo ao redor, como se ela mesma fosse uma manifestação do destino que Alion estava destinado a confrontar.

A mulher, cuja presença irradiava um misto de serenidade e poder ancestral, estendeu a mão em sua direção, mas ele hesitou. Suas próprias mãos tremiam, pesadas com a responsabilidade que até então ele havia ignorado. Ele mal conseguia encarar aqueles olhos vazios, que, de algum modo, pareciam enxergar cada detalhe de sua alma.

"Alion, você entende agora," disse a mulher, sua voz reverberando como um eco que alcançava os recantos mais sombrios da mente dele. "Todos os caminhos que você trilhou o trouxeram a este ponto. Este momento de escolha é o ponto culminante de tudo que você representa."

"Escolha?" Alion murmurou, sentindo uma mistura de indignação e exaustão. "Que escolha me resta? Você e Seraphion controlam cada passo, cada pensamento! Como posso tomar uma decisão que seja realmente minha?"

Ela o observou com uma compaixão quase dolorosa. "O verdadeiro controle não é sobre os passos que você dá, mas sobre como você reage quando o chão desaparece sob seus pés. A verdade é esta, Alion: você é tanto uma peça quanto o mestre neste jogo. E, por mais que o destino o tenha guiado, ele não pode fazer mais do que oferecer uma direção. Cabe a você decidir se caminhará até o fim... ou se lutará para quebrar as correntes."

As palavras ressoaram em Alion, profundas e quase familiares. Ele se lembrou de sua infância, das histórias que lhe contavam sobre heróis que enfrentavam forças impossíveis, sobre aqueles que, mesmo diante do destino inevitável, escolhiam seu próprio caminho. Ele sempre acreditara que esses contos eram fantasias, algo distante da dura realidade que vivia. Mas agora, diante dessa presença, percebia o quanto essas histórias haviam plantado sementes em seu espírito.

Seraphion se aproximou, interrompendo os pensamentos de Alion, sua presença uma força esmagadora e inescapável. "Está claro que você está perdido, Alion," ele zombou, sua voz um sussurro sombrio que se infiltrava em cada canto da mente dele. "Mas talvez seja isso que lhe dará forças para enfrentar o que está por vir. Pois, quando se perde tudo, até mesmo o medo deixa de ter significado."

A figura feminina lançou um olhar frio para Seraphion, e o ar ao redor deles pareceu pulsar com tensão. Alion se viu entre os dois, opondo-se à dúvida que o puxava para a escuridão e a esperança tímida de uma liberdade ilusória. A escolha parecia impossível, mas ele sabia que não podia recuar agora.

"Eu... posso não entender tudo," ele disse, sua voz vacilante mas firme. "Mas sei que preciso descobrir o que sou, mesmo que isso signifique desafiar o destino. E, se houver uma verdade oculta em mim, então estou pronto para enfrentá-la."

Um silêncio pesado caiu sobre a sala, enquanto as palavras de Alion se dissipavam no ar. A figura feminina sorriu, seu semblante irradiando algo que ele só podia descrever como orgulho, enquanto Seraphion recuava, seus olhos brilhando com uma fúria contida.

"Então seja," murmurou Seraphion, sua voz carregada de ameaça e, ao mesmo tempo, de um estranho respeito. "Mas lembre-se, Alion: o destino não é tão misericordioso quanto você imagina. Ele pode conceder-lhe uma chance, mas jamais será clemente. Que sua coragem seja suficiente para suportar o peso do que está por vir."

A figura feminina acenou para ele, e, por um instante, Alion sentiu a pressão diminuir. Mas a sensação de tranquilidade durou apenas um segundo, pois uma nova onda de poder — e uma nova realidade — parecia prestes a desmoronar sobre ele. Ele não sabia o que o aguardava, mas, pela primeira vez, sentia-se preparado para enfrentá-lo.