A Saga dos Dragões Perdidos - VOL 2

...

Seraphion permaneceu imóvel, como uma sombra que se estendia além do alcance da luz. Seus olhos brilhavam com um prazer silencioso, mas algo em sua postura se modificava quando fixava o olhar em Alion. Algo que não se via frequentemente em Seraphion: uma tensão sutil, quase imperceptível. Ele se deliciava com o controle que exercia, mas havia algo mais que o atormentava — um desafio que não podia resolver facilmente, uma chama de resistência que ainda ardia em Alion.

Alion, por sua vez, sentia cada palavra e gesto de Seraphion como se fossem lâminas finas, cortando-lhe lentamente. Mas enquanto a mente dele tentava ceder, seu coração, inabalável apesar de tudo, pulsava com uma força que ele não compreendia completamente. Havia algo de mais profundo em sua alma, um fragmento de si mesmo que se recusava a ser quebrado, não importa o quão forte fosse a pressão.

A escuridão da noite parecia envolver ainda mais os dois, como se o universo inteiro observasse com atenção o duelo invisível que se desenrolava. Alion não sabia se era a dor ou a raiva que o mantinha firme, mas algo nele parecia estar se formando — uma força que talvez fosse o oposto de tudo o que Seraphion esperava dele.

E, enquanto o vento frio da madrugada começava a soprar, levando consigo os últimos vestígios do dia, Alion sentiu uma faísca em seu peito, como uma promessa de algo que ainda estava por vir. O amanhecer, esse inimigo distante, agora parecia ser um sinal de que uma nova batalha se iniciaria — mas, desta vez, talvez fosse ele quem tomasse o controle.

Seraphion, por um breve momento, pareceu perceber essa mudança, seus olhos se estreitando, mas não houve tempo para mais palavras. O que restava agora não era mais apenas uma guerra de vontades. Era algo maior. E, enquanto a aurora se aproximava, o destino dos dois estava prestes a ser reescrito.

O primeiro vislumbre da luz do amanhecer tingia o horizonte com tons de vermelho e dourado, como se o próprio céu estivesse tentando forjar um novo começo. Mas, no coração daquela noite silenciosa, nada parecia indicar que o futuro seria gentil com Alion ou Seraphion. Havia um peso nas sombras que se alongavam, como se a própria terra soubesse o que estava prestes a acontecer.

Alion respirou fundo, tentando dissipar a névoa em sua mente. Cada respiração trazia um fragmento de clareza, como se algo dentro dele estivesse se rearranjando, como peças de um quebra-cabeça que ele, até então, não conseguia compreender. Seus olhos, antes vacilantes, agora se fixavam em Seraphion com uma determinação inesperada. O domínio mental de Seraphion, que até então lhe parecera tão absoluto, parecia não mais tê-lo completamente.

Seraphion observou, com uma curiosidade fria, a transformação silenciosa de Alion. Ele não sabia se isso significava uma perda de controle ou um ganho imprevisto de poder. No entanto, algo dentro de Seraphion despertou — algo que ele ainda não podia rotular, mas que se aproximava da raiva, algo que não se via em sua natureza.

"Você realmente acha que pode resistir?" Seraphion perguntou, sua voz suave, mas carregada de uma ironia inquietante. "A dor não é uma escolha, Alion. Você nunca teve poder sobre ela. E, agora, você é meu para sempre."

Alion, ainda segurando a resistência dentro de si, não respondeu imediatamente. Sua mente estava tumultuada, mas ele sentia que, de alguma forma, as palavras de Seraphion não mais tinham a mesma força. O controle de Seraphion estava se desfazendo, não porque Alion o estivesse desafiando diretamente, mas porque algo em seu interior, algo que ele nunca soubera que possuía, estava se tornando mais forte.

"Você não me conhece, Seraphion," Alion disse finalmente, sua voz firme e desafiadora. "Você nunca soube quem eu realmente sou."

Seraphion, por um momento, parecia atônito. Algo nas palavras de Alion, nas profundezas do olhar que agora o desafiava, fez com que ele hesitasse. Ele, que sempre estivera no controle, agora parecia vulnerável de uma maneira que nunca imaginara.

A tensão no ar era palpável, e o silêncio se estendia entre eles como um fio tênue prestes a se romper. O amanhecer continuava a se aproximar, mais inevitável a cada segundo, e com ele, a promessa de um novo capítulo. Mas qual seria o próximo movimento de Seraphion? E como Alion, agora despertando para uma força maior dentro de si, responderia? A batalha entre eles não havia terminado. Na verdade, ela mal tinha começado.

Seraphion permaneceu em silêncio, seu olhar afiado como uma lâmina, estudando Alion como se tentasse decifrar a fonte daquela força recém-descoberta. Ele havia esperado que o medo, a dor, ou a dúvida prevalecessem, mas o que Alion demonstrava agora era algo muito mais perigoso: uma resistência silenciosa, uma força que não vinha do corpo ou da mente, mas da alma.

O sorriso de Seraphion se desfez lentamente, dando lugar a uma expressão de algo como frustração disfarçada. Ele não gostava de ser surpreendido, e muito menos de ser desafiado por algo que não poderia controlar. Mas, à medida que observava os olhos de Alion, ele sentia uma sensação estranha — um inquietante reconhecimento de que havia algo ali que ele não compreendia, algo que ele não conseguia dobrar.

"Você não percebe, não é?" disse Seraphion, a frieza em sua voz se tornando quase imperceptível. "Eu sempre soube que havia algo de especial em você. Não é só a sua dor que me interessa, Alion. Não é só o seu sofrimento... é a resistência. O fato de você não se render completamente."

Alion, por um momento, ficou em silêncio, como se as palavras de Seraphion o atravessassem. Mas, em seguida, uma centelha de entendimento brilhou em seus olhos. Ele sabia o que Seraphion queria. O que ele procurava não era apenas a submissão de Alion — mas a quebra total, a destruição de qualquer vestígio de poder que ele ainda tivesse. E, ao fazer isso, Seraphion teria ganho mais do que uma vitória. Ele teria destruído a própria essência de Alion.

"Você me subestima," Alion respondeu, a confiança em sua voz agora inconfundível. "A resistência não vem do que você pode fazer com minha mente, Seraphion. Vem do que você nunca pode controlar — o que há dentro de mim. E você vai ver que isso é mais forte do que qualquer domínio."

Seraphion riu, mas o som não foi de prazer. Foi uma risada amarga, quase vazia, como se ele tivesse perdido o controle sobre algo que nunca imaginou ser possível. "Você acha que é forte porque ainda acredita que pode lutar? Você não passa de um peão em um jogo que você nem mesmo entende. Eu sou o mestre, e você... você nunca será mais do que uma peça no meu tabuleiro."

Alion não se deixou abalar. Havia algo dentro dele que queimava com uma intensidade que ele jamais soubera antes. Não era apenas a dor, não era apenas a luta por sobrevivência. Era a verdade que ele começava a compreender: Seraphion, com toda a sua grandiosidade e poder, não poderia tocar o que realmente importava. O que ele possuía era o último reduto de sua humanidade — e isso, por mais que Seraphion tentasse, jamais poderia ser tomado.

"Eu não sou seu peão, Seraphion. Sou o único que pode decidir meu destino. E vou lutar para garantir que você nunca tenha controle sobre isso."

Aquelas palavras pareciam ecoar pela noite como um juramento silencioso, uma promessa de resistência que estava prestes a quebrar o equilíbrio entre eles. O amanhecer finalmente chegou, tingindo o céu com a luz dourada de um novo dia, mas para Seraphion e Alion, nada parecia mais distante do que a paz. O jogo deles estava longe de acabar. E agora, mais do que nunca, Alion sabia que sua luta não era apenas contra Seraphion. Era contra a própria natureza do que Seraphion representava — uma força que, por mais que parecesse invencível, ainda enfrentaria a força da alma humana, que, contra todas as probabilidades, poderia resistir.

E assim, a guerra entre eles se intensificava, agora mais do que nunca. O silêncio da noite foi quebrado, não pelo som do amanhecer, mas pelo ressoar da batalha silenciosa que se travava nos corações e mentes dos dois. E, talvez, só então, o verdadeiro jogo começasse.