"Reflexos do Pecado"

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A cópia de Alion permaneceu imóvel, sem emitir um som, mas as palavras de Lysander eram como uma sentença. Ele sabia que, em algum momento, a criação de sua vontade não teria mais utilidade. Talvez fosse um luxo descartá-la como um objeto sem valor. Mas, por dentro, uma parte dele não poderia evitar sentir um peso de culpa, uma leve tensão em sua mente.

Ele respirou fundo e se afastou, movendo-se para uma mesa próxima, onde as relíquias de seus experimentos aguardavam. Com um gesto, fez a cópia seguir em silêncio, como se estivesse absolutamente subordinada ao seu comando.

Lysander, agora com as mãos postas na mesa, olhou para a cópia e sussurrou para si mesmo: "Quando o objetivo se tornar inútil... o fim será o seu destino."

Mas a pergunta persistia na mente dele, como uma sombra ameaçadora. E quando o fim chegar, quem será o verdadeiro culpado por tudo isso?

Lysander sempre soubera que sua jornada para o poder teria um preço. Mas o que ele não previu foi o peso esmagador da responsabilidade. Era fácil ver os outros como peças, simples ferramentas para alcançar seus fins, mas a realidade era bem mais complexa. Ele não estava mais lidando com sombras ou marionetes. A criação de Alion, uma cópia perfeita, deveria ser uma extensão de sua vontade. Mas, conforme os dias passavam, ele começava a questionar: quem realmente controlava quem?

O som abafado da porta se fechando atrás dele parecia ecoar em seus ouvidos. Ele virou-se, encarando a cópia que permanecia em sua postura rígida. Aqueles olhos vazios, sem alma, sem história... Mas eram olhos que ele mesmo havia criado.

— Você não entende, não é? — disse Lysander, com uma ponta de amargura na voz, mais para si mesmo do que para a cópia. — Eu não criei você para ser nada mais que uma ferramenta. Mas, às vezes, é impossível evitar a dúvida. Será que... sou eu quem sou a ferramenta?

Ele olhou para as relíquias sobre a mesa. Os frascos e instrumentos, ainda cobertos pela poeira do tempo, pareciam zombar dele. Eles o haviam ajudado a criar Alion, mas de alguma forma, ele também havia se perdido nesse processo. Como herdeiro de um legado de grandes feiticeiros, ele deveria ser um mestre em controlar a magia, mas a verdade era que se via cada vez mais aprisionado por suas próprias criações.

A cópia, sempre em silêncio, não respondeu. Mas Lysander sentiu algo — uma sensação de que, talvez, ela compreendesse mais do que ele gostaria. Isso o incomodava ainda mais.

— Quando o fim chegar... será que eu poderei me salvar do que fiz? — sussurrou, quase em um suspiro, enquanto sua mente se perdia em um turbilhão de pensamentos.

Lysander se afastou da mesa e caminhou até a janela, onde o vento frio da noite entrava, agitando as cortinas. Ele olhou para o céu, onde as estrelas pareciam observar impassíveis, como se também estivessem em silêncio sobre o destino que ele se via forçado a encarar. A sombra de sua criação, Alion, era agora um peso constante em sua mente.

"Quando o objetivo se tornar inútil... o fim será o seu destino."

A frase que sussurrara para si mesmo se repetia em sua cabeça, como um mantra que o lembrava de sua própria falha. Ele havia criado Alion para ser mais que uma cópia, para ser uma extensão de si mesmo — alguém que pudesse seguir sua vontade sem questionar, sem hesitar. Mas, à medida que o tempo passava, ele começou a perceber o vazio naqueles olhos. Não era mais um simples reflexo de sua própria mente; algo mais parecia ter despertado ali.

Ele se virou, encarando a cópia, que ainda permanecia imóvel, observando-o com um olhar vazio, mas não sem uma certa compreensão silenciosa. Lysander engoliu em seco.

— Você... — começou ele, mas a palavra ficou presa na garganta. Não sabia como chamar aquilo. Não sabia mais o que ela representava. Ele estava começando a duvidar de sua própria criação.

A Saga dos Dragões Perdidos - VOL 2Onde histórias criam vida. Descubra agora