28 - Hurt

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[ Hurt - Johnny Cash ]

POV MON

Estou devastada. A última conversa que tive com Sam me deixou em um estado de completa desolação, como se o chão tivesse sido arrancado debaixo dos meus pés. As palavras dela ecoam na minha mente, repetindo-se incessantemente, cada vez mais dolorosas. Não consigo escapar da sensação esmagadora de que sou culpada por tudo que aconteceu.

Eu me culpo por levar essa vida horrível, uma vida que permiti que minha mãe controlasse cada aspecto. Sei que deixei isso acontecer, que me submeti ao desejo incessante dela de moldar meu futuro. Cada decisão, cada passo que dei, foi cuidadosamente monitorado e manipulado. Agora, ao refletir sobre os anos passados, sinto-me como uma marionete, cujos fios estavam constantemente nas mãos da minha mãe. O peso dessa realização é quase insuportável.

A culpa que sinto por Sam estar sobrecarregada é igualmente devastadora. Sei que a perseguição que ela enfrenta, a pressão implacável e o estresse crescente, são consequências diretas das ações dos meus pais. Cada ameaça, cada momento de medo, é um reflexo da minha própria incapacidade de me afastar do controle familiar. Vejo o desgaste nos olhos de Sam, a exaustão em seu rosto, e sei que contribuí para isso. É um fardo que carrego comigo todos os dias, uma lembrança constante do meu fracasso.

Também me culpo pelas coisas erradas na empresa. Sempre soube das irregularidades, dos segredos sujos que permeavam cada camada da organização. Mas escolhi olhar para o outro lado, ser conivente, permitir que essas coisas acontecessem. Sei que, ao fazer isso, me tornei cúmplice dos erros, uma parte integrante dos problemas que agora afligem Sam. Cada decisão duvidosa, cada ato desonesto, parece um reflexo da minha própria passividade.

O caso de Fon é especialmente doloroso. Sam está profundamente machucada pela situação, e não consigo evitar sentir-me responsável. Sei que minha conivência e silêncio permitiram que tais injustiças ocorressem. Cada lágrima de Sam, cada momento de tristeza, parece uma acusação direta a mim. A culpa me corrói por dentro, deixando-me sem forças para enfrentar o dia.

Passei os últimos dois dias em um estado de torpor, perdida em meus próprios pensamentos. O sofrimento me acompanha como uma sombra, uma presença constante e opressiva. Minhas noites são cheias de insônia, os pensamentos girando incessantemente em minha mente. Cada erro, cada decisão errada, é revisitada inúmeras vezes, como uma tortura autoimposta.

Mal consigo comer; a comida parece sem sabor e a fome, inexistente. Sinto-me desconectada do mundo ao meu redor, como se estivesse observando minha própria vida de fora, incapaz de interagir ou mudar o curso dos acontecimentos. A revolta é profunda, uma sensação de vazio que parece se expandir dentro de mim, engolindo todos os traços de esperança e felicidade.

Eu me isolo de todos, incapaz de suportar o peso da companhia humana. Cada interação parece uma lembrança dos meus fracassos, uma exposição da minha culpa. Evito olhar para as pessoas nos olhos, temendo que vejam a verdade do meu sofrimento. Sinto que mereço a dor que estou enfrentando, que é um castigo justo pelas minhas falhas e erros.

Mesmo as coisas que antes me traziam conforto agora são inúteis. A música que costumava acalmar minha mente agora parece distante e sem vida. Os livros que lia com tanto prazer não conseguem capturar minha atenção. Minhas telas em branco estão expostas como um reflexo do meu vazio. Tudo ao meu redor parece envolto em uma névoa de desespero, uma lembrança constante da minha incapacidade.

Sei que preciso encontrar uma maneira de seguir em frente, mas cada tentativa parece inútil. Sinto-me presa em um ciclo interminável de dor e culpa, incapaz de escapar. Cada dia é uma luta, uma batalha contra a escuridão que ameaça me consumir. E, no fundo, me pergunto se algum dia conseguirei me perdoar, se algum dia conseguirei encontrar paz.

Ecos da TormentaOnde histórias criam vida. Descubra agora