Capítulo 27 - O Chamado da Escuridão

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A chuva continuava a cair do lado de fora, e o som das gotas contra o telhado criava uma melodia suave que preenchia o silêncio da cabana. O ambiente estava aquecido pela pequena fogueira que ainda ardia no canto, lançando sombras pelas paredes de madeira desgastada. Josie estava deitada ao lado da namorada, ambas olhando para o teto, como se os nós e fissuras da madeira fossem portais para algum lugar mais tranquilo.

A arma de Hope estava ao alcance de sua mão, repousando no chão ao lado da cama improvisada. Apesar da relativa segurança que o quarto trancado oferecia, ela jamais abaixaria completamente a guarda.

-Você sempre dorme assim? - A voz suave de Josie quebrou o silêncio, e sem desviar os olhos do teto, a ruiva sussurrou.

-Assim como?

-Com a arma tão perto.

Hope esboçou um pequeno sorriso, um tanto cansado.

-É um hábito. Nunca se sabe quando vai precisar dela.

Josie virou o rosto para encará-la, o brilho suave da fogueira refletido em seus olhos.

-Isso faz sentido, mas acredito que estamos seguras aqui. Pelo menos por enquanto.

A ruiva finalmente desviou o olhar para a namorada, sua expressão suavizando por um breve momento.

-Prefiro não arriscar, depois de tudo que passamos...

Ela ouviu o sussurro de Hope e se aproximou um pouco mais, seus dedos roçando levemente contra a mão dela.

-Você sabe que não precisa carregar esse peso sozinha, certo?

-Eu sei, mas... - Suspirou rendida - É difícil desligar. Sempre me preparei para o pior.

-Talvez você devesse tentar pensar no que acontece quando o pior não vem - Retrucou oferecendo um sorriso pequeno, mas genuíno.

Hope ficou em silêncio por um momento, seus olhos fixos na mão de Josie que agora segurava a sua.

-Quando o pior não vem, eu fico sem saber o que fazer - Admitiu, a voz carregada de uma vulnerabilidade rara.

-Então, podemos descobrir juntas – A olhou intensamente, enquanto apertava levemente as mãos unidas

Elas ficaram assim por um tempo, o silêncio preenchido apenas pelo som da chuva e o estalar da fogueira. Era um momento raro de paz em meio ao caos do mundo e naquele momento conseguiram fechar os olhos, deixando-se levar pelo som ritmado da chuva, até o sono as envolver por completo.

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Horas depois, Josie despertou abruptamente. Não sabia o que à havia acordado, mas seus sentidos estavam em alerta. Ela ficou imóvel, o coração batendo um pouco mais rápido enquanto tentava identificar o que a incomodava. E foi naquele momento que ouviu. Um som suave, quase imperceptível, como o arranhar de unhas contra a madeira.

Ela prendeu a respiração, virando lentamente a cabeça para o lado. Hope ainda dormia, o peito subindo e descendo em um ritmo tranquilo. Sua arma permanecia próxima, mas Josie hesitou em acordá-la. Talvez fosse apenas um animal, um simples engano de seus sentidos já exaustos.

Mas então o barulho veio de novo, mais forte desta vez. Um estalo seco, como madeira sendo pisada lá fora.

Sentiu o coração acelerar mais rápido. E logo começou a se mover lentamente, sentindo o peso familiar de sua faca presa ao cinto. Seus dedos deslizaram pelo cabo, firmando-se ali enquanto se levantava com cuidado para não fazer barulho. E quando começou a se aproximar da porta, o som ficou agora mais claro. Algo ou alguém estava do lado de fora, e não parecia estar indo embora.

Quando a Morte Desperta (Hosie)Onde histórias criam vida. Descubra agora