𝐀𝐝𝐫𝐞𝐧𝐚𝐥𝐢𝐧𝐞: 𝐀 𝐋𝐞𝐬𝐭𝐚𝐩𝐩𝐞𝐧 𝐒𝐭𝐨𝐫𝐲

𝟎𝟏

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𝐈𝐥 𝐏𝐑𝐄𝐃𝐄𝐒𝐓𝐈𝐍𝐀𝐓𝐎

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Na maioria das noites, Charles era consumido pelo peso das perdas que o assombravam. 

O piloto da Ferrari passou os dias após a última corrida isolado em casa, sonhando acordado com o conforto que só poderia encontrar nos braços de alguém que amava. No entanto, o mais próximo que conseguiu chegar desse consolo foi no afeto de sua mãe, a única pessoa que o amava incondicionalmente.

Ela se dedicava de corpo e alma a ajudá-lo a superar aquele momento difícil, mas sabia que o vazio em seu coração era profundo demais para ser preenchido apenas com o amor de mãe. 

No início, acreditava que a tristeza de Charles era apenas reflexo da decepção de não erguer o troféu. 

Mas, conforme os dias se transformaram em semanas e ele continuava preso naquele mar de desespero, ela percebeu que havia muito mais pesando sobre ele. 

Coisas que talvez ela jamais pudesse compreender. Ainda assim, estava disposta a ficar ao seu lado, mesmo que ele não permitisse que ela entrasse completamente em sua dor.

Deitado com a cabeça em seu colo, Charles permanecia imóvel. 

Não dizia nada, apenas permitia que os dedos dela deslizassem suavemente por seus cabelos. 

Seus olhos, vidrados na televisão à sua frente, não absorviam nada do que passava na tela.

"Algum plano para o intervalo?" A mãe perguntou, a voz baixa e suave, como quem testava o terreno. Não queria pressioná-lo a uma conversa para a qual ele não estivesse pronto. "Eu quero você aqui tanto quanto você quiser ficar. Mas, geralmente, você já tem alguma grande viagem planejada, querido", acrescentou, com um sorriso delicado.

Charles balançou a cabeça, desviando os olhos.

"Não sei", respondeu, a voz rouca pela falta de uso. Ele estava preso em um ciclo de apatia e tristeza do qual não sabia como sair. "Talvez esquiar em algum momento, mas, por enquanto, só quero não fazer nada."

Ele se sentia envergonhado por sua falta de ambição, mas ao mesmo tempo perdido, sem saber qual seria seu próximo passo.

Mesmo durante o dia, os pesadelos o perseguiam. Ele sabia que afastava as pessoas, mas não conseguia evitar carregar sua miséria sozinho. Não era culpa de ninguém que ele tivesse saído da temporada de mãos vazias.

O ano novo chegou e passou sem grandes significados para Charles. 

A rotina diária era a mesma: ficar deitado na cama, com o rosto enterrado no travesseiro, enquanto soluços silenciosos traziam à tona toda a dor que o consumia. Ele acreditava que o tempo já deveria ter cicatrizado as feridas da última corrida, mas começava a temer que aquela dor fosse permanente.

Se tivesse perdido o campeonato para Max de forma justa, talvez suportasse melhor. 

Mas, toda vez que se lembrava da maneira ingênua como acreditou na falsa abertura que Max lhe oferecera em Las Vegas, apenas para ser superado de forma brutal, o ódio pelo adversário reacendeu em seu peito.

A lembrança fazia seu coração doer fisicamente. Se desgosto pudesse matar, Charles estava certo de que seria sua ruína. 

Nada havia saído como planejado: sem campeonato, sem Max e, agora, com sua posição na Ferrari cada vez mais incerta.