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Pov Paola

Depois de cinco dias intensos, finalmente saí do escritório de advocacia com o sentimento de dever cumprido. O processo contra o hospital e a equipe médica estava em andamento. Não importava quanto tempo levasse, eu não deixaria essa negligência passar impune.

Entrei no carro e respirei fundo antes de dirigir até o hospital. Tudo o que eu queria era ver S/n e garantir que ela estivesse bem. Ao chegar no quarto, encontrei uma enfermeira trocando o soro dela. S/n estava desperta, me observando com um sorriso pequeno, mas genuíno.

- Bom dia, senhora Paola - a enfermeira disse educadamente, terminando de ajustar o suporte do soro.

- Bom dia - respondi, me aproximando da cama e segurando a mão de S/n.

A enfermeira verificou alguns dados na prancheta antes de nos encarar com um sorriso tranquilo.

- Se tudo continuar bem nas próximas horas, podemos liberar S/n amanhã.

Virei o rosto rapidamente para S/n, que me olhava com os olhos brilhando de esperança.

- Sério? - S/n perguntou, tentando conter a emoção.

- Sim - a enfermeira confirmou. - A recuperação está dentro do esperado. Só precisamos acompanhar mais um pouco, mas acho que amanhã você já poderá dormir na sua própria cama.

S/n suspirou fundo, claramente aliviada.

- Mal posso esperar.

Depois que a enfermeira saiu, me sentei ao lado de S/n e segurei sua mão com carinho. Ela parecia mais animada com a ideia de finalmente ir para casa, e isso me deu coragem para tocar em um assunto que estava na minha mente desde a cirurgia.

- Amor... eu estive pensando - comecei, escolhendo bem as palavras. - Sobre nossa conversa antes de tudo isso acontecer... sobre ter outro filho futuramente.

O brilho nos olhos dela se apagou um pouco, e ela desviou o olhar para o lençol.
- O que tem?

Engoli em seco, apertando levemente sua mão.

- Sei que ter um bebê era algo muito importante para você. E sei que não é do jeito que você imaginava, mas... a gente pode pensar em adotar.

S/n fechou os olhos por um instante e respirou fundo. Quando abriu de novo, seu olhar estava carregado de frustração.

- Não, Paola. Eu não quero adotar.

- Amor...

- Eu queria gerar o nosso bebê - sua voz quebrou no final, e meu peito se apertou. - Eu queria sentir ele crescendo dentro de mim, queria sentir os chutes, queria passar por tudo isso...

Suspirei, sentindo meu coração se partir ao vê-la tão abalada.

- Eu sei, meu amor... e eu sinto muito por tudo isso. Mas não significa que nossa família não possa crescer de outra forma.

S/n balançou a cabeça, os olhos marejados.

- Não é a mesma coisa. Eu sei que parece egoísta, mas eu queria viver isso... e agora não posso mais.

As lágrimas começaram a escorrer, e meu instinto foi abraçá-la, mas antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, a porta do quarto se abriu e a enfermeira entrou novamente com a medicação da noite.

- Paola, eu sei que a conversa é importante, mas S/n não pode se estressar assim. O horário de visita acabou, ela precisa descansar.

S/n virou o rosto para o lado, como se não quisesse me olhar. Suspirei, passando a mão no rosto. Não queria sair assim, com ela magoada, mas também não queria piorar a situação.

Me aproximei da cama e, com delicadeza, beijei sua testa.

- Eu te amo, S/n. A gente conversa depois, tá?

Ela não respondeu, mas sua mão apertou a minha de leve antes de soltá-la. Respirei fundo mais uma vez e saí do quarto, sentindo um peso enorme no peito. Eu só queria encontrar um jeito de amenizar a dor dela, mas parecia que, a cada passo, eu a machucava mais. Tínhamos conversando sobre essas coisas nos últimas dias, mas ela sempre mudava de assunto ou me ignorava.

Cheguei em casa exausta, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Assim que fechei a porta, Francesca apareceu na sala, os olhos cheios de expectativa.

- Como a mãe tá? Ela vem hoje?

Sorri, tentando passar tranquilidade para ela.

- Amanhã ela vai ter alta, filha.

Os olhos dela brilharam de alívio, e ela soltou um suspiro longo.

- Uhuuuu! Eu já tava com saudade dela aqui.

Me aproximei e passei a mão pelos cabelos dela, sentindo meu coração aquecer um pouco.

- Eu também, pequena. Mas logo tudo vai voltar ao normal.

Ela sorriu e me abraçou rapidamente antes de voltar para o sofá. Enquanto eu ia para a cozinha beber um copo d'água, a campainha tocou.

Abri a porta e dei de cara com Carol. Ela me analisou de cima a baixo e arqueou uma sobrancelha.

- Você parece um zumbi.

- Me sinto como um - suspirei, dando espaço para ela entrar.

Fomos até a cozinha, e Carol se encostou na bancada enquanto eu pegava um café.

- Como tá a S/n?

- Melhorando, pelo menos fisicamente. Mas emocionalmente... - balancei a cabeça, sentindo um nó na garganta. - Eu toquei no assunto de adoção hoje. Foi um erro. Sou uma idiota mesmo.

Carol suspirou.

- Paola, ela acabou de perder o útero. Você sabe o quanto ela queria gerar outro filho.

- Eu sei! - soltei, frustrada. - Mas eu só queria mostrar que ainda existe um caminho, que ainda podemos ter mais um filho se ela quiser...

Carol segurou meu olhar com seriedade.

- Ela não tá pronta pra pensar nisso agora. S/n precisa de tempo pra aceitar o que aconteceu...e principalmente aceitar que não pode gerar uma criança.

Me sentei pesadamente na cadeira, passando as mãos no rosto.

- E se esse tempo afastar a gente? E se ela nunca aceitar?

Carol se aproximou e pousou a mão no meu ombro.

- Paola, vocês se amam. Isso não vai destruir o que construíram. Mas se você continuar insistindo nisso agora, pode acabar criando um distanciamento desnecessário.

Fechei os olhos, tentando absorver suas palavras.

- Eu tenho tanto medo de perdê-la...

- Você não vai perder - Carol apertou meu ombro. - Mas precisa ser paciente. No tempo dela, S/n vai aprender a viver com isso. E quando ela estiver pronta, vocês podem pensar no futuro juntas.

Suspirei profundamente, tentando acalmar a ansiedade que tomava conta de mim. Carol tinha razão. Eu precisava ser paciente, mesmo que doesse ver S/n sofrer.

- Obrigada - murmurei.

- Pra isso servem as amigas - ela sorriu de leve. - Agora toma esse café e tenta dormir um pouco. Amanhã é um dia importante...finalmente ela volta pra casa.

Assenti, mas sabia que o sono não viria tão fácil. Meu coração ainda estava pesado.





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𝐄 𝐝𝐞 𝐫𝐞𝐩𝐞𝐧𝐭𝐞, 𝐚𝐜𝐨𝐧𝐭𝐞𝐜𝐞𝐮| ᴘᴀᴏʟᴀ ᴄᴀʀᴏꜱᴇʟʟᴀ ˣ ʸᵒᵘOnde histórias criam vida. Descubra agora