CAPÍTULO VINTE UM.
Flashbacks de Kyle.
Bruges, Bélgica - 14 de julho de 1488.
Termino de acender a fogueira, jogando mais lenha. Essa tarefa sempre sobra para enquanto os outros caçam ou apenas jogam o tempo fora. Não ligo, pelo menos assim me livro um pouco deles. Não que eu não goste deles, são meus amigos.
Conheço Henry e Dereck desde que eramos crianças. Brandon é um pouco diferente, conheci a cinco anos atrás. Nos tornamos amigos, mas sempre o achei tão... frio. Duro. Não sabia o porquê, mas não ousei perguntar.
Me sento em um tronco de alguma árvore que fora cortada a algum tempo. Escuto barulho vindo do meio das árvores e logo os três aparecem. Cada um segura animais pequenos mortos.
Eu não gostava de caçar, esse era mais um motivo por não ligar de ir caçar junto com eles. Eu tinha a arma e o alvo, mas nunca conseguia matar o animal. É algo tão cruel, mesmo que fosse preciso.
- Ainda bem que já acendeu a fogueira. Estou morto de fome - resmunga Dereck.
Todos os anos, em qualquer dia de Julho, nós quatro fazíamos isso. Desde que nós tínhamos quatorze anos. Nossos pais faziam isso antes de se casarem e nós faríamos até que nós casássemos também.
- Pelo jeito, daqui a algum tempo, Brandon não virá mais conosco - comenta Dereck.
- Por que diz isto? - pergunto, me levantando e colocando os animais que Henry estava limpando.
Dereck ri.
- Ele está tão grudado com Phoebe Stroock que nem fica mais com a gente. Achei até estranho ele ter vindo este ano - Dereck arranca um pouco de grama da terra, de novo e de novo. - Phoebe Stroock? Irmã da Nicoletta! Sério, Brandon. Aquela família é estranha.
Dereck sempre era a pior pessoa possível para aquela família. Primeiro, por serem pobres. Um grupo de camponeses que trabalhavam para famílias como as nossas. E segundo Dereck, e centenas de pessoas aqui de Bruges, eles eram feiticeiros. Diziam que eles faziam magias negras. Mas nada nunca foi provado.
- Não acho que sejam estranhos - defende Henry, antes que eu pudesse falar algo. - Acho que todas as pessoas desta cidade sempre fala demais e sabe de menos.
- Concordo com Henry - digo apenas, colocando mais partes dos animais na fogueira.
Brandon não disse uma palavra, mas percebi que ele estava concentrado demais em algo de prata que mexia sem parar.
- Quero um desafio. - Dereck larga a grama e se levanta. - Aposto com vocês que consigo ir para a cama com Nicoletta. Por que, sim, acho todos eles um bando de esquisitos, mas Nicoletta é muito bonita, tenho de admitir.
- Não aposte isso. É idiotice - a voz de Henry se eleva.
Brandon se levanta e se aproxima de Dereck.
- Se você fizer algumas coisa para aquela família, para Nicoletta, para Phoebe ou para qualquer um, eu mesmo acabo com você, Dereck. Eu juro.
Dereck dá um longa gargalhada, mas o pior, não responde nada.
São Paulo, Brasil - 30 de Dezembro de 2014.
Nem eu, nem Henry, nem mesmo Brandon sabíamos que Dereck seria realmente capaz de fazer o que ele fez durante dois anos que se passaram.