O dia do baile havia chegado e, na hora do almoço, Claire me ligou dizendo que havia marcado um horário no salão, pra nós duas. Nós nos encontrariamos no Euphorica às 14h20min. Claire estava realmente euforica.
Fizemos as unhas, das mãos e dos pés, fizemos também o cabelo - o meu estava solto de um lado e preso de outro, já Claire usava um lindo coque bagunçado -, e quando terminamos o relógio marcava 18h12min, o baile começaria as 19h00min.
Voltei para casa, tomando cuidado para não desarrumar meu cabelo ou estragar minha unhas. Mamãe estava em casa. Ela não iria para loja hoje, já que hoje era minha formatura. Ela me ajudou a vestir meu vestido e a fazer minha maquiagem e, quando era 19h12min, eu já estava pronta.
Meus cabelos estavam perfeitos, minha maquiagem estava clara nos olhos, com sombras neutras como o marrom, champanhe e beje, e com delineador, nos lábios, eu passei batom vermelho. Calcei os scarpins que havia comprado quando fui com Doreen para Washington.
Eu iria encontrar Kyle quando chegasse no baile.
Eu estava muito ansiosa para ver Kyle. Talvez, para você, possa parecer algo estúpido e idiota, mas eu sentia que algo fosse acontecer essa noite.
Assim que estaciono meu Volvo V40 no meio de muitos outros carros, olho para o ginásio, onde acontecia o baile. Estava tudo muito iluminado e a música tocava alta.
Desliguei o motor do carro e suspirei. Logo ouvi uma leve batida, na janela do carona. Olhei para lá chando ser Claire, mas vejo Kyle. Abro a porta para ele, que logo entra no carro.
- Você quer mesmo continuar com isso? - pergunto a Kyle.
Ele olha para mim.
- Você está linda - diz apenas.
Kyle segura a minha mão e a beija, delicadamente. Que cavalheirismo, pensei.
- Obrigada - murmurei, sem graça. - Vamos entrar? - convido.
Apenas quando saimos do carro e Kyle veio até mim, vi o quanto ele estava bonito.
Usava uma calça social preta, uma camisa azul-pretóleo com um gola V e um blazer também preto. Usava tênis ao invés de coturnos. Seu lindo topete castanho estava perfeitamente arrumado.
- Você também está bem bonito - comento.
Como resposta, recebo apenas uma risadinha. Não consigo não sorrir também.
Kyle havia ido pegar bebidas para nós dois enquanto eu conversava com Claire, que havia me achado logo depois do meu acompanhante sair.
Claire tagarelava coisas sobre Chase, sobre o baile, sobre Nova York. Chase logo fez ela parar de falar chamando-a para dançar. Agradeci a ele, mentalmente.
Assim que eles sairam, Kyle voltou com dois copos.
- Isso aqui é muito diferente - comentou.
- Diferente do que, examente? - pergunto me encostando em uma parede.
- Dos bailes que eu frequentava.
- Qual foi a última vez que você foi a um baile, Kyle?
Ele parece pensar, mas responde:
- Em 1488.
Me engasgo com a bebida.
- Uau! - exclamo. - E como eram os bailes de antigamente?
Kyle dá de ombros.
- Calmos, quer dizer, pelo menos comparado a hoje. A mulheres usavam vestidos longos e com bastante tecido. A música era tocada por uma banda de camponeses. A iluminação era, bem, por velas - diz olhando para a iluminação vindo do palco.
Nós rimos.
- E vocês dançavam nesses bailes? - pergunto enquanto coloco meu copo em uma mesa qualquer.
Kyle apenas dá de ombros.
Puxo ele até a pista de dança, onde a maior parte das pessoas estão. Tocava Rude Boy. Todos dançavam com seus pares. Claire estava próxima a nós dois e mandou uma piscadinha para mim. Eu ainda não lhe apresentara Kyle, mas teria muito tempo para isso está noite.
A música era agitada, o que animava todo mundo. Coloquei minhas mãos envolta do pescoço de Kyle e ele segurou minha cintura. Para alguém que não frequentava um baile desde 1488, ele até que sabia dançar uma música de hoje em dia. Depois que a música terminou, várias outras vieram.
Quando me senti cansada, chamei Kyle para irmos beber algo. Enquanto pegávamos a bebida, uma música lenta começou a tocar. Não ia começar a dançar esse tipo de música com Kyle, era desconfortável demais, intímo demais.
Chamei-o para irmos ao jardim, andar e tomar um ar fresco.
Enquanto andávamos conversamos sobre tudo, desde 1470 até hoje, 2014.
- E as garotas? - perguntei curiosa.
Ele riu.
- Eram bem diferentes de hoje - contou. - Não usavam calça.
Gargalhamos juntos.
- Você devia ser rodeado de garotas - pondero.
Ele sorri. Um lindo sorriso sedutor.
- Sim, eu era - se gabou, rindo, mas depois sua expressão era suave. - Mas nunca me apaixonei, e nenhuma delas me amava. Só ficavam por perto por eu ser um Deveraux.
- Sua família era bem poderosa.
Ele balança a cabeça, assentindo.
- Eramos como a realeza.
Fico em silêncio e olho para uma fonte que fica no jardim, atrás da escola. Era uma mulher, segurando as mãos de um homem com lindas asas. Sempre admirei aquela estatua. Vejo uma pequena pomba pousar nela e volto minha atenção para Kyle.
- Serio mesmo que nunca se apaixonou por nenhuma daquelas garotas? - perguntou curiosa, mas torcendo para ele dizer não, mesmo que eu não soubesse exatamente o porquê.
- Nenhuma daquelas garotas - responde.
- Então teve alguém? - brinco.
- Carrie... - ele não conseguiu terminar.
Uma fumaça assustadoramente negra começou a dançar na frente da fonte. Olho para Kyle, assustada.
- O que é isso?
Ele não responde.
Pouco a pouco a fumaça ia tomando forma. Logo uma mulher apareceu ali. Estava de frente para mim e Kyle.
- Olá, Carietta - diz ela. - Olá, Kyle.
Oh, Céus! Isso é muito assustador e macabro. Mas algo me dizia que eu teria de me acostumar.
- Quem é você? - eu pergunto a ela.
Mas quem me responde é Kyle:
- Ela é Nicoletta Stroock.