A Pintura.

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          Capítulo Dois.  


 Eu não tinha tanta prática em usar saltos, principalmente os muito altos, mas consegui me equilibrar, e, além do mais, mamãe havia me obrigado.

 Doreen era a dona de uma loja de roupas famosa aqui na Carolina do Sul e em Washington, então estava sempre ocupada com funcionários e clientes. Eu sempre tinha que ir junto para essas festas e jantares, mamãe queria que pensassem que somos uma família perfeita – mesmo sendo apenas eu e ela .

 – Carietta Lookway, nós já estamos atrasadas – ela gritou lá de baixo.

Dei uma ultima olhada no espelho e suspirei. Eu não era uma garota alta, tinha apenas 1,57m. Meus cabelos eram longos e ondulados, em um tom castanho escuro. Não tinha um corpo escultural. Não chamava nenhuma atenção com ele. Só beijei uma vez.

 Mamãe esperava-me perto da porta, batendo o pé, impaciente. Ela olhou-me de cima a baixo e sorriu.

 – Pelo menos a demora foi por algo bom – ela observou. – Aprendeu, finalmente, a se vestir, Carrie? – debochou ela.

 Como sempre. Mamãe achava-se superior a todos, até mesmo a mim. Parece que seu coração esfriou desde o divórcio, e isso me deixa tão confusa, afinal, foi ela quem pediu. Mas não fiz questão de respondê-la, apenas entrei no carro em silêncio.

 A casa era realmente enorme, uma mansão. Estava com todo o jardim iluminado. Eu via várias pessoas andando de um lado para outro, conversando em grupinhos. Como eu odiava esse tipo de pessoa. Todas artificiais, medíocres e egocêntricas.

 Entramos na casa e mamãe olhava para todos os lados a procura de alguém. 

 – Jorge – ouvi ela gritar.  

Um homem de mais ou menos quarenta anos nos encarou e sorriu –um sorriso satisfeito e assustador.

 – Doreen – cumprimentou ele.

Os dois iniciaram um papinho sobre lojas, compradores e investimentos que eu, sinceramente, não me importava. Fui para longe deles, procurando algo para me distrair. 

 Não conseguia parar de pensar na noite anterior. Não consegui nem mesmo dormir. Não conseguia parar de pensar nos olhos dourados. Andei até um corredor, que ficava no segundo andar, com poucas pessoas, carregando uma taça de champanhe. O corredor era cheio de lindos quadros. Deparei-me com um em especial – ele era realmente lindo e surpreendentemente diferente de todos os outros.

 Nele, uma menina com cabelos longos e brilhantes corria em uma floresta escura. O lugar era feito com algumas sombras que davam a impressão de serem árvores. Atrás de uma das árvores havia uma sombra ainda mais escura, parecia com um homem, mas estava praticamente todo camuflado pelas árvores e escuridão. A única coisa que era bem visível ali eram seus olhos dourados. Igual aos que vi ontem.

 – É mesmo um lindo quadro – escuto alguém atrás de mim.

Virei-me e vi um garoto, não muito mais velho que eu, sorrindo. Tinha cabelos castanhos claros, assim como os olhos. Era alto e tinha um lindo sorriso.

 Assenti apenas, concordando com ele sobre a sua observação ao quadro.

 – Sou Ethan Verloxer – o mesmo estendeu a mão. – Filho de Jorge Verloxer.  

Aperto sua mão, sorrindo. Ethan leva minha mão até seus lábios, dando um beijo na mesma.

 – Sou Carietta Lookway – sorrio. – Carrie, é mais prático.

Ethan sorri.

 – Então você é a filha extremamente incrível de Doreen? – aquilo foi uma pergunta retórica, então não dei uma resposta.  

 Bebo um gole de meu champanhe.

 – Mamãe inventa coisas sobre mim que não são verdade – dei de ombros e o encarei. – Não acredite nela! Vai por mim, eu não tenho nada de extremamente incrível.

 – Eu não concordo com isso – discorda ele, com uma risadinha.

 Fiquei muito sem graça em ouvir aquilo, então desviei o olhar.

 – Carrie, querida – escuto mamãe chamar meu nome.

Ela vinha em minha direção junto a Jorge, sorrindo.

 – Vejo que já se conheceram – ela diz com um enorme sorriso.

Eu via em seu olhar que havia uma segunda intenção em seus planos. E sabia também que não era algo bom.

 – Ethan, é bom ver que já está conhecendo Carietta – Jorge sorri.

 – Sabe, Carrie, minha filha, Ethan um garoto muito inteligente. Ele está cursando Entomologia na Universidade de Clemson.

 – Ethan, sabia que Carrie vai cursar antropologia! Não é incrível? – agora foi a vez de Jorge.

Ah, não! Ela não podia fazer aquilo. Aquilo era algo tão baixo, tão infantil e um golpe tão velho. Nunca pensei que Doreen pudesse fazer algo assim.

 – Então foi por isso que você me trouxe aqui – conclui, sem um pingo de simpatia.

 Eu já sabia que mamãe me usava para poder fingir a todos uma família feliz, mas querer que eu tenha algo com alguém que eu nem conheço para melhorar os negócios dela? Já é coisa demais. Comecei a andar para longe. Eu iria embora daquele lugar cheio de manequins, por bem ou por mal. Antes que pudesse dar um passo para fora da mansão, sinto meu braço ser puxado.

 – Aonde pensa que vai? – escutei minha mãe dizer com raiva, mas naquele momento quem tinha o direito de ter raiva era eu.

 – Para o mais longe daqui!

 – Eu não fiz isso apenas por mim, fiz por você também. Carrie, você não tem alguém desde sempre.

 – Sabe que eu não quero. E isso é uma coisa que você, mamãe, não pode se meter – digo tudo aquilo com dentes cerrados, cheia de raiva.

 Mamãe me olhou com uma expressão dura.

 – E é até bom eu não ter um namorado – dou um sorriso nervoso e dou de ombros. – Assim tenho mais tempo de pensar na faculdade. Uma faculdade bem longe daqui.

 Soltei-me de sua mão e voltei a andar para longe dali. 

                                                                                                      ***

 Saio do táxi e corro para o meu quarto, doida para tirar meu vestido e dormir. E é isso que eu faço. No meio da noite sinto alguém perto de mim .

 Sinto seu corpo quente perto do meu e em outras situações eu ficaria assustada, mas nessa situação eu me senti segura. Me aconcheguei mais e senti sua respiração, dessa vez ela estava mais suave.

E então, eu dormi. 

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