CAPÍTULO UM.
E em como todos os dias, aqui estou eu novamente. Presa a uma aula de biologia, estudando para a última prova - que será na semana que vem. Falta apenas um mês para a formatura e todos estão bem ocupados com a organização do baile.
Eu não ligo para isso. Não tinha muitos amigos – e não desejava ter. Minha única amiga era a Claire. Eu a conheço desde que tinha oito anos. Nós crescemos juntas. Claire é bem mais extrovertida do que eu, mas nós formamos uma bela equipe.
Bem, única coisa que me preocupa era a faculdade. Irei cursar Antropologia, mas não sabia qual faculdade me aceitaria.
No tempo em que eu não estava estudando, estava preenchendo fichas de inscrição para a faculdade. Eu procurava a faculdade mais longe da Carolina do Sul, de preferência Califórnia. As primeiras faculdades que mandei inscrições foram a Universidade da Califórnia – Berkeley, Universidade de Chicago, Universidade da Califórnia – Los Angeles e, claro, Universidade de Stanford – a faculdade dos meus sonhos.
A antropologia tem tudo o que eu gosto, e mesmo minha mãe não sendo muito de acordo, é o que eu mais quero.
O som irritante do sinal soou. Todos os alunos levantam apressados, loucos para irem logo embora. As aulas do dia haviam acabado.
***
A voz de minha mãe falando com um de seus funcionários soava do andar de baixo. Mesmo com a porta do meu quarto fechada, eu conseguia escutá-la. Estou deitada em minha cama enquanto estudava para as últimas provas. Minha média era a menor da sala, e ela não poderia cair – ainda mais que eu quero passar em Stanford.
A porta se abre e vejo Claire sorrindo, mas logo me encara séria.
- O que você está fazendo de moletom? – pergunta
- Por que eu não estaria de moletom? – pergunto.
- CARRIE, HOJE É A FOGUEIRA! – ela grita correndo até meu closet.
Reviro os olhos lembrando da fogueira.
Garotos do último ano sempre organizavam a fogueira; íamos para uma clareira, acendíamos uma fogueira e bebíamos. Eu sempre ia, mas detestava, eu ia por causa de Claire.
Do meu closet, Claire tirou uma calça jeans preta, um suéter vinho e minha botas de cano curto e salto quadrado.
- Toma – ela me entrega – Coloca isso rápido!
Gemo em negação, mas ela me olha com um olhar que, admito, me dá um pouquinho de medo.
***
Chegamos na fogueira e já vejo pessoas levemente alcoolizadas, outras quase transando.
Claire pega bebida para mim e para ela e então encontramos com Mike e Lorena – colegas da aula de história – e ficamos conversando. Logo, Mike e Lorena vão falar com outras pessoas e Claire vai dançar com um dos garotos do time que ela estava ficando. Eu, completamente sozinha, entro na floresta querendo fugir um pouco daquela bagunça. Escuto All Night, da Kirstin, começar a tocar. Tomo o último gole da minha bebida e sento, com as costas encostada numa árvore. Fecho meus olhos e começo a pensar em como será minha vida se eu conseguir entrar em Stanford.
Claire se inscreveu para as mesmas faculdades que eu, mas ela pretende cursar psicologia. Nosso plano é morarmos juntas em Palo Alto.
Abro os olhos rapidamente quando sinto mãos em mim. Olho ao meu lado e vejo Bruce Daster – um jogador nojento do time de basquete. Tento levantar, mas ele segura meus braços.
- Por que a pressa, Lookway? – pergunta ele, sorrindo.
- Estou indo atrás de Claire – respondo, tentando levantar novamente, mas ele me puxa de novo. – Me solta Bruce!
- Ah, eu não to muito afim, não, Carrie – ele ri.
Bruce começa a beijar meu pescoço. Sinto o cheiro forte de bebida vindo da boca dele. Tento sair, mas ele é muito forte.
- BRUCE, ME LARGA – grito, quando ele tenta me beijar.
- Você é tão gostosinha, Lookway – ele geme.
Eu sinto vontade de vomitar. E quase faço isso, mas, antes, sinto o corpo de Bruce sair de perto do meu. Suspiro em alívio e abro meus olhos para ver o aconteceu. Vejo outra pessoa – na verdade vejo sua costas – e, logo atrás, está Bruce gemendo, com a testa sangrando e se perguntando o que está acontecendo.
O idiota está tão bêbado.
- Ela disse para você solta-la – diz a voz do homem misterioso, um voz grave e rouca.
Bruce olha para o homem assustado e corre de volta para fogueira.
- Obrigada – digo, me ajeitando e levantando.
O homem não me olha. Eu o vejo ajeitar seu sobretudo preto e respirar forte.
- Qual é seu nome? – pergunto
Ele não responde, apenas olha para trás. E então eu vejo.
Olhos dourados.
Antes que eu possa falar mais alguma coisa, ou me aproximar, ele vai embora – rápido demais. E eu fico apenas com a imagem de seus brilhantes olhos dourados.