Kyle.
Jogo o mapa dá cidade que eu consegui em uma lojinha para turista na cama do quarto de Ethan, onde nós quatro conseguiremos ter visão completa do papel. Pego uma caneta vermelha e circulo os três lugares sonde se localizam as Feras brasileiras.
- Esses são os lugares onde as três gangues de Feras estão. As Feras de Brandon se localizam aqui no centro, num dos lugares mais ricos da grande São Paulo, o Morumbi. As outras três gangues nunca arrumaram brigas com ninguém, mas seriam ótimos aliados para nós. São inteligentes e tem bastante influência aqui na cidade - conto tudo o que sei.
- A quanto tempo não vem aqui, Kyle? - Claire me pergunta.
Olho para o ar, tentando não focar em Carrie ou em qualquer outra pessoa no quarto.
- A última vez que eu e Heather estivemos no Brasil foi em 1887.
Vejo a loira balançar a cabeça, concordando.
- Não acha que algumas coisas mudaram? - ela pergunta se aproximando do mapa.
Tiro meu casaco. O calor já estava se instalando quarto.
- A cidade mudou muito, com certeza, Claire. Mas a localização da Feras, não.
- Como sabe que as Feras de Brandon estão no Morumbi? - Carrie me pergunta.
Dou de ombros e respondo, sem a encarar.
- Fiz algumas pesquisas - sou vago.
Não consigo me lembrar de Laura e olhar para Carrie. E, sinceramente, não sei o porquê. Nunca fiz nada de errado com Laura ou com Carrie.
Algo está me incomodando muito. Eu estou apaixonado por Carrie. Pela primeira vez me sinto assim, apaixonado. Me sinto como se a minha única obrigação fosse protegê-la. Mas sinto como se Laura não tivesse ido embora. Sinto que não deixei isso para trás. Sinto que ainda não terminei este assunto e ele logo voltará para mim. E eu tenho medo que isso aconteça.
Temo que algo de ruim aconteça e tire Carrie de mim.
Quando eu a beijei, na minha antiga casa, foi algo totalmente novo e agradável. Prazeroso. Me senti como nunca havia me sentido antes. Vivo. Eu tenho 544 anos de vida e como Fera, 524. Sim, muito, muito, muito tempo. E em todo esse tempo eu me senti morto. A Maldição podia ter me deixado vivo fisicamente, mas mental e sentimentalmente, eu estava morto.
- Tudo bem. Antes de atacarmos as Feras de Brandon precisamos fazer nossas alianças. Nicoletta está fazendo isso e cada vez está ficando mais forte. - Ethan diz, pegando sua mochila e colocando-a nas costas.
Faço que sim com a cabeça. Sinto o olhar de Carrie pesar sobre mim.
Desde que saímos do Caribe eu tenho me afastado dela. Por vários motivos. Minha irmã foi sequestrada por Feras que, infelizmente, são mais fortes que ela; Eu estou apaixonado pela Carrie e isso, consequentemente, é uma vulnerábilidade que eu não posso ter agora. É algo que pode ser usado a favor de Nicoletta e de outras Feras.
Saímos do quarto, seguindo pelo corredor e descendo pelas escadas já que não quisemos esperar pelo elevador. Ethan se encarregou de alugar um carro, que já estava estacionado na rua. Ethan e Claire vão na frente e quando eu me preparo pra entrar no veículo, Carrie segura em meu braço.
- Preciso falar com você - diz ela em tom baixo. - A sós.
Faço que sim com a cabeça.
- Assim que voltarmos - minha voz sai mais áspera do que eu queria que fosse.
Vejo a expressão de Carrie vacilar e ela dá um paço para trás, como se tivesse acabado de levar um soco. No mesmo momento me sinto péssimo, mas não tenho tempo de me desculpar, Ethan nos apressa. Carrie, sem dizer mais nada, dá a volta no carro e entra pelo outro lado. Ficamos afastados um do outro.
Isso acaba comigo. Foi tudo mais rápido do que eu pretendia. Sei que posso estar sendo precipitado em dizer que estou apaixonado, mas é verdade.
Na primeira noite em que vi Carrie, não foi quando o sujeito bêbado e drogado a atacou - eu já havia visto ela antes. Lembro que no primeiro dia em que a vi ela estava escrevendo alguma coisa em seu computador. Ela estava no Portland Grill, sozinha. Lembro de sentir o cheiro de uma café expresso vindo daquela mesa. Não pude olha-lá por muito tempo, já que, pelo que entendi e percebi, ela sentiu minha presença, olhando diretamente para a janela, por um longo tempo.
Quando percebo, já chegamos ao nosso primeiro destino. A Rua Augusta. Um dos pontos mais movimentados a noite.
Saimos do carro e caminhamos entre várias pessoas, a maioria vestida como Drag Queen. Algumas delas - ou deles, eu não sei - olharam para mim, ou para Ethan.
Chegamos onde precisávamos. Quando nos aproximamos da entrada, dois armários - homens enormes - entraram em nossa frente bloqueando a passagem. Dou um passo passo para frente.
- Eu procuro por James Chervil. Meu nome é Kyle. Deveraux.
Um dos homens arqueia as sobrancelhas.
- Um Deveraux. James adorará falar com vocês! - ele libera a passagem. - Até mais, Deveraux.O homem dizia meu nome como algo sagrado, o que poderia ser já que éramos considerados um dos maiores culpados pela Maldição, depois dos O'conner, claro.
James havia adotado o sobrenome Chervil para a família - e sua primeira mulher, em 1500, e seus dois filhos, de 1920. Ele não queria nunca mais ser chamado de Deveraux, não queria isso para seus filhos. Bem, James pode mudar o nome, mas não a Maldição.
James Deveraux. É nome de nascença dele. James é irmão do meu pai. Meu tio mais próximo. Ainda estava vivo quando meus pais morreram, então também foi amaldiçoado.
Andamos até sala de visitas, passando por corredores parcialmente escuros e frios. Os corredores eram feitos de mármore, com longos tapetes no chão onde passávamos, como se mostrasse a direção onde devíamos ir. Até que chegamos na sala, onde encontramos música e mulheres seminuas dançando, enquanto quatro homens estão sentados em sofás vermelhos servindo-se por taças de vinho. No centro da sala, consegui encontrar James vestindo roupas caras.
A casa era totalmente diferente do que eu esperaria do James do passado.
- Ora, ora. Kyle Deveraux. Quando tempo.
É, literalmente, penso.
-James. - cumprimento.
Ele olha para todos os meus... Amigos. Mas para seu olhar em Carrie.
-Uma Stroock. Faz bastante tempo que não vejo uma, a última vez foi a und dez anos atraz. Ruby Stroock. Lindos cabelos loiros.
O olhar de James parece distante.
-Agora são vermelhos - Carrie diz.
James tomba a cabeça para o lado e manda as dançarinas, irem embora.
-O que fazem aqui? O que querem?
-Precisamos da sua ajuda, da ajuda de todo o seu clã.
James se aproxima de nós quatro.
- Para que?
Suspiro.
- As Feras de Brandon se juntaram a Nicoletta. - vejo surpresa em seus olhos. - Sim, ela voltou. E eles capturaram Minha irmã e as tias de Carrie, incluindo Ruby.
James agora tem um olhar preocupado.
- Eles pegaram Ruby. - ele sussurra. - E o que vocês tem em mente?
- Uma aliança entre nós e... o clã de Morgana.
James arregala os olhos, sutilmente.
-Bem, vou ajudar vocês.
Sinto um grande alívio.
-Mas acho que vão precisar de ajuda para entrar na casa de Morgana.
Concordo com a cabeça. James tira seu blazer, aparentemente Armani, e coloca dois frascos pequenos no bolso de sua calça social.
-Vamos, crianças. Temos bruxas para salvar.