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- Soap!

Os tiros zumbem, mas agora do nosso lado. A voz é de Price, eu a reconheço. Gaz, Nikolai e Price atiram contra Makarov e Andrei, os dois revidam, mas os russos desaparecem no corredor escuro, fugindo. Quando Gaz faz menção de persegui-los e impedir a fuga, Price interrompe. Não me movo. Permaneço estático, sentindo o peso de Soap despejado sobre mim, imóvel, amolecido.

- Garrick! - ele urra, e o soldado para, a apenas um passo de sair para o corredor - Eles vão explodir aquela garota se você tentar! -

- Ela está com eles, Capitão! - ele grita, esmurrando a parede, completamente atordoado, irado de raiva - Olha o que eles fizeram! Soap! -

Os olhos se voltam em nossa direção, e eu finalmente consigo ter forças para levantar, erguendo Soap o suficiente para que ele descansasse sobre o meu colo. Deixo sua cabeça repousando sobre minha coxa. Encaro o ferimento em seu peito, a região afundada, inundada em sangue que brotava como em mina.

Toco, tentando conter a abertura. Não penso sobre ser útil ou não, apenas faço qualquer coisa. O sangue dele encharcava minhas luvas, quente, escorrendo rápido demais.

O silêncio veio rastejando, denso como fumaça, se infiltrando nos cantos da sala, na minha pele, nos meus ossos. Para mim, tudo já tinha ficado distante. Tudo tinha ficado insignificante. O peso de Soap sobre mim não era só físico. Era um peso esmagador, um fardo que se instalava no meu peito, empurrando para baixo, me afogando.

- Tenente... - ele sussura, quase mudo.

- Fica comigo, Johnny.

Minha voz saiu mais grave, arranhada, mas nada poderia disfarçar o que eu sentia. Ele gemeu. Um ruído fraco. Um som pequeno diante da enormidade do que aconteceu. Os outros se moviam e falavam, e a única coisa que eu conseguia focar era a respiração de Soap. Rápida, falha. Cada expiração parecia um fio de vida se esvaindo.

Soap abriu os olhos com esforço, as pálpebras pesadas, piscando devagar. Havia dor ali, uma dor profunda, dilacerante, mas também algo mais. Um lampejo de consciência, um resquício de provocação. Ele sempre fazia isso - desafiava até a própria morte com aquele jeito desgraçado de encarar tudo como se fosse uma briga de bar.

Mas, dessa vez, não. Dessa vez, não havia sorriso.

Seus olhos, sempre vibrantes, agora estavam turvos, enevoados. Ele me olhava, não com bravata, mas com algo mais sombrio, algo que me atingiu como um soco. Resignação. Eu balancei a cabeça, apertando os dentes sob a máscara. Não, Johnny. Não ouse me olhar desse jeito. Ele tentou engolir em seco, a garganta trabalhando com dificuldade, e sua mão se moveu, fraca, suja de sangue. Tocou meu antebraço, apertou levemente. Quase como um "eu prometi, Tenente".

- Precisamos tirar ele daqui. Agora.

Minha voz soou como um trovão na tempestade de murmúrios e respirações contidas. Price me encarou. Seu olhar estava escuro, fundo como um abismo, e dentro dele eu vi a mesma raiva que queimava no meu peito. Mas ele sabia. Assim como eu sabia. A vingança podia esperar.

Por enquanto.

- König - Price chamou, a voz carregada de algo cortante - Tira a gente daqui -

Gaz se ajoelhou ao meu lado. Seu ódio de antes agora parecia outra coisa, um peso sombrio em seu rosto. Ele segurou o braço de Soap, o aperto forte demais. Johnny olha em seus olhos, exausto, fraco. Não consegue verbalizar coisa alguma, nem parece estar lúcido.

- Vai dar tudo certo, parceiro.

Mentira. Ele sabia que era mentira. Eu também sabia.

Um som de passos pesados se destacou. Olhei por cima do ombro, e lá estava ele. König saiu detrás da mesa. Ombros rígidos, mãos cerradas, o andar carregado de propósito. Sem dizer uma palavra, ele se ajoelhou ao nosso lado. Os olhos percorreram Soap, os ferimentos, a poça de sangue se alastrando lentamente pelo chão.

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⏰ Última atualização: 16 hours ago ⏰

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edelweiss | a könig storie.Onde histórias criam vida. Descubra agora