O silêncio na cela era cortado apenas pela respiração contida de cada um de nós. Mas então, o primeiro som veio - um grito. Longo, agonizante, se desfazendo em um ruído estrangulado antes de ser abruptamente silenciado. Segundos depois, mais tiros. Disparos espaçados e calculados, pontuais, sem margens para erros. Depois, o som de algo grande colidindo com o chão, talvez móveis pesados, talvez corpos.
A equipe inteira encara o corredor escuro, ouvindo o eco dos sons se aproximando cada vez mais, a lampada tremeluzindo, incômoda, piorando o suspense que se cria nos intervalos de silêncio e morte, chegando cada vez mais até nós. Estou parado na frente de todos eles, segurando em uma das mãos minha faca de arremesso.
Encaro fixamente o corredor escuro, meus sentidos aguçados para detectar qualquer movimento. Mas tudo o que veio foram os sons - gritos, tiros, coisas pesadas desmoronando. Torço, silenciosamente, para que ele conseguisse. Não só nos libertar - mas acabar com todos os Konni que encontrasse. Queria que ele rasgasse aquele lugar de dentro pra fora, que deixasse apenas cadáveres no caminho. Ele já fizera isso antes. A ideia de vê-lo voltando, coberto de vermelho, como um ceifador, era a única certeza que me acalmava naquele momento.
Soap olhou para mim, e eu já sabia o que ele ia perguntar antes mesmo das palavras saírem de sua boca.
- O que diabos tá acontecendo lá fora, Tenente? - ele observa o meu perfil, com aquela mesma expressão de curiosidade e dúvida contidas.
Eu não precisei pensar, não precisei supor. A resposta estava cravada com uma certeza indiscutível. Pisco, e solto um longo suspiro.
- König está fazendo um massacre.
Soap piscou, surpreso e seguiu a direção dos sons com os olhos. Ouvimos mais tiros, mais gritos. Um estampido metálico de algo se chocando contra uma superfície dura. E o som parecido com o de um côco se partindo ao meio.
- Sozinho?
Me virei para ele, e por um momento, olhando seriamente no fundo de seus olhos, talvez transmitindo a única preocupação que ter König em estado de combate me trazia. Ele realmente não sabia. Nenhum deles sabia.
- Ele exterminou uma célula da Al Qatala num porão em Berlim sozinho, com uma pistola e uma faca - narro os fatos como quem consegue visualizar tudo aquilo acontecendo. Minha voz saiu calma, mas carregada de um peso que fez Soap engolir seco - Doze terroristas mortos, desfigurados, com pedaços faltando. Vocês definitivamente não sabem do que ele é capaz, porém... É imprevisível - finalizo, temendo pela última parte.
- Como assim?
- König tem estresse pós-traumático. Daquele tipo.
Os olhos de Soap se abrem de preocupação. Ele sabe do que se trata.
Eu tinha lido minuciosamente cada linha do relatório de König Wilhelm Furtwängler, cada antecedente impecável de sua atuação escolar, profissional e militar. Tudo absolutamente irretocável, König é um louvável soldado. Louvável.
O problema, era que seu único erro, a única mancha em seu currículo, era grande o suficiente para que todo o resto pagasse.
As palavras do psicólogo que o atendeu quando o tiraram daquele porão em Berlim, eram claras: "Estado catatônico induzido por trauma extremo", foram as palavras exatas dele. Disse que o cérebro dele desligou para se proteger, que ele passou dias preso num ciclo de reatividade pura antes de simplesmente... parar. "Suspeita de crise dissociativa em meio à missão". Não era um diagnóstico fechado, mas a preocupação estava lá, logo, se tivesse acontecido uma vez, poderia acontecer de novo. "Altos níveis de estresse podem precipitar um novo episódio." Aquilo ficou na ficha para sempre.
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edelweiss | a könig storie.
FanfictionKönig não podia escapar. O passado sulfúreo que emana dos muros e que flutua nas ruas de Viena o perseguiria para sempre. A luz amarela dos postes antigos que resplandecem nas calçadas molhadas, e evocavam a necessidade precípua que todo austríaco c...