Noite de natal pt 2

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A magia do Natal pairava no ar, mas dentro de mim, um turbilhão de emoções se desenrolava. Ele se afastou em silêncio, pousando o buquê sobre a mesa onde um presente embrulhado repousava. Meu coração apertou, mas respirei fundo, endireitei minha postura e tomei uma decisão: dessa vez, eu não vou atrás. Eu mereço mais.

A mesa estava posta, refletindo o brilho suave das luzes natalinas. Ele se sentou e, por um instante, vi sua expressão mudar ao notar a chegada de Jimin. A porta se abriu, e Lua correu até mim com um sorriso iluminado. Logo depois, os meninos entraram fazendo festa, enchendo o ambiente de risadas e calor humano.

Engoli qualquer resquício de dor e me recompus. A noite de Natal não merecia ser manchada. Todos se sentaram, e então, Nam se levantou, atraindo nossos olhares.

— Meninos, Lara, Lua... Agora sim, começa o nosso Natal. Sei que tudo deve estar confuso, mas...

Ele se aproximou, e Yoongi, com um sorriso sincero, retirou algo do bolso. Uma chave. Meu coração acelerou enquanto tentava entender.

— Lara, esse é o nosso presente para você.

Yoongi estendeu a chave em minha direção, e antes mesmo de pensar, meus olhos se encheram de lágrimas. Sem hesitar, o abracei forte, sentindo seu calor e seu carinho sincero. Quando nos soltamos, virei-me para todos, a voz embargada.

— Obrigada, meninos. Nunca imaginei que receberia algo assim... Na verdade, nunca quis presentes. Ter vocês já é o suficiente.

— Você merece, pequena — Nam sorriu. — Mas quando puder, agradeça ao Bang. Foi ideia dele... Ele disse que agora quer acompanhar de perto esse baby.

A emoção transbordava em mim.

— Obrigada, de verdade.

Apesar de tudo, eu e Tae sabíamos nos portar. O orgulho e a mágoa ficaram em segundo plano para que a noite fosse agradável. O tempo passou, e todos decidiram dormir na sala, entre almofadas e cobertores espalhados. De início, recusei... Seria difícil ter Tae tão perto depois de tudo o que ouvi.

— Meninos, eu não explorei a casa... Alguém pode me levar até o quarto?

— Leva ela, Tae — alguém sugeriu.

Ele me olhou, e sem contestar, apenas assenti. Ninguém precisava saber o que realmente acontecia entre nós. Caminhamos em silêncio até um dos quartos. Assim que ele abriu a porta, perdi o fôlego.

Era perfeito. Tons claros, um closet enorme, um banheiro com hidromassagem... Exatamente como eu sempre sonhei.

— Espero que tenha gostado. Montei do jeito que você sempre disse que queria.

Engoli em seco, sentindo um misto de gratidão e dor.

— Obrigada... Vou procurar um pijama e já desço. Esses saltos estão acabando comigo.

— Senta aí, eu pego pra você.

— Não precisa, Tae.

Ele hesitou por um segundo antes de suspirar.

— Lara, você está gerando o nosso filho. Por mais merda que eu seja... deixa pelo menos eu fazer isso.

O silêncio se instalou. Ele foi até o closet enquanto eu tirava os saltos e retirava minhas joias. Soltei o cabelo e comecei a desabotoar o vestido. Quando ergui o olhar, vi Tae parado no canto, encostado na parede, os olhos fixos em mim. Seu olhar era intenso, carregado de algo que eu já não sabia decifrar. Ao perceber que me encarava por tempo demais, ele desviou o olhar e me entregou o pijama.

— Vou descer para você se trocar.

— Tá... Daqui a pouco eu desço. Pedi para a Lua subir, por favor.

Ele assentiu, caminhando até a porta. Antes de sair, lançou um último olhar na minha direção. Eu já estava apenas de peças íntimas. Tae abaixou a cabeça e fechou a porta atrás de si.

Assim que me vesti, Nayane entrou com um sorriso travesso.

— Tá gostando de estar com os meninos?

— Sim, Lua... Mas eu preciso te falar algo.

— O que foi?

— Amanhã eu vou sair cedo. Todos estão aqui, será que você dá conta?

Ela franziu a testa.

— Por que não daria?

— Preciso encontrar uma pessoa... Ele não está em Seul, está em Jeju. Vou assinar um contrato e posso demorar mais de dois dias para voltar.

— Você tá dizendo que vai viajar?

— Sim. Vou encontrar alguém importante.

— O Tae sabe disso?

— Não. E nem vai saber. Ele não merece a mulher que tem... ou que tinha.

— O que você disse?

Desviei o olhar.

— Nada. Akira vai comigo. Preciso só das vitaminas e que você tome cuidado. Apesar de que Nam está cuidando muito bem...

Nayane revirou os olhos.

— Lá vem você de novo...

— Eu conheço ele, e você também.

— Ele me chamou pra sair.

Sorri, balançando a cabeça.

— Eu sabia!

Antes que Lua respondesse, alguém bateu na porta.

— Entre!

Yoongi surgiu, me analisando com atenção.

— Você demorou... Vim ver se estava tudo bem.

— Está sim. Por que não estaria?

Ele cruzou os braços.

— Lara, eu te conheço bem demais. Sei quando algo está errado.

Suspirei.

— São só hormônios. Tá tudo bem.

— Sério? Vai mentir pra sua alma gêmea?

Eu não queria falar sobre isso agora.

— Yoon, agora não... Você sabe que as coisas não estão fáceis.

Ele suspirou, segurando minhas mãos com firmeza.

— Não importa o que aconteça, eu sempre vou estar com você. Aqui ou no Brasil... Eu vou cuidar de você pra sempre.

Engoli em seco.

— Queria que fosse mais fácil... Por que ele não termina logo com isso? Yoon... É um filho. Eu só queria entender... Por que agora?

— Não dá pra entender. Mas uma coisa eu sei... Ele é burro. Tá te perdendo. Eu te conheço bem o suficiente pra saber que, se você esfriar, ele vai ser apenas o pai do seu filho.

Antes que eu pudesse responder, Jeon entrou correndo, fugindo de Hobi, que segurava um tubo de espuma. O clima pesado se desfez, e logo todos estávamos rindo.

Ao descer para a sala, a visão era de puro caos e felicidade: travesseiros voavam, risadas ecoavam. Lua olhou para mim, rindo.

— Vai lá, Lua

— Eu não! Esses meninos são doidos.

— Já já você se acostuma.

Quando a brincadeira chegou ao fim, reunimo-nos para cantar. As vozes misturavam-se ao brilho das luzes natalinas, criando uma cena digna de um filme.

Pouco a pouco, o sono nos venceu. Um a um, fomos nos acomodando ali mesmo, na sala. O calor humano, as risadas abafadas, os sentimentos confusos... Tudo se misturava na magia daquela noite.

E, por um momento, só por um momento, a dor deu espaço para a paz.

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