Intuição

Neve , memórias e recomeço

Ao sair de casa, respiro fundo e fecho os olhos por um instante. O ar gelado preenche meus pulmões, e quando estendo as mãos para o céu, sinto os pequenos flocos de neve tocarem minha pele. Um sorriso involuntário surge, e, sem pensar, giro devagar, como uma criança que acaba de descobrir a magia do inverno.

Akira me observa com um olhar discreto, mas vejo um pequeno sorriso se formar em seu rosto. Pela primeira vez desde que cheguei, um calor diferente cresce dentro de mim. Alegria. Simples e pura.

Enquanto caminhamos, percebo que a cidade já começa a se enfeitar para o Natal. As luzes, as guirlandas, as vitrines decoradas... Tudo parece saído de um filme. Meu coração aperta, e meus olhos se enchem de lágrimas.

O Natal sempre teve um significado imenso para mim. Meu padrinho me ensinou a amar essa época, a viver cada momento com intensidade. Preparávamos juntos as ceias, trocávamos presentes e, acima de tudo, compartilhávamos amor. Desde sua partida, o Natal nunca mais foi o mesmo. Mas este ano... Pela primeira vez, vou passar em um lugar onde a neve cobre as ruas, onde poderei usar pijamas quentinhos e descer ladeiras nevadas como sempre sonhei.

Akira já me espera com a porta do carro aberta. Entro, e ele nos leva ao centro da cidade. Assim que chegamos, o frio parece ainda mais intenso. Corro para dentro de uma cafeteria aconchegante, onde o aroma de chocolate quente e canela me envolve.

— Um chocolate quente com chantilly e um cookie, por favor — peço com um sorriso.

Escolho uma mesa perto da janela, observando as pessoas caminhando lá fora. Risadas enchem o ambiente, trazendo uma sensação acolhedora. De repente, um riso específico chama minha atenção. Olho ao redor e vejo uma moça de cabelos ondulados, rindo de algo que seu amigo disse. Ela parece tão leve, tão cheia de vida... Sem perceber, fico observando sua energia contagiante, até que sou tirada do transe pelo atendente chamando meu nome.

Me levanto para buscar meu pedido, mas, distraída, acabo esbarrando justamente nela.

— Me desculpe, eu não te vi! — digo apressada.

Ela sorri, sem um pingo de incômodo.

— Fica tranquila, eu que me distrai olhando aquele segurança na porta.

Dou uma risada.

— Ah, o Akira?

— Então é esse o nome dele?

— Sim, ele é meu segurança. Sou Lara. E você?

— Lua. Muito prazer!

A conversa flui naturalmente. Descubro que ela veio conhecer a Suíça e passar o Natal aqui. Trocamos contatos e prometemos nos encontrar novamente.

Após terminar meu chocolate, volto a caminhar pela cidade com Akira. Paro em frente a uma das lojas de luxo e, para minha surpresa, vejo minha campanha com Eunwoo estampada na entrada da Dior. Um misto de orgulho e nostalgia me invade. Sem pensar duas vezes, tiro uma foto e envio para ele.

Entro na loja e olho algumas peças que já fazem parte do meu closet desde o período como modelo da marca. Algumas funcionárias me encaram surpresas, cochichando entre si. Sinto o calor subir pelo meu rosto, sem saber exatamente como reagir, até que Akira intervém.

— Por favor, sem alvoroço.

Sorrio em agradecimento e continuo minhas compras, mas antes de sair, recebo uma mensagem de Eunwoo.

"Na Dior da Suíça, Lara? Você é tão previsível. Já até sei onde está ficando. Tenho novidades, me ligue depois."

Rio sozinha e respondo:

"Pronto, estou sendo vigiada agora?"

"Seu nome bateu no sistema e o Alberto pediu para aprovar sua compra sem cobrança. Ele também me mandou sua localização."

"Bom saber que ainda sou importante por aqui! Fico feliz. Depois nos falamos."

Quando estou prestes a sair da loja, vejo uma aglomeração na porta. Alguns fotógrafos já se posicionam, prontos para capturar qualquer movimento meu. Respiro fundo.

— Tem alguma saída alternativa? — pergunto a uma das funcionárias.

— Sim, me siga.

Ela me leva por um caminho discreto, e logo estou de volta ao carro.

Antes de irmos para casa, Akira me lembra que ainda não jantamos. Perdi completamente a noção do tempo na Dior.

Ele me leva a um restaurante aconchegante, e escolho um fondue de queijo.

— Você deveria jantar também — digo para Akira.

Ele hesita por um instante, mas acaba aceitando. Conversamos um pouco até que o celular dele toca. Aproveito para observar o restaurante, mas assim que o fondue chega à mesa, meu estômago se revira.

Um enjoo inesperado toma conta de mim. Levo a mão ao nariz, tentando afastar o cheiro, e chamo discretamente a garçonete.

— Pode me trazer uma água gelada com limão, por favor?

Ela não demora a atender meu pedido. Tomo alguns goles, respiro fundo e tento comer, mas a missão se torna impossível.

Akira me observa com um olhar preocupado.

— Está tudo bem, senhorita Lara?

Forço um sorriso.

— Sim... Acho que essa mudança de temperatura e o estresse me deixaram um pouco enjoada.

— Se quiser, podemos ir ao médico.

— Não, vai passar. Mas acho melhor voltarmos para casa.

Ele concorda e pede para embalar o fondue antes de sairmos.

Ao chegar em casa, tomo um banho quente e visto um pijama confortável. Me jogo na cama e finalmente ligo para Eunwoo.

— Oi, meu príncipe.

— Oi, princesa. Como você está?

— Acho que o frio e o estresse me deixaram com o estômago um pouco sensível, mas nada que um remédio não resolva. Me conta, qual é a novidade?

— Eu e Rebeca decidimos noivar depois do Natal! Vamos fazer uma festa de comemoração e queremos que você venha. Será algo íntimo, e você será uma das madrinhas.

Meus olhos se arregalam, e um sorriso enorme surge em meu rosto.

— Meu Deus, jura? Eu estou tão feliz por vocês! Mandem tudo pra mim, prometo dar o meu melhor.

— Mandaremos, com certeza. Se cuida, Lara. Te vejo mês que vem.

— Até lá!

Desligo o celular e, pela primeira vez no dia, me permito relaxar.

Fecho os olhos, sentindo o calor do cobertor me envolver. O dia foi cheio de emoções, mas, de alguma forma, sinto que algo novo está começando.

E talvez, só talvez... seja um recomeço que eu realmente preciso.