JORGENaquela noite estrelada e escura. Naquele local onde o beijo mais apaixonado foi realizado, sentado na rocha onde antes minha querida amada estava deitada. As sensações que estava sentindo no dia anterior sendo apenas relembradas, sem poderem ser revividas. Saudades. É o sentimento que toma conta de mim, ao lado da tristeza e da raiva. Apesar de ter se passado apenas um dia, pra mim parece uma eternidade. O quanto antes começarmos a agir, mais rápido Anna volta para nós.
-Jorge, eu não sei o que dizer para você se sentir melhor. - Disse Anabella.
- Não se preucupe comigo. Vamos conseguir trazê - la de volta, Catarina vai pagar por tudo que fez.
- Anna já estava estranha desde quando entrou na casa de bonecas. Como sua personalidade ficou mais forte, deduzi que minha mãe estava começando a fazer algo. Porém... resolvi ignorar a situação. Eu sinto muito. - Anabella abaixou a cabeça e ficou sem palavras.
Estávamos andando pela floresta, à caminho da casa de Bernarda. Sumimos por dias e não demos notícias, nem a ela e nem a Henrique. Depois do que Bernarda fez, não sei se consigo olhar para ela de novo. Ela possui uma boa parcela de culpa nisso tudo.
- Bom... chegamos.- Anabella falou como se fosse um desabafo. Ela aparentava estar cansada demais. - Você não quer entrar, não é? Eu sei que é difícil, mas é necessário. Acredito que Bernarda já reconheceu que errou. Já deve estar arrependida do que fez.
- Você é muito otimista. Não sei como sua mãe conseguiu ficar com você durante tanto tempo. - Bernarda falava, saindo de dentro da casa dela. - Adoraria ficar com vocês, mas preciso sair. Até logo.
- Onde você pensa que vai? - Falei.
- Meu amor, realmente não é de sua conta.
Anabella começou a posicionar sua varinha. Bernarda simplesmente ignorou e continuou andando.
- Eu não queria fazer isso, mas você pede para ser odiada. - Anabella apontou a varinha para Bernarda. Mas foi eu quem fez o trabalho.
De ontem para hoje, não consegui dormir nem um minuto. Passei várias horas pensando em algum plano, entretanto, nada vinha à minha cabeça. Foi durante esse tempo sem agir, sem fazer nada, que descobri que posso paralisar partes do corpo de qualquer coisa que se mexe. Seja uma boneca, seja um rato de três metros ou até mesmo um ser humano. Os danos são os mesmos.
- Não consigo mexer a perna direita. O que você fez? - Bernarda começou a se desesperar.
- Achei que você nunca mais fosse usar esse dom. - Anabella questionou. - É cruel demais para você.
- Cruel é ver que Anna está sendo controlada mentalmente pela sua mãe e não conseguir pensar em nada para ajudá-la. Cruel é saber que pessoas se vendem por tão pouco. Sacrificam outras por tão pouco. Bernarda merece morrer. - Quando terminei de falar, me direcionei a ela para estrangulá-la. Mas Anabella me conteve. Andei tão rápido em direção ao meu alvo, que foi necessário ela dar passos largos para se meter em minha frente antes que eu chegasse onde pretendia. Ela pegou em meu peito e parece que perdi a noção de tudo. Fez eu refletir sobre o que eu fiz e sobre o que eu irei, ou melhor, iria fazer. Uma breve passagem pelas consequências dos atos que eu poderia cometer. Conviver com a culpa de ter matado cruelmente, com as próprias mãos, uma menina, que tem duas vezes menos meu tamanho, por ódio momentâneo.
Não sei se isso exigiu muito de Anabella, mas ela agora estava começando a ficar mais fraca, a ponto de se apoiar em meu braço. Ela estava com o rosto mais pálido que o normal.
- Por favor. Não faça nada do que pode se arrepender depois. A pior coisa que existe, é você ter que acordar todos os dias com um peso enorme em sua consciência. Nunca queira isso para si. Eu digo porque passo por isso todos os dias.- Anabella não aguentava mais ficar em pé. Carreguei ela. - Deixe-a ir. - Depois disso, dormiu com a cabeça em meu ombro.
Bernarda saiu se arrastando como podia, se apoiando em todos os lugares possíveis para conseguir se locomover. O mais impressionante de tudo isso, é que eu não conseguia sentir nem um pouco de remorso pelo que fiz.Levei Anabella para dentro da casa de Bernarda. Henrique estava dormindo na única cama da casa. Como a cama era de casal, coloquei Anabella ao lado dele.
Da última vez que fui convidado para deitar nessa cama, fiquei apaixonado pela dona por algumas horas. Anna ficou aparentemente com ciúmes, mas quando parei para pensar melhor a respeito, percebi que não era nada normal estar apaixonado por alguém que não conhecia. Ainda mais gostando da pessoa que estava sempre do nosso lado. Nada me tira da cabeça que Bernarda usou alguma coisa para me atrair a ponto de pedi-la em casamento. Graças a Deus Anna ficou com tanta raiva que eu conseguia sentir junto com ela e saímos de perto de Bernarda a tempo. Achei que nunca mais fôssemos nos separar depois daquela noite. Que enfrentariamos isso lado lado, e não frente a frente.
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Princesa de Godava
FantasyA garota mais popular da escola e o nerd desengonçado. O que parecia impossível torna-se necessário. Anna e Jorge veem-se obrigados a se aturarem em uma incrível jornada, cheia de fantasias e aventuras, ciúmes e brigas. Em um Reino encantado complet...