A conversa com os pais

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Belinda

Minha vida estava acabado, não tinha como lutar contra isso. Conheço casos de câncer onde as pessoas não sobrevivem, e tenho certeza que estou entre elas.

Um filme começou a passar na minha cabeça. Minha vida, minhas amigas, minha família. Em breve eu deixaria todos.

Quando ele percebeu que eu não estava mais chorando, segurou meu rosto e enxugou minhas lágrimas.

— Você sairá dessa. É uma garota jovem e forte.

— Do que adiantou ter uma vida saudável se a doença acabou me encontrando?

— Não tenho resposta para essa pergunta, mas você não vai se deixar abater. Você tem o apoio da sua família, tem a minha e terá dos seus amigos. Essa doença não vai te vencer.

Baixei a minha cabeça, mas Kadu colocou a mão debaixo do meu queixo e a ergueu.

— Você está me ouvindo Belinda? Você vai lutar.

— Não sei se consigo.

— Você vai lutar.

Nos olhamos por alguns segundos e quando me toquei seus lábios já estavam tocando os meus. Não foi nada possessivo, foi o mais doce e surpreendente beijo que recebi. Tinha um sentimento de compreensão e desejo.

— Por que fez isso? — perguntei ao me afastar.

— Eu não sei.

— Eu preciso ir embora. Não estou preparada para lidar com isso agora — falei seguindo para a porta.

— Belinda, espere. — disse Kadu segurando meu braço. — Por favor, não saia assim. Desculpe-me. Eu não quis... Eu só pensei...

Olhei para Kadu e acredito que pela primeira vez eu o vi sem defesa. E isso me deixou ainda mais confusa.

— Fique mais um pouco. Quero ter a certeza de que você está bem.

— Eu não estou bem, mas ainda estou viva, pelo menos por enquanto. — falei dando-lhe um meio sorriso.

— Pare de falar como se você fosse morrer amanhã.

— Não amanhã, mas em breve.

— Não vou deixar você agir como se aqui fosse o ponto final. Lutaremos contra essa doença.

— Vamos? — perguntei erguendo minhas sobrancelhas.

— Não sou a melhor pessoa do mundo, mas estou aqui. Então posso revindicar um lugar ao seu lado.

— Por que de uma hora para outra você deixou de me ver como a rata de laboratório? — perguntei confusa.

— Eu ainda te acho uma rata de laboratório. E não tenho resposta. Isso que estou sentindo, nunca senti antes.

— Olho para você agora e não consigo ver quem é você. Esse Kadu está diferente.

— Vamos deixar o meu lado bonzinho de lado. O foco agora é você. Vamos cuidar da sua saúde e depois, bem, depois voltaremos a conversar sobre isso, ok?

Eu não sabia o que falar, então eu apenas concordei com um gesto de cabeça. Kadu se aproximou e por um momento pensei que iria me beijar novamente, mas apenas me abraçou.

— Você pretende falar com seus pais ainda hoje sobre os resultados? Eles devem estar tão preocupados quanto você.

— Eles não sabem de nada. — falei baixinho.

Antes de você - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora