Vendado

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A cegueira aproxima-me e
envolve-me em seus braços.
Agora, incapaz de ver,
os demais sentidos apuram-se.
Posso sentir minha língua
amolada.

A branda e serena porcelana
da boneca
põe-se à mostra,
mas não a vejo.
Observo com o tato
sua fragilidade
(facilmente a quebraria com um sopro).

No entanto, minha inclinação
jamais a faria mal algum.
Ao tocar-lhe o ombro,
a convido para dançar.

Durante a valsa que me brinda,
uma lágrima faz seu caminho
através de seu rosto
deteriorando um pouco de sua pintura.
Ela me desprende da hipnose.
Pede desculpas e afasta-se chorando.

Distanciando-se de mim,
é possível sentir no ar:
sua alegria falha.

Em seguida noto um leve sorriso
em seu rosto.
Não era nada.
Seguramente não desejava mais dançar.
E não há problema nisso, mas
por que não disse?

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