Afável

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Atiradas às paredes, pessoas.
Maduras, que já devem ter
caído muito.
E verdes, descobrindo
o que há por vir.
Silenciosamente, espreito.

Silenciosamente, vejo
seres atarantados de dor
e preenchidos por tamanho vazio,
que sequer cabe dentro de si.
Curiosamente, espreito.

Curiosamente no encalço de todos,
mirando e notando.
Porém, nada é guardado,
tudo é memória perdida.
Inevitavelmente, espreito.

Inevitavelmente, acordo para a realidade.
Dou-me de cara com a dura,
cristalina e dura verdade.
Diria que é boa, porém,
é apenas confortavelmente triste.
Infelizmente, espreito.

Infelizmente, nem tudo vejo,
e, se desagradável é aos olhos a visão
sem tudo ver,
temo veementemente
a ideia de um dia enxergar.
Inertemente, espreito.

Inertemente, o tempo caminha.
Correndo como as pessoas,
e devagar como as mesmas.
Incorrigível!
Tudo, porém, é inescrutável.

Sem palavras e sem ações,
espreito.

Do que realmente somosOnde histórias criam vida. Descubra agora