Uma semana por um milhão

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"Pneumonia!"
"Não está fácil para ninguém!"
"Acidente!"
"Acontece!"

Palavras voam pela janela
e pairam sobre a mesa.
Doce momento de carranca,
tristeza profunda do dia anterior.
Nada a nós cabe, apenas viver.

Quanto tempo sem vê-los,
quanto tempo sem falá-los.
Uma vida inteira em um sábado cortado,
um dia apenas vivido por uma vida.

Atravessando a rua eis que vejo
meu velho querido.
"Aonde vais?"
"Vou pro céu. Cabou-se minha luta."

Médicos, enfermeiras, pacientes, impacientes,
esperam, morrem, agonizam,
aguardam o seu momento:
"Já podes ir" - quem dera ouvir.

Vamos. Estenda-me a mão.
Que tal corrermos juntos pelas fileiras da vida?
Carnearmos um terneiro?
Ou quem sabe dançar a valsa da despedida?

Duas mãos vagarosamente se afastam.
Ainda vão? Aonde vai? Aonde foi?
Uma fica, a outra vai,
perde-se o riso
e ficam as lágrimas.

Do que realmente somosOnde histórias criam vida. Descubra agora