1. Clarice

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 Fecho a porta e passo a chave na tranca. Luke está de pé, no seu melhor estilo de samba canção e camisa xadrez, ele está concentrado em alguma equação louca.

- Lucas Alves pelo amor de nossa senhora dos vibradores, vai colocar uma calça, já falei pra você que aqui não é sua casa, porra! Não fico me matando de trabalhar naquela lanchonete ridícula pra pagar esse aluguel, chegar em casa e ver um cara no meu sofá, e de cueca ainda por cima!

Ele olha pra mim com cara de assustado, isso, é assim que eu gosto.

Devo ter exagerado mas... Ah foda-se, homem folgado! Chega na minha casa como se fosse o dono. No final das contas eu tenho pena dele, coitado! Foi gostar logo da doida da Ramona. Conheci Ramona no ensino médio, sempre com os cabelos pintados de uma cor nova a cada semana, Luke sempre foi apaixonado por ela, eles até tentaram ter um relacionamento, mas isso não é muita a cara dela.

- Clare, aceita que dói menos. Agora eu moro nessa casa também, aceita mona! -diz ele, fingindo ser gay e provavelmente bêbado.

- Se eu não tivesse tão cansada, eu te ensinaria ter educação, coisa que tua mãe foi incapaz de fazer.

Depois dessa, vou para o meu quarto. Nossa casa tem um tamanho relativamente bom. Com três quartos. A briga maior era o banheiro, apenas um.

Minha cama parece tão atrativa agora, mas primeiro preciso de um banho.

Enquanto a água cai em mim, fico relembrando a sensação de suas mãos no meu corpo.

Juro que esse será último, prometi para mim.

Esperei pacientemente meu cliente favorito. Fernando o nome dele, um homem incrível. Ele tem um diferencial em todos os outros clientes, ele não só se preocupa com o próprio prazer, mas com o meu também.

Sim, mesmo eu sendo seu "brinquedo" por algumas horas, ele me faz bem, ou fazia, por esta foi a última vez. Ele me faz querer ficar horas ao seu lado. Talvez eu sinta algo por ele, mas sei que se existir algum sentimento nessa história, eu que sairei machucada, que homem se apaixonaria por sua puta.

- Clariceeeee!!!! Sai desse banho agora, não é a toa que a Cantareira está vazia, poxa! -grita Ramona, batendo na porta do banheiro e me desprendendo do devaneio.

Filha da mãe!

- Obrigada, sua linda, por me assustar! Vai cuidar do seu amor lá na sala... Vai e me deixa em paz! -respondo.

- Tudo bem Clare, seus filhos vão me agradecer no futuro. Ah e eu não tenho nenhum relacionamento sentimental ou sexual com o Luke, como digo desde sempre...

Escutei seus passos se afastando da porta. Terminei meu banho e sai do banheiro, fui em direção ao meu quarto, precisava dormir um pouco, depois na minha tarde agitada.

Vinho TintoOnde histórias criam vida. Descubra agora