9. Clarice

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Acordo com uma puta dor de cabeça, ressaca de vinho barato. Pô, esperava mais de você Clarice. Depois de ontem, nem vi a Nina chegar. Olho para o lado e vejo marcando no relógio 5:20 da manhã. Ótimo, já que acordei, vamos levantar né...

Saio do banheiro com uma toalha enrolada no corpo, e escuto um barulho na cozinha, vou pra lá e vejo Nina no seu amado balcão.

- Nina, nem vi você chegar ontem... – Falo.

- É... Ontem tive que ficar atendendo até tarde – Reponde com a cabeça baixa, evitando olhar nos meus olhos.

- Poderia ter avisado, né?– Olho pra ela, estranhando seu comportamento – Mas tudo bem, vou me trocar, quero chegar cedo hoje.

- Ei, você nem me contou como foi lá – ela fala olhando para mim, parecendo realmente interessada.

Engulo em seco e respondo.

- Foi bom, tem poucos alunos, só três mulheres, tem alguns que ficaram em grupo, é raro isso. O meu orientador se chama Fernando.

- Legal amiga, faz tempo que você está batalhando por isso, você merece... – sinto sinceridade em suas palavras.

- Obrigada Nina, bom vou fazer alguma coisa pra eu comer, aproveitar que eu acordei cedo, né? Como sabemos bem, não é todo dia que isso acontece – falo e logo começamos a rir.

- E eu vou dormir, estou cansada, sabe... trabalhar até tarde cansa – diz ela segurando o riso.

- Ok né, bom dia... Ou boa noite – digo me despedindo dela.

Ela transou! Conheço a cara de uma mulher bem comida, depois de tanto tempo trabalhando diretamente com sexo, você acaba ficando experiente em algumas coisas. Mas se ela não contou nada, provavelmente é uma noite e nada mais...

Vou para meu quarto e coloco uma lingerie (lingeries que era ainda do meu tempo de "Bruna", eu era uma prostituta considerada de luxo, tinha que usar roupas que fazia jus ao meu título, mas não usava coisas muito vulgares. Não fazia meu estilo. As roupas e acessórios eu guardava em um quarto de hotel, onde atendia alguns clientes (outros escolhiam lugares de preferência deles). Uma calça jeans, uma bata branca de renda e uma bota com um salto. Faço uma maquiagem básica. Pronto.

Pego minha sacola/bolsa e minha outra bolsa em cima da minha mesa de estudo, e procuro meu celular. Checo minhas mensagens. Opa...

FERNANDO lhe enviou uma mensagem. Às 4h25m de sexta-feira.

"Clare, desculpe não mandar a mensagem antes. Apareceu uma circurgia de emergência de madrugada, venha hoje para o hospital e me encontre no meu escritório para discurtirmos sobre suas aulas. Desculpe novamente por ontem, não sei o que deu em mim. Bjs seu Fê."

Seu fê? Sério isso Brasil!?

Saio do quarto com um sorriso no rosto, hoje o dia vai ser bom.

**

Chego ao hospital e vou direto para o andar da oncologia, chego ao balcão da recepcionista e pergunto onde é a sala do doutor Fernando.

- Agora ele está atendendo os internos, mas a sala dele é a 65, ali no final do corredor.

- Obrigada, posso esperar ele lá? É que ele é meu orientador, e nós combinamos de nos encontrarmos hoje, tem como? – pergunto como a cara do gato de botas.

- Senhora Clarice Schneider é você? Porque não falou antes dona? Ele já tinha falado sobre você, eu aviso quando ele chegar que a senhora está lá. – fala a senhora super fofa com aqueles óculos de vovózinha.

Vinho TintoOnde histórias criam vida. Descubra agora